Sobre o Valor e o Preço de um Jogo

Como todos sabem, está cada vez mais complicado acompanhar os lançamentos de jogos aqui em nosso país.

A alta do dólar, somada ao reajuste geral de preços de jogos que já vinha sendo pedido pelos desenvolvedores a muito tempo, tem tornado este hobby ainda mais caro em vários lugares do mundo. No Brasil não é diferente, fomos “contemplados”.

Se você for jogar no PC e montar um equipamento que aguente rodar jogos atuais, ainda terá que lidar com o alto valor das peças, inclusive com a disparada dos preços de placas de vídeo, ocasionado pela mineração de criptomoedas.

Correndo por fora, ainda temos outros gastos e detalhes que interferem nos preços, mas acho que já deu para entender que estamos todos ferrados.

De certa forma quem gosta de videogames aqui no Brasil já sabe que sempre foi assim. A indústria evoluiu, algumas coisas melhoraram e chegamos até a ter um período onde quase tudo ficou favorável. Mas a alegria durou pouco.

Muitas plataformas reconhecem isso e praticam os “preços regionais”, pelo menos na distribuição digital. Com os produtos físicos mesmo se houver algum ajuste do tipo, ele raramente chega no consumidor final, então não dá para contar muito com isso.

Na prática dos preços regionais, as plataformas de distribuição adaptam o preço dos produtos a um valor mais compatível com a realidade de um país ou região, teoricamente lucrando menos, mas não deixando de vender por ali. E mesmo assim muitas vezes isto não é o suficiente, precisamos sempre escolher com cuidado ao realizar nossas compras, para que o arrependimento não venha logo depois.

Como diriam os antigos: “Dinheiro não aceita desaforos”, então é recomendável mesmo para os ricos de plantão, que não saiam por aí comprando um produto por um preço cinco ou seis vezes maior do que ele realmente vale.

Desta necessidade de saber mais sobre um jogo sem ter que compra-lo, surgiu praticamente um novo mercado.

Desde muito tempo atrás este era um papel cumprido pelas revistas (com o perdão do trocadilho), mas hoje é tudo ainda mais fácil, com sites e até mesmo canais que fazem análises e informações pipocarem por todos os lados, muitas vezes até mesmo antes do lançamento oficial de um novo jogo.

Claro que não é um sistema a prova de erros ou que resolve tudo de maneira fácil. Afinal estamos lidando com opiniões de outras pessoas, que podem cometer equívocos ou mesmo terem opiniões bem diferentes das nossas.


Existe também a possibilidade de que a pessoa que analisou um jogo não esteja sendo completamente transparente, e por algum motivo que não sabemos acabou dando a recomendação máxima para um jogo que saiu todo quebrado.

Na época das revistas isto poderia se tornar um problema bem maior, mas hoje em dia a quantidade de informações acaba minimizando. Possibilitando que por si só o consumidor busque diversas opiniões, de veículos de todos os portes.

Mas as análises duvidosas também não são o nosso assunto de hoje.

Nosso assunto aqui é um desafio que continua bastante atual: a busca por critérios que sejam precisos o suficiente para detalhar da forma mais objetiva possível o real valor de um jogo. Para que fique totalmente em suas mãos a decisão de pagar ou não o preço que estão pedindo pelo mesmo.


Analisando o investimento em um jogo

A primeira coisa importante a se destacar é que esta é uma discussão que aparentemente nunca terá fim. Desta forma, nosso objetivo aqui não é resolver em definitivo este assunto, mas somente falar mais sobre a maneira como nós vemos isso, nossa opinião pessoal e nossos próprios critérios.

Atualmente o mais comum é avaliar um jogo principalmente pela “quantidade de horas” que ele oferece. Se um jogo oferece muitas horas de jogo, teoricamente possui um vasto conteúdo e justifica o investimento.

Não deixa de ser um critério válido e pode funcionar muito bem em alguns casos, mas parece ser um problema quando você tenta aplicar este mesmo método para um jogo independente, por exemplo, que comumente é feito com um orçamento muito menor que o das grandes desenvolvedoras.

Ou mesmo porque algumas grandes desenvolvedoras, percebendo esta tendência, já começaram a inflar artificialmente o conteúdo de seus jogos, usando de artifícios como colecionáveis ou algum outro tipo conteúdo que precise ser menos trabalhado. Desta forma o jogo ganha muitas horas adicionais quase que instantaneamente. Mas será que neste caso isto vai realmente melhorar a sua experiência?

Ainda assim vai de cada um. Existem pessoas que amam colecionáveis e para estas isso é um prato cheio, mas partir do princípio que somente espalhar centenas de itens pelo mapa vai gerar valor para todo mundo, e usar isso como base para justificar falta de desenvolvimento nos parece um pouco exagerado.

O que fazer então? Confiar cegamente na opinião do meu canal ou site favorito?

Se não há como a experiência da pessoa que analisou ser exatamente a mesma que a sua, parece um pouco arriscado apostar que somente porque o jogo recebeu uma nota máxima desta pessoa, você com certeza também irá se divertir horrores. Ainda que encontrar alguém cuja opinião se pareça com a sua possa ser algo bastante útil.

Percebe como é complicado?

Permita-me compartilhar um pouco sobre o método que nós aqui da equipe Bigode Games usamos em nosso dia-a-dia, não somente no site como também em nossas decisões pessoais ao escolher nossos jogos.


O valor e o preço

Depois de quebrarmos muito a cara e de muita reflexão, chegamos à conclusão de que a primeira coisa a ser feita é traçar uma linha bem visível entre o valor e o preço, que comumente são misturados ou confundidos. Mesmo sendo algo meio óbvio e tendo isso em mente, é bem fácil confundir as duas coisas.

