Huntdown | Análise / Review

Huntdown expande uma fórmula clássica, tirando proveito de conceitos modernos.
Confira a análise desta joia rara, que vai muito além de uma viagem nostálgica.


Em algum lugar do futuro as nações colapsaram.

A violência toma conta das ruas, dominadas por gangues de criminosos que brigam entre si e não respeitam mais nenhuma autoridade.

Do outro lado, megacorporações oferecem proteção e trabalho para os cidadãos comuns, ou pelo menos aqueles que se submeterem às suas políticas.

Surgem então os mercenários: aqueles que não seguem o caminho do crime e nem o da submissão, buscando os melhores contratos e sendo leais apenas ao lucro.

Atuando de forma independente, tornam-se a maior esperança de uma limpeza neste cenário caótico, numa constante caçada.

Além de justificar o título do jogo e dar uma prévia de sua essência, logo de cara a história de fundo de Huntdown nos faz lembrar de uma porção de obras dos anos 80 e 90.

Uma sociedade violenta e sem esperança onde o caos é combatido com a desordem, e a tecnologia contrasta com decadência e depredação.

A nostalgia dá o tom em todos os aspectos, inclusive no estilo do jogo.

Huntdown utiliza a clássica fórmula de tiros e plataformas em 2D, também conhecido por muitos como run n’ gun ou qualquer termo similar.

Entretanto, o maior mérito dos desenvolvedores está no modo como eles pegaram esta fórmula clássica e repleta de nostalgia, sem abrir mão da tecnologia atual.

É como se Huntdown fosse literalmente um jogo clássico, daqueles que jogávamos na geração 16 bits, mas sem nenhuma amarra ou limitação técnica daquela época.

Esta combinação vem acompanhada de um nível de capricho e polimento raramente visto no mundo dos games.


Que Comece a Caçada

Quando falamos em fórmulas clássicas, podemos partir do princípio que simplicidade e diversão andam de mãos dadas.

Huntdown segue essa mesma linha e controlar nosso personagem exige apenas o direcional, um botão de pulo, um de tiro, um de ataque especial e um botão de esquiva.

Sem precisar de combinações mirabolantes nos controles, vamos nos deslocando pelas plataformas dos cenários e trocando tiros com a bandidagem.

Controles simples, porém extremamente precisos e bem ajustados.

Um dos maiores destaques por aqui fica por conta do ritmo de jogo.

Clássicos de tiros e plataformas em 2D como Contra e Metal Slug induzem o jogador a se manter em constante movimento, muitas vezes com o surgimento de inimigos infinitos.

Screenshot de Huntdown

Huntdown parte para um lado mais estratégico, onde o jogador fica livre para explorar trechos e andares do cenário, sem pressa de progredir.

Não podemos ir e voltar pela fase toda a qualquer momento, pois conforme progredimos ocorre a delimitação de uma nova área de ação, porém temos liberdade total dentro do trecho corrente.

Como os inimigos não surgem infinitamente, essa liberdade de movimentação dá margem para resolvermos uma mesma situação de várias formas diferentes.

Outro fator que agrega ainda mais variedade à forma como resolvemos estas situações de jogo, são os três personagens selecionáveis.

Todos eles se comportam da mesma maneira, possuem os mesmos atributos de movimentação, mas a diferença fica por conta de suas armas, primária e secundária.

Os inimigos também possuem uma ótima variedade, com padrões distintos de ataques, diferentes armas e estratégias.

Existe ainda uma boa quantidade de armas que podemos encontrar pelos cenários.

Metralhadoras e shotguns por exemplo, ocupam o lugar de nossa arma primária, enquanto granadas e até mesmo tacos de hóquei ocupam o espaço da arma secundária.

Estas armas adicionais possuem munição limitada, mas podemos alternar a qualquer momento entre uma arma especial e a arma padrão de nosso personagem, que possui munição infinita.

O jogo brilha sob essa dinâmica de nosso personagem batalhando com os diferentes inimigos, buscando pontos estratégicos e armadilhas espalhadas pelos cenários, utilizando diferentes armas.

Este conjunto de elementos interagindo em tempo real torna única a jogabilidade de Huntdown.

Inúmeras situações diferentes poderão acontecer num mesmo cenário, tornando cada partida diferente, mesmo dentro da simplicidade de um jogo de plataformas.

Para finalizar a lista de peculiaridades de Huntdown, rigorosamente todas as fases possuem um chefão.

Cada fase é território de um líder de gangue, o qual fomos contratados para caçar.

Vamos eliminando todos os integrantes da gangue até chegarmos ao seu líder e cumprirmos aquele contrato, passando para o próximo.

Com estas mecânicas funcionando perfeitamente e a jogabilidade sólida colocando o personagem nas mãos do jogador, a diversão é garantida.


Apresentação Impecável

Gráficos, e efeitos sonoros trabalham em conjunto para atingir o máximo potencial.

A pixel art deste jogo é uma das mais bonitas que já vi, contando também com animações e efeitos de alta qualidade.

