Shadow Gangs | Análise / Review

Liderar a ordem ninja para restabelecer da paz mundial, este será nosso desafio em Shadow Gangs.


Desde que entrei no universo dos jogos digitais, uma de minhas maiores alegrias tem sido revirar as lojas em busca de jogos diferentes, que possam ter passado abaixo do radar.

Além disso, sou encantado pelo universo dos jogos independentes, pequenos estúdios têm trazido jogos cada vez mais impressionantes.

Por não terem os mesmos recursos financeiros dos grandes estúdios, naturalmente sobra menos dinheiro para investir em campanhas de marketing.

Como resultado de tudo isso, muitas vezes jogos mais divertidos que os de grandes empresas acabam não recebendo todo o amor que merecem, ou levando mais tempo do que deveriam para serem descobertos.

Encontrar e destacar jogos assim é uma de minhas motivações desde que criei a Bigode Games.

Numa dessas buscas encontrei Shadow Gangs, um jogo lançado em abril de 2020 e que esteve esse tempo todo “escondido” de mim.

Quando vi o trailer, minha atenção foi imediatamente fisgada.

Com um estilo que lembrava muito o amado Shinobi de Mega Drive, temática e gráficos repletos de referências a obras que marcaram minha infância, jogar Shadow Gangs tornou-se imediatamente minha prioridade.

Trago hoje esta análise para compartilhar minhas opiniões, e lhe ajudar a decidir se este é um jogo que você precisa conhecer e jogar.


A História de Shadow Gangs

Como um bom jogo ou filme de ação ao estilo anos 80 e 90, Shadow Gangs possui uma história direta, que trabalha primeiramente a favor da diversão.

No último milênio guerras foram uma constante no mundo todo, a humanidade era incapaz de alcançar a paz.

Neste cenário caótico, somente a ordem dos ninjas conseguiu resolver a situação.

Trabalhando nas sombras, os ninjas garantiram que o equilíbrio fosse mantido ao longo dos séculos.

Mas as coisas se complicaram: uma companhia chamada Shadow Force iniciou a fabricação de perigosos de robôs de combate.

Novamente o equilíbrio conquistado pela ordem dos ninjas estava em risco e deu-se então uma guerra entre ninjas e robôs.

Os ninjas venceram mais esta guerra, porém a batalha cobrou um alto preço e a ordem dos ninjas perdeu seu líder.

Além disso, apesar de o equilíbrio ter sido restabelecido, por muito tempo a ordem permaneceu fragilizada pelas baixas da guerra.

Diante do comando do mestre Dan, protagonista do jogo e sucessor na liderança da ordem dos ninjas, começaram a ocorrer eventos estranhos como o desaparecimento de membros da ordem.

Também de forma misteriosa, outros membros da ordem começaram a se revoltar contra seus próprios irmãos ninjas.

A razão permanecia desconhecida, mas a suspeita era de que novamente a corporação Shadow Force estava por trás de tudo, atuando através de seus membros, denominados Shadow Gangs.

Como se isso não bastasse, numa tentativa de intimidar e tirar o mestre Dan da jogada, os vilões sequestraram sua família.

Cabe ao mestre Dan e a nós, através do nosso controle, bater de frente contra a nefasta companhia e colocar um ponto final nisso tudo.

Essa história é contada através de uma cena de introdução ao melhor estilo dos jogos antigos.

E deixa claro que temos motivos de sobra para combater qualquer inimigo que fique em nosso caminho.


O Puro Suco Dos Anos 80 e 90

Uma rápida conferida no jogo irá mostrar que Shadow Gangs é fortemente inspirado em Shinobi, mais especificamente em Shadow Dancer.

Só isso já seria o suficiente para revirar as camadas mais profundas da saudade e da nostalgia.

Captura de tela de Shadow Gangs

Mas além disso, o jogo traz em si uma carga de referências que são muito familiares aos fãs desse estilo.

Enfrentamos ninjas com trajes de diferentes cores, lagartos humanoides, kunoichis, motoqueiros de gangues obscuras.

Num momento estamos lutando nas ruas de uma cidade, noutro em florestas e cavernas.

Shadow Gangs parece ter seguido uma lista de tudo o que mais gostávamos nas obras dos anos 80 e 90.

Constantemente o jogo nos presenteia com referências, disparando uma carga de nostalgia, e este é justamente um dos pontos mais divertidos da aventura.