1- O preço:

É algo objetivo, pode ser quantificado. É o mesmo para todo mundo que for comprar o produto no mesmo momento que você.

2- O Valor:

O valor é totalmente subjetivo, não há como medir o valor real de um jogo para todo mundo, já que o mesmo difere para cada pessoa. É basicamente a qualidade e o volume da experiência que o jogo poderá proporcionar para cada indivíduo. Somente a própria pessoa poderá quantificar.

Sendo assim o nosso método é primeiramente ter isso fixo na mente e ao olhar para um novo jogo, buscar um equilíbrio entre estes dois pontos. Um equilíbrio que para nós faça sentido.

Por exemplo, para tentar identificar melhor o valor que um jogo poderá trazer me trazer, faço algumas perguntas do tipo:

– Eu realmente gosto do tipo deste jogo?

Se eu não for um grande fã de jogos em primeira pessoa, por exemplo, será bem mais difícil que um jogo deste tipo me traga uma experiência memorável.

– Eu mais assisto ou jogo?

Se eu costumo gostar de jogos que tenham mais ação do que história, por exemplo, é mais provável que acabe abandonando um jogo que possua longos segmentos de história não interativa, por melhor que este jogo seja.

– Quão único é este jogo?

Olhando para o jogo consigo perceber se tem algo realmente único nele? Alguma mecânica nova ou algum detalhe que eu não encontre em nenhum outro lugar ou que seja raro encontrar? Uma mistura de elementos que poucos ousaram fazer?

Se o jogo não faz nada diferente não quer dizer que ele não será excelente, mas com certeza possibilita que a maioria das coisas que ele faz já tenham sido feitas de uma melhor maneira em outro título.

Aqui eu vou citar até um exemplo prático: a mecânica de rivalidades de Shadow of Mordor. É algo que interfere diretamente na qualidade da experiência e que até hoje não encontrei nada parecido em nenhum outro jogo. Naturalmente vejo como um grande ponto a favor.

– É um jogo de uma grande desenvolvedora ou é um jogo de um estúdio menor?

Sempre me pergunto isso para que possa haver um ajuste de expectativas.

Por exemplo, um jogo independente muitas vezes traz ideias e mecânicas experimentais, se arrisca mais. Pode ter uma duração bem menor, mas oferecer uma experiência intensa e única durante todo o tempo em que durar.

Da mesma forma um jogo de grande porte pode oferecer uma experiência visual e uma história tão bem produzidas que dificilmente algum jogo independente conseguirá alcançar sem os mesmos investimentos.

E assim por diante. Você mesmo pode repetir para si mesmo estes questionamentos e sempre que possível pensar em suas próprias questões.

Perguntas que possam lhe ajudar a detectar e entender da maneira mais aproximada possível as chances de que aquele jogo se torne uma experiência inesquecível para você. Que ajudem a estimar o valor que determinado jogo pode ter para você enquanto pessoa, dentro de seus gostos pessoais.

Fique atento também para não cair na empolgação das propagandas, que acontece especialmente no período de lançamento e causa euforia generalizada, também conhecido como “hype”. Pode acreditar, o marketing dos jogos está cada vez mais afiado.

Criar empolgação demais ao ver trailers e propagandas pode te cegar em relação aos critérios. As distribuidoras sabem disso e ouso dizer que atualmente existem algumas que até tiram dinheiro do orçamento do jogo para investir em marketing, buscando assegurar boas vendas mesmo para um jogo que deveria ter sido melhor acabado.

Saber a duração média que um jogo tem é sim um critério extremamente válido. Que pode se tornar especialmente importante em alguns tipos de jogos. Mas é sempre importante tentar descobrir de que maneira você passa estas horas dentro do jogo e se está tudo compatível com o que você espera.

Em posse de uma estimativa do valor que aquele jogo poderá ter para você e convencido de que já possui informações suficientes, restará apenas confrontar o valor com o preço, para saber se além de estar dentro de seu orçamento, você estará disposto a pagar o que estão pedindo, se aguardará uma promoção ou se simplesmente poderá pular este jogo.

Pode acontecer alguma exceção, existem jogos tão épicos que a grande maioria vai gostar e conseguir obter uma experiência acima da média. E que mesmo sem acreditar nisso você também seja surpreendido se der uma chance.

Mas pode apostar, se você tiver os critérios certos poderá até acontecer de você pagar um preço por um jogo e achar que ele vale bem mais do que aquilo. Porém será muito mais difícil você comprar e sentir que ele vale menos ou que simplesmente não vale a pena.


Conclusão

Talvez para algumas pessoas isso tudo que falamos aqui seja simples demais ou até óbvio, mas achamos que seria legal levantar este assunto. Possivelmente ajude algumas pessoas a pelo menos pararem para refletir um pouco.

Temos algumas análises em andamento e nem nós mesmos recomendamos que nossas próprias análises sejam seguidas cegamente, sem nenhum tipo de reflexão.

Inclusive é por isso que gostamos muito de acrescentar nossas experiências pessoais que tivemos com determinado jogo, não colocando os critérios técnicos em primeiro lugar. Acreditamos que contar mais sobre nossas próprias experiências possa ajudar você a estimar um pouco melhor quais poderão ser as suas próprias experiências.

Por fim, acho que se tem uma coisa que praticamente todos nós podemos concordar, é que quanto maior o preço que a desenvolvedora pede por um jogo, mais rigor deve ser colocado em uma análise.

Então por enquanto é isso, pessoal.

E você, tem algum critério diferente? Alguma sugestão que anule ou complemente os nossos métodos? Conte-nos mais!

Abraços e até a próxima!

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