Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge trouxe de volta nossas queridas Tartarugas Ninja.
Será que nossos heróis ainda dão conta de salvar Nova York?
Me lembro que pouco tempo após o lançamento do incrível Streets of Rage 4, a própria DotEmu apareceu com uma imagem anunciando o desenvolvimento de um novo jogo das Tartarugas Ninja.
As tartarugas já passaram por diversas adaptações, com grandes mudanças em seus visuais, algo natural para personagens criados no ano de 1983.
Certamente isso colaborou para que elas continuem sendo relevantes até hoje, porém muitos fãs (talvez a maioria) ainda sentem falta dos visuais e do carisma presentes nas versões antigas.
Também tiveram passagens memoráveis nos videogames, mas da mesma forma, seus melhores jogos ficaram no passado.
Após tudo o que a DotEmu fez com outros clássicos e após ressuscitar Streets of Rage, vê-la envolvida num novo jogo das Tartarugas nos trouxe muita alegria e esperança.
Certamente eles buscariam referências no passado, na fase de maior sucesso desses queridos personagens.
Desta vez, o estúdio Tribute Games foi o encarregado da missão de desenvolvimento do jogo.
Um estúdio que vem fazendo um trabalho de qualidade a muito tempo, claramente alinhado a este ideal de unir fórmulas antigas a recursos modernos, como seu próprio nome sugere.
Será que a união entre Tribute Games e DotEmu conseguiu trazer as Tartarugas de volta aos dias de glória?
Será que todas as respostas estavam mesmo no passado?
É o que veremos a seguir.
Os Gráficos
Difícil discordar que a primeira coisa que chama a atenção neste jogo é sua qualidade gráfica.
Não só pela decisão de terem mantido a tradicional pixel art, ao invés de seguir uma direção mais moderna como a de Streets Of Rage, mas também porque são gráficos realmente bonitos, bem animados e com grande atenção aos detalhes.
Você já tentou fazer pixel art alguma vez na vida?
Se você tentar um dia, vai entender ainda melhor a grandiosidade do trabalho que foi feito aqui.
É muito legal ver tudo em movimento, observar como cada personagem transparece personalidade em suas expressões e posturas.
Os cenários também são variados, repletos de animações, referências e surpresas.
Observar tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo na tela é realmente um espetáculo raramente visto em jogos de pixel art.
É interessante observar que a decisão de manter os gráficos em pixel art com certeza não teve a ver somente com a nostalgia.
Todo este capricho empregado na parte gráfica resultou num jogo extremamente leve, algo fundamental para o multiplayer, como veremos mais adiante.
História e Jogabilidade
Quem conhece as Tartarugas Ninja sabe que mesmo tendo a luta do bem contra o mal como peça central, sempre trazem uma boa dose de humor e leveza, com uma violência mais animada do que realista.
A história do jogo é bem simples e mantém o padrão que já esperamos de um desenho das Tartarugas, nada que irá explodir cabeças ou fazer mais do que servir como plano de fundo.
O que neste caso podemos considerar como sendo algo bom.
É um jogo feito para todas as idades.
Isso também se reflete na jogabilidade, que é simples a ponto de qualquer pessoa conseguir jogar, mas sem ser rasa demais a ponto de fazer veteranos perderem o interesse.
É possível terminar o jogo fazendo somente movimentos básicos, ou então aprendendo a fazer combos bonitos e impressionantes.
Temos aqui o bom e velho sistema de camadas, onde tudo é “fácil de aprender, difícil dominar”.
O ritmo de jogo é acelerado, bem rápido.
Os controles são bem ajustados, permitindo uma movimentação precisa e recompensando os jogadores mais habilidosos, algo fundamental num beat ‘em up.
Além de golpes básicos, nossos personagens possuem movimentos de pulo, voadora, esquiva, arremetida e o clássico “agarrão”.
O golpe especial é acionado com um botão específico e habilitado através de uma barra dedicada.
Quando ela estiver cheia, podemos usar o especial sem nenhuma compensação do tipo custo de energia ou tempo de carregamento, como estamos acostumados a ver em outros jogos.
Existem duas maneiras de encher esta barra.
Uma delas é conseguir bater nos inimigos até que ela encha, mas sem levar nenhum golpe.
Se conseguirmos manter uma boa sequência sem apanhar de ninguém, a barra vai encher, caso contrário ela esvaziará e teremos que tentar novamente.
A outra é através de um botão de provocação.
Cada personagem possui sua própria animação de provocação, e se conseguirmos terminá-la sem nenhuma interrupção, a barra também encherá.