Certamente muitas das referências fazem parte das memórias dos próprios desenvolvedores e não se limitam aos jogos ou a Shinobi.

Um bom exemplo é o vilão do jogo, que por algum motivo é a cara do Freddie Mercury, saudoso vocalista da banda Queen.

O vilão de Shadow Gangs
Luto por própria vida ou peço um autógrafo?
Foi o que se passou pela minha mente, quando enfrentei o vilão de Shadow Gangs.

Uma corporação maligna liderada por um sósia do Freddie Mercury parece “anos 80/90” o suficiente para você?

Shadow Gangs é claramente um trabalho de amor, feito por fãs dos clássicos como nós.

É o tipo de jogo que se virasse um filme, eu assistiria seguidas vezes.

Vai dizer que em algum momento de sua vida você já não sonhou em ser o líder de uma ordem ninja?


Gráficos

Outra coisa que chama a atenção logo no início é a parte gráfica.

Os desenvolvedores conseguiram encontrar um ótimo equilíbrio entre o moderno e o clássico.

As animações são excelentes, além de lembrarem bastante o próprio Shinobi em diversos momentos, conforme dito anteriormente.

Pessoalmente gostei muito do design dos inimigos e dos cenários.

Captura de tela de Shadow Gangs na fase da floresta

Se os gráficos lhe parecerem modernos demais, há uma parte no menu de opções dedicada exclusivamente a efeitos de tela.

Neste menu não apenas é possível ligar scanlines, como também definir os detalhes e intensidade do efeito.

Existe ainda um outro efeito de bordas, que simula a tela de fliperamas ou televisores antigos.

Confesso que nunca tinha visto um menu dedicado exclusivamente a isso em nenhum outro jogo, não com esse nível de detalhamento e quantidade de opções.

Em resumo, de um modo geral o jogo é tão bonito em movimento quanto nas capturas de tela.


Jogabilidade

De nada adiantaria o jogo ser bonito e nostálgico, se não fosse bom de jogar.

A primeira coisa a dizer é que para nossa alegria Shadow Gangs possui controles muito bem ajustados e precisos.

Perder muitas vidas e continues fará parte do jogo, mas fique tranquilo pois não será por culpa de problemas de precisão dos controles.

De modo geral as mecânicas também lembram muito as do clássico Shadow Dancer, inclusive com plataformas diferentes no cenário, que acessamos com a combinação cima + pulo ou baixo + pulo.

Mas existem outros detalhes que conferem camadas adicionais de complexidade.

O principal deles é o sistema de trajes, ou o que eu chamaria de “modo ninja”.

Nosso personagem começa cada fase com uma roupa normal, ao melhor estilo lutador de rua.

Quando estamos com o traje normal, nosso personagem atira estrelas ninja, dando socos e chutes quando nos aproximamos de inimigos.

Em algum lugar da fase poderemos encontrar um item que nos dará o traje ninja, um momento que inclusive traz uma uma animação de transição muito legal.

Como ninja, nosso personagem usará uma arma de fogo que possibilitará tiros mais rápidos e difíceis de defender, ganhará pulo duplo e uma espada, para destruir quem estiver perto.

Existe ainda o recurso de minas terrestres e o de magia, ambos disponíveis em quantidades limitadas e somente utilizáveis quando estamos no modo ninja.

Ou seja, a diferença entre o modo normal e o modo ninja muda bastante a dinâmica do jogo, algo que fica ainda mais perceptível nos níveis mais avançados.

Ainda assim, quem deseja um jogo ao melhor estilo arcade, com uma jogabilidade simples e direta, certamente ficará satisfeito.

Toda a ação se dá através dos direcionais, um botão de pulo, um de ataque, um de magia e um para as minas terrestres.

Com uma boa variedade de fases e inimigos, nossos reflexos serão constantemente colocados à prova.


Música e Efeitos Sonoros

Shadow Gangs tem uma excelente trilha sonora, com músicas que capturam a essência do jogo e não deixam o ritmo cair.

Cada uma das faixas mantém o ótimo nível de qualidade.

Os efeitos sonoros também são muito bons e alguns chegam a lembrar os efeitos dos jogos clássicos, mantendo a nostalgia em alta.