A incrível trilha sonora ajuda a compor uma ambientação perfeita para o estilo do jogo, enquanto a dublagem traz personalidade a protagonistas, chefes e inimigos.

Algo nas falas e efeitos sonoros traz aquela sensação de que estamos vendo um filme antigo, uma sonoridade que foge dos padrões atuais, mas que ao mesmo tempo parece familiar.

A interface traz um nível de detalhamento muito interessante.

Desde a tela do computador que acessamos antes das missões, onde consta a história do chefão que estamos caçando, até o retrato do nosso personagem ao lado da barra de vida, que vai ficando machucado conforme sofremos danos.

Apesar do clima pesado e da violência, existe humor em Huntdown.

O cuidado na criação de personagens e inimigos fica ainda mais evidente através de falas bem escritas e textos complementares caprichados.

A praticamente todo momento nosso personagem ou nossos inimigos estão falando, algo que torna toda a ação que ocorre em tela ainda mais viva.

É muito legal ler a ficha do chefão antes de começar uma fase e quando ele começa a falar durante a batalha, percebermos que realmente se parece com aquela pessoa que estava ali descrita.

Ou então quando nosso personagem aleatoriamente solta alguma piadinha ao melhor estilo Duke Nukem.

Espere encontrar muitas referências a filmes e jogos por aqui, tanto no design de fases e personagens, quanto alguns easter eggs.

Em resumo, a apresentação do jogo é impecável, evidenciando atenção extrema aos detalhes.


Modos de Jogo e Fator Replay

Talvez o ponto que causa mais divergência seja a duração do jogo.

Ao todo Huntdown tem 20 fases, o que para os padrões atuais pode parecer ser pouco.

Pessoalmente considero a duração muito boa para um jogo desse tipo, principalmente porque Huntdown coloca qualidade acima da quantidade.

Em momento algum as partidas ficam monótonas, existe muita variedade nos visuais de fases e inimigos, bem como nos chefes e seus padrões.

Lembrando que cada uma das 20 fases possui um chefe e todos são bem diferentes uns dos outros.

Claro que se o jogo tivesse mais fases e modos de jogo ninguém iria reclamar, mas não é algo que necessariamente pese contra.

Ao todo temos dois modos de jogo e quatro níveis de dificuldade, sendo que um destes é desbloqueável.

No modo história, como o nome sugere, passamos por todas as fases curtindo as cenas de corte e o desenrolar da trama.

Para completar 100% neste modo, somos desafiados a cumprir três objetivos adicionais, em cada uma das fases: eliminar todos os inimigos daquela fase, coletar três maletas escondidas pelo cenário e completar o nível sem perder nenhuma vida.

São tarefas opcionais, servindo apenas para aqueles que quiserem um desafio extra ou para os complecionistas.

O modo Arcade, por sua vez, é uma variação onde andamos pelas mesmas fases do modo história, tentando terminar no menor tempo e com a maior pontuação.

Este nosso recorde vai para um placar de líderes, ao estilo dos fliperamas.

Uma ótima surpresa é que ambos estes modos podem ser jogados cooperativamente, no multiplayer local.

Há um equilíbrio que faz com que o jogo não seja enjoativo, não se torne longo demais e ao mesmo tempo faz o jogador sentir vontade de continuar jogando após terminar.

Sendo assim, diria que a questão não é a falta de conteúdo e sim aquela sensação de que o maior defeito de um jogo bom é que ele acaba.


Huntdown

Desde o momento que iniciamos o jogo, fica evidente que os desenvolvedores tinham uma ideia muito clara do que queriam fazer.

Uma das possíveis explicações para que Huntdown não seja tão conhecido quanto merece é que inicialmente ele foi lançado com a polêmica exclusividade temporária.

Durante um ano o jogo esteve “preso” à plataforma Epic Games, passando abaixo do radar de muita gente, ao mesmo tempo em que deixou os fãs da plataforma Steam furiosos.

Esse tipo de polêmica parece estar diminuindo com o tempo, e não há como dizer até que ponto isso afetou do jogo, mas é seguro afirmar que de alguma forma impactou negativamente.

Huntdown ficou por um bom tempo encostado em minha biblioteca, mas quando decidi finalmente começar a jogá-lo, fui sugado para dentro do jogo e não queria fazer outra coisa.

Algo nele fez que eu sentisse como se estivesse novamente ligando meu Mega Drive, num sábado de manhã ensolarado.

Talvez porque sua jogabilidade autêntica me lembrou de clássicos como Judge Dredd e Broforce, talvez porque sua ambientação constantemente me fazia lembrar de alguns de meus filmes e jogos favoritos.

Ou talvez seja uma soma de tudo isso com o fato de que apesar de ser um jogo novo com “alma” de jogo clássico, Huntdown tem personalidade própria.

Este jogo leva sua nostalgia a sério, da melhor maneira possível.

É uma recomendação fácil por sua qualidade, e fica mais fácil ainda porque seu preço continua extremamente justo em vista da qualidade da experiência que tem a oferecer.


NOTA FINAL

91/100


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