Um ponto muito interessante é que no modo história existe um sistema de evolução de personagens.
Vamos passando as fases, cumprindo desafios e com isso ganhando pontos, que fazem nossos personagens subirem de nível.
Cada personagem pode ir do nível 1 ao 10 e a cada nível ganhamos um prêmio diferente, como por exemplo uma barra maior de vitalidade ou até mesmo mais níveis na barra de especial.
Chegando no último nível teremos nosso personagem com seu set de movimentos completo, em seu máximo potencial.
O contador de hits tem um tempo bem generoso para continuarmos nossos combos entre uma tela e outra, o difícil mesmo é ficar muito tempo sem levar uma pancada.
Com tudo isso, posso afirmar com segurança que este jogo possui uma base bastante sólida.
A atenção aos detalhes e o carinho em cada pedaço deste jogo é fora do comum.
Não é uma missão fácil respeitar a obra clássica, ao mesmo tempo em que a missão é trazê-la para um novo público.
É algo que exige extrema sensibilidade e bom senso.
Um detalhe que pessoalmente observo muito nos beat ‘em ups e que muitos deles não conseguem proporcionar, é a sensação de impacto a cada golpe.
Aquela combinação entre as partes visual e sonora, que fazem você sentir que está golpeando alguém com maior ou menor intensidade.
Não é nada simples fazer isso, especialmente em 2D, mas sem dúvidas é fundamental para que um beat ‘em up se torne viciante.
É algo que os clássicos Streets of Rage já faziam, que Streets of Rage 4 fez com maestria e que Tartarugas Ninja Shredder’s Revenge também conseguiu fazer com excelência.
Tanto faz se você está fazendo um combo gigante ou uma sequência comum de golpes, é simplesmente divertido acertar inimigos e objetos.
Trilha Sonora
A trilha sonora é um espetáculo à parte!
Tem um toque retrô e aquele estilo de “música de videogame” que tanto amamos.
Tee Lopes, que trabalhou no maravilhoso Sonic Mania, foi o responsável por produzir a maioria das faixas por aqui.
E ele também capturou com muita maestria e sensibilidade o espírito deste jogo.
Existem algumas fases específicas que possuem músicas cantadas: uma aposta arriscada que felizmente por aqui deu muito certo.
Esta é uma trilha que consegue ser muito boa, grudar na sua mente, e mesmo assim não se tornar enjoativa.
Outro detalhe digno de nota é que a música de introdução é cantada por Mike Patton, do Faith no More.
Esta versão ficou realmente muito boa, combinando com a excelente animação de abertura.
Multiplayer
Quem aqui nunca ficou babando quando viu alguma foto daquele fliperama clássico das Tartarugas Ninja, com 4 conjuntos de controles, cada um dedicado a uma tartaruga específica?
Sem dúvidas uma das possibilidades mais impressionantes daquela época foi essa possibilidade de jogar o mesmo jogo em até 4 pessoas.
Hoje não existe mais a necessidade de estarmos presentes fisicamente num mesmo lugar para jogar, ao mesmo tempo em que as partidas online atualmente comportam centenas de pessoas, a depender do tipo de jogo.
Entretanto, dentro do gênero beat ‘em up, a maioria dos jogos não se preocupa tanto em oferecer a possibilidade de partidas online.
Quando oferecem, normalmente são para até duas pessoas.
Se dificilmente vemos estúdios dedicando tempo e recursos para lançar um novo beat ‘em up, mais raro ainda é ver algum deles investindo pesado na criação de um modo online robusto.
Assim como nos jogos de luta, a estabilidade é fundamental nos beat ‘em ups, e mesmo com a tecnologia atual isso ainda não é tão simples ou barato.
Tracei este paralelo com o fliperama clássico porque novamente um jogo das Tartarugas Ninja traz possibilidades inéditas ao modo multiplayer.
Dessa vez podemos jogar o multiplayer em até seis pessoas, tanto no local quanto online!
É algo que evidencia o nível de carinho que estes caras tiveram, capturando a essência do jogo até mesmo neste quesito!
Eles sabiam que assim como naquela época, surpreender no multiplayer seria fundamental.
Os cenários são construídos com uma ampla área de combate, fazendo referência aos jogos clássicos, mas também tendo sido pensados para comportar uma grande bagunça.
Alguns cenários possuem degraus, corredores e armadilhas, ainda assim tudo é pensado para acomodar seis jogadores simultâneos.