Dificuldade e Sistema de Progressão

Como dito antes, Shadow Gangs é um jogo moderno que mantém um estilo clássico, então podemos esperar um nível de dificuldade acima da média dos jogos atuais.

Fiquei muito curioso para descobrir como o jogo entregaria um nível de dificuldade que agradaria aos jogadores clássicos, ao mesmo tempo em que não o tornaria frustrante para jogadores mais novos.

E os desenvolvedores se saíram muito bem por aqui também.

Existem dois modos de jogo: “Start Game” e “Mission Select”.

O modo Start Game, como o nome sugere, inicia o jogo desde a primeira fase.

Já o modo Mission Select, que também possui um nome sugestivo, nos permite selecionar missões.

O detalhe é que só podemos selecionar as missões pelas quais já passamos.

Desta forma, caso deseje jogar do jeito tradicional, indo do início ao fim numa única partida, o modo Start Game está lá. Ele é basicamente o modo arcade.

Caso contrário, o modo Mission Select lhe permitirá continuar o jogo da missão em que parou.

Cada missão é composta de dois níveis e um chefão.

Sempre que escolhermos uma missão no modo Mission Select, iniciaremos de sua primeira fase.

A progressão durante as missões e fases, por outro lado, é mais compreensiva.

Existem checkpoints e enquanto alguns tipos de inimigos reaparecem infinitamente, outros não mais retornam uma vez que tenham sido exterminados.

Caso perca uma vida ou pegue um “continue”, o jogador não voltará ao início da missão, ao invés disso continuará de onde parou.
Os inimigos específicos já derrotados também não voltarão mais, mesmo após o uso de um “continue”.

A maior parte dos inimigos aparecem em momentos e locais marcados, então esteja pronto para boas armadilhas e emboscadas.
É importante observar que apesar da dificuldade, o balanceamento entre tipos e padrões de inimigos é excelente, exigindo um constante estado de alerta.

Temos ainda as fases bônus, que quando concluídas com sucesso nos recompensarão com vidas, magias e unidades de minas terrestres, ou até mesmo vidas extras.

Estas fases bônus são de dois tipos diferentes, aparecendo em momentos distintos.

Uma surge ao encontrarmos um item específico durante as fases normais.

A outra aparece nas passagens de níveis, durante as missões.

Ambas são muito interessantes e diferentes entre si.

Outro ponto muito positivo é o design dos chefes.

Todos possuem padrões e ataques bem diferentes uns dos outros, cada um deles exigirá um novo aprendizado.

Em resumo, o sistema de progressão é muito bem desenhado, proporciona um ótimo desafio sem precisar ser frustrante.

Por fim, é importante dizer que existem três níveis de dificuldades e que cada um deles interfere bastante em tudo o que foi descrito acima.

Mas é seguro dizer que mesmo na dificuldade mais baixa, o jogo não entregará nada de graça.


É uma Experiência Perfeita?

Não há como negar que os desenvolvedores foram extremamente fiéis ao seu público alvo e criaram uma autêntica experiência arcade.

É possível observar que para atingir este objetivo, foram feitas algumas escolhas, que trouxeram consigo algumas implicações.

Não diria que são pontos negativos, apenas alguns tópicos dignos de nota.

1- Resolução Da Tela
Os gráficos do jogo foram desenvolvidos para a escala 4:3, também conhecida como letterbox.
Isso não é nenhum problema se mantivermos a resolução padrão do jogo.
Você não terá nenhum problema mesmo em monitores widescreen, haverão aquelas faixas pretas nos lados, mantendo a tela “quadrada” e na proporção ideal.

Entretanto, por ser um jogo em 2D, isso significa que caso o jogador opte por ativar a opção “wide” (16:9), os gráficos ficarão com um aspecto esticado.

2-Modos De Jogo e Fator Replay
Assim como nos jogos clássicos de arcade, o fator replay não gira em torno de diferentes modos de jogo.

Não espere por modos que fujam do escopo principal ou tentem reinventar a roda, somente para ampliar o conteúdo artificialmente.

Pessoalmente achei que os dois modos de jogo são suficientes e entregam uma experiência completa.
E que o fator replay reside no quanto o jogador realmente gostou do jogo e de suas mecânicas.
Caso tenha gostado, o jogador com certeza vai querer terminar Shadow Gangs várias vezes.