E aqui o fato que comentei lá no começo, de que este é um jogo bastante leve, faz toda a diferença!
Testei partidas com pessoas aleatórias e mesmo em casos onde o ping estava bastante alto, o jogo se comportou muito bem.
Inclusive quando estávamos em seis jogadores!
Claro, tive problemas em alguns casos, mas digamos que em 85% do tempo tudo fluiu muito bem.
Considerando que na maior parte do tempo estava jogando com pessoas aleatórias e com ping alto, um desempenho desses é realmente impressionante.
Em partidas com amigos mais próximos, com conexões mais estáveis, você terá um desempenho ainda mais consistente.
A facilidade de jogar online e a satisfação em ter pessoas jogando como se estivessem ao seu lado é incrível.
Sou um jogador essencialmente single player ou multiplayer local, mas pela primeira vez senti vontade de jogar online um jogo que não seja de luta ou esportes.
Você poderá convidar seus amigos para jogar, entrar na partida de uma pessoa que você não conheça ou criar uma sala para que pessoas entrem na sua partida.
Tudo com grande facilidade.
Existem ainda sistemas exclusivos das partidas multiplayer, como por exemplo o “high five” ao estilo Toejam & Earl, onde ao cumprimentar um amigo você doará a ele dois pontos de sua barra de vida.
E também a mecânica de levantar um amigo caído.
Quando um companheiro cai, surge um contador de tempo sobre sua cabeça, que dá a chance de trazê-lo de volta antes que ele perca uma vida.
Para manter a confusão em nível controlado, não é possível que dois jogadores escolham o mesmo personagem.
Ao todo temos 7 personagens jogáveis no lançamento, então é bom se apressar antes que alguém escolha seu personagem favorito.
Também não há “fogo amigo”, não existe nem mesmo a opção de ativar isso.
Desta forma não há risco de trocarmos golpes involuntários no meio da “bagunça organizada”.
Até o momento não tive dificuldades em encontrar ao menos uma ou duas pessoas para me acompanhar nas partidas, nem mesmo para entrar no lobby de alguém.
Jogar em 4 pessoas é mais eficaz em termos de organização e zoneamento, para uma gameplay mais técnica.
Mas jogar em seis pessoas resulta numa bagunça tão legal que não dá vontade de parar.
Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge é um Jogo Curto Demais?
Aqui tocamos num dos pontos mais polêmicos.
O gênero beat ‘em up teve protagonismo na época dos fliperamas, mas atualmente os jogos desse tipo tornaram-se escassos.
Pouca gente conhece ou ainda entende o gênero, então permita-me uma breve contextualização.
Voltando um pouco no tempo, podemos constatar que jogos beat ‘em up são irmãos muito próximos dos jogos de luta.
Jogos de luta são sustentados quase que exclusivamente por suas mecânicas, que precisam ser muito sólidas e divertidas.
Os cenários possuem sua importância num jogo de luta, mas diferentemente do que acontece num clássico jogo de “fases”, não são eles que determinam se um jogador vai continuar jogando aquele jogo por muito tempo.
Já reparou no tanto de pessoas que selecionam o temido “training stage” como padrão nos jogos de luta?
Aquele cenário triste, com fundo branco e quadriculado.
Isso comprova que embora bons e numerosos cenários sejam um atrativo, neste caso não são necessariamente o que mais importa.
Disputamos dezenas de lutas seguidas com os mesmos personagens, nos mesmos cenários e ninguém acha isso ruim ou estranho, porque é uma característica do próprio gênero de luta.
Dito isso, sempre considerei que um jogo beat ‘em up se assemelha muito mais a um jogo de LUTA do que a um jogo de FASES.
Ou seja, se você olhar para Tartarugas Ninja Shredder’s Revenge como algo mais próximo a um jogo de luta, pode apostar que ele tem uma duração excelente.
São 16 fases que possuem uma boa variação de inimigos, situações e obstáculos, mas seu objetivo não é apenas chegar do ponto A ao ponto B.
Você vai praticamente morar naquelas fases, conhecer tudo nelas e voltar sempre para curtir as mecânicas de combate.
Temos 7 personagens, sendo que um deles é desbloqueável e todos são bem diferentes entre si.
Cada um possui diferentes atributos de força, velocidade e alcance.
Caso seja seu tipo de jogo, você certamente vai querer terminar ou pelo menos experimentar jogar com cada um desses personagens.
Haverá muito o que fazer por aqui.
Por outro lado, se você olhar para ele como um jogo de fases, onde você joga uma vez só, com o único objetivo de chegar ponto A ao ponto B, a coisa muda um pouco de figura.
Veja bem, não estou falando para que você compare um beat ‘em up diretamente com um jogo de luta e nem um jogo de fases.
Apenas para que olhe para um beat ‘em up como algo mais próximo de um jogo de luta.
Apenas que pessoalmente vejo muito mais sentido em olhar para um beat ‘em up como algo mais próximo a um jogo de luta.
Antes de mais nada, é interessante alinhar as expectativas.
Modos de Jogo
Em relação a modos de jogo, temos os modos História e Arcade, que são basicamente abordagens diferentes para as mesmas 16 fases.
No modo história teremos a história principal se desenrolando, a evolução dos personagens e os coletáveis.
Existem ainda três desafios em cada fase, como por exemplo: derrote cinco inimigos com um arremesso.
Ao terminarmos uma fase a quantidade de vidas é renovada, sendo algo bem mais puxado para o casual, para curtir o jogo de uma maneira mais leve.
O modo Arcade é basicamente a mesma coisa que o modo história, mas aqui as vidas não são renovadas.
Não há progressão de personagem, todos eles já estão em seus níveis máximos desde o início.
Quando todas as vidas terminam, temos um número limitado de “continues”. Chegando ou não ao fim do jogo, nosso nome e pontuação vai para o quadro de recordes quando surge a tela de game over.
Tudo como num bom e velho jogo de fliperama.
Ainda que sejam modos parecidos, a intenção é oferecer diferentes desafios.
E isso acaba sendo bem legal também para o multiplayer.
Está querendo jogar mais tranquilamente, batendo um papo com os amigos? O modo história é o mais indicado.
Por outro lado, se estiver afim de um bom desafio, o modo arcade consegue entregar.
Uma decisão estranha é que os dois modos possuem três níveis de dificuldade, mas somente o modo arcade permite que alteremos o nível ao iniciar.
O modo história fica “travado” na dificuldade que escolhemos quando o iniciamos pela primeira vez.
É claramente uma decisão de design, mas pode causar confusão num primeiro momento.
Existe sim conteúdo em quantidade e qualidade por aqui.
Mas sendo bem sincero, independente de tudo isso o que vai definir se o jogo vai ou não durar, é o quanto você gostará de suas mecânicas básicas.
Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge Vale A Pena?
Como é bom dizer que esperar por um determinado jogo valeu a pena!
Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge é mais do que eu poderia esperar.
Um jogo extremamente competente dentro do que se propõe, capaz de cativar antigos e novos jogadores, sem deixar de se manter fiel aos clássicos.
Focando no que realmente importa, ele constantemente me faz lembrar das razões pelas quais eu ainda amo videogames.
Também nos mostra como a diversão e a simplicidade andam de mãos dadas.
O modo multiplayer é sem dúvidas um de seus maiores diferenciais.
Como disse antes, não sou um grande fã de multiplayer online, mas tenho me divertido muito até mesmo jogando com pessoas aleatórias.
Não recebi a chave deste jogo, eu paguei por ele.
Mas pagando ou não por um jogo, gosto sempre de levar o preço em consideração nas minhas análises.
É bem difícil cravar se os jogos da DotEmu são caros ou baratos.
Sim, eles cobram um preço um pouco acima do que estamos acostumados.
Por outro lado, essa diferença se traduz em qualidade e recursos únicos.
Sem contar que, reviver franquias como eles fazem parece ser uma competência que atualmente só eles mesmos possuem.
Senti que mesmo tendo pago “um pouco mais caro”, valeu cada centavo.
E que neste caso o preço definitivamente não pesa contra.
Importante observar que todos os menus e legendas estão em Português do Brasil.
Além disso, o jogo possui crossplay, porém no momento somente entre as versões PC e Xbox.
Os únicos defeitos que encontrei em Shredder’s Revenge são técnicos e facilmente solucionáveis, através de patches.
Um deles é a impossibilidade de criar mais de um perfil de jogo ou saves diferentes.
E outro é que no momento não há como mudar a configuração dos botões.
Dentro do que se propõe, Teenage Mutant Ninja Turtles entrega tudo com excelência.
Fica agora a expectativa se haverá algum conteúdo para expandir o jogo futuramente, algo que será crucial para manter o multiplayer vivo por mais tempo.
E também a curiosidade sobre quais serão os próximos projetos desses incríveis estúdios.
De qualquer forma é uma alegria poder dizer que as Tartarugas Ninja voltaram aos videogames, em grande estilo.
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.