Dito isso, existem sim recursos de jogos modernos, que nos incentivarão a voltar ao jogo.
Temos segredos escondidos nas fases, conquistas e até mesmo placar de líderes, para aqueles que gostam de uma boa competição.

Mas a parte mais suculenta está nas mecânicas de jogo e em repetir as partidas.


Precificação Regional

Diante do cenário complicado que temos em nossa região devido à valorização do dólar, o preço de Shadow Gangs atualmente encontra-se numa faixa pouco convidativa, podendo até se tornar um obstáculo para muitos jogadores.

Ainda que o preço esteja elevado no momento, jamais ousaria dizer que Shadow Gangs não vale o que é cobrado.

Há muito amor e competência envolvidos no desenvolvimento deste jogo.

Claro que o melhor cenário seria termos um preço acessível por aqui, algo que possibilitaria que mais pessoas conhecessem e jogassem esta pérola.

Mas nada disso deve diminuir os méritos dos desenvolvedores e da qualidade da experiência oferecida por Shadow Gangs.

Sinceramente não vejo outro motivo que não seja o preço para que aqui no Brasil, um território que foi da SEGA por um bom tempo, um jogo como Shadow Gangs não tenha se tornado amplamente conhecido.


Versão Para SEGA Dreamcast

Isso mesmo, em 2022 o SEGA Dreamcast ganhou um jogo inédito!

Quando encontrei Shadow Gangs e comecei a pesquisar sobre ele, fiquei surpreso ao descobrir que após seu lançamento foi criada uma campanha no Kickstarter, para trazê-lo oficialmente ao Dreamcast.

A campanha foi concluída com sucesso no começo de 2022.

Um fato muito curioso, que mostra o tanto de amor que foi depositado em Shadow Gangs.


Conclusão

Posso afirmar que me diverti com Shadow Gangs do começo ao fim.

Me alegrei encontrando cada referência, e com o estilo dos jogos clássicos que cresci jogando.

Fazia tempo que um jogo não me deixava com um sorriso no rosto por tanto tempo.
Gostei de absolutamente todas as fases, não teve nenhuma que me fez perder a empolgação.

Shadow Gangs não esconde suas inspirações, mas é sem dúvidas um jogo que usa a nostalgia a seu favor, da maneira certa.

Não se trata de uma cópia barata, feita somente para tirar proveito dos fãs de Shinobi e dos clássicos dos fliperamas.
Os desenvolvedores se inspiraram numa fórmula conhecida, mas também deram um toque pessoal a ela, trazendo uma nova abordagem.

E isso é fundamental num jogo desse tipo.

Sinto muita satisfação em poder dizer que Shadow Gangs é um jogo digno, que vai matar sua saudade de Shinobi e muito provavelmente ganhar um espaço em seu coração, junto aos clássicos.
É como se Shinobi tivesse recebido uma sequência.

Quanto vale para você jogar um jogo inédito e divertido, que honra a paixão dos fãs de Shinobi?

Quanto você pode ou gostaria de apoiar um desenvolvedor que teve a coragem e a dedicação para criar um jogo como este nos dias atuais? Um jogo fiel ao seu público.

A resposta para essas duas perguntas irá definir se vale ou não a pena para você começar a jogar Shadow Gangs agora mesmo.

É possível afirmar com segurança que é um daqueles jogos feitos de fã para fã, que transparece amor em cada pequeno aspecto.
Controles precisos, dificuldade na medida e ótima duração para um jogo do gênero.

Shadow Gangs cumpre muito bem tudo aquilo a que se propõe, entregando uma experiência concisa e extremamente divertida.

Trouxe a mesma alegria de jogar um legítimo e inédito jogo de fliperama, diretamente de minha própria casa.

Um de meus maiores parâmetros para medir a qualidade desse jogo foi imaginar que se eu tivesse jogado este título no meu Mega Drive quando garoto, certamente teria ficado maluco de alegria.

Shadow Gangs me causou uma sensação de “volta para casa” como poucos jogos fizeram.

É uma recomendação fácil e certeira para fãs de jogos retro, que também tem um enorme potencial para construir pontes, levando novos jogadores a experimentarem jogos clássicos.


NOTA FINAL

93/100


Em nome da transparência, informo que a chave do jogo foi gentilmente cedida pelo desenvolvedor, possibilitando a realização desta análise.
Este fato não influenciou o conteúdo de forma alguma.

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