Grapple Dog | Análise

Ele é amarelo e um de seus principais movimentos é jogar uma corda que tem uma lança na ponta.
Conheça o simpático cãozinho Pablo, protagonista de Grapple Dog.


É como diriam os antigos: bom senso, cautela e ótimos jogos de plataforma nunca são demais.

Mas com tantos jogos sendo lançados diariamente em uma diversidade de lojas e sistemas, é preciso uma atenção ainda maior para que títulos verdadeiramente bons não acabem passando desapercebidos.

Mesmo diante deste cenário atual, este não foi o caso de Grapple Dog, um título que desde o início conquistou seu espaço.

Logo de cara este jogo capturou nossa atenção, primeiramente por seu estilo gráfico incrível e imediatamente em seguida por suas mecânicas.

Após o descobrimento de Grapple Dog, passamos a acompanhar as postagens do desenvolvedor Joseph Gribbin nas redes sociais, que tornavam ainda mais evidente o carinho que estava sendo empreendido em seu novo jogo.

Quando foi temporariamente disponibilizada num dos eventos da Steam, a versão de demonstração confirmou nossas suspeitas e ficou muito claro que não poderíamos perder este título de vista.

Mas será que a versão final de Grapple Dog conseguiu mesmo manter o alto nível e chegar em grande estilo?

Veremos em nossa análise de hoje.


Uma Jornada Para Salvar o Universo

Grapple Dog traz uma história boa, simples e direta.

Mesmo envolvendo o risco de destruição do universo, mantém um tom de humor e leveza, como num bom desenho animado.

As cutscenes são muito bonitas e bem roteirizadas, uma história contada de forma direta e eficiente.
Juntamente com os diálogos incidentais e interações espalhados pelas fases, ajudam a conferir personalidade e carisma à construção dos personagens.

É uma história simples porém muito bem desenvolvida, não é apenas um pano de fundo, ela realmente cumpriu seu papel de manter nosso engajamento na missão de Pablo, gerando curiosidade sobre como tudo terminaria.

Visto que a história é bem fácil de entender, não convém que entremos em detalhes, correndo o risco de estragar alguma surpresa.

De forma resumida podemos dizer que Pablo está em uma jornada para salvar o mundo, tendo motivações genuínas para isso.

Felizmente, pouco antes de tudo se complicar, ele havia encontrado esta corda: um dispositivo de grande utilidade que possibilitará o melhor uso de suas habilidades acrobáticas.


Gráficos, Músicas e Efeitos Sonoros

Logo de cara o que chama a atenção é a pixel art do jogo, uma espécie de mistura entre desenho animado e pixel art clássica.

A beleza não se resume apenas aos desenhos, se estende também à qualidade das animações.

Screenshot de Grapple Dog em cenario tropical.

Quem já teve pelo menos a curiosidade de tentar desenvolver pixel art ou animação, sabe muito bem que a dificuldade existente em criar um estilo próprio é apenas o primeiro grande desafio.

Desenvolver boas animações dentro deste próprio estilo, exprimir personalidade em poucos quadros e com uma quantidade reduzida de pixels é um desafio enorme, realmente exige uma técnica muito apurada.

E aqui em Grapple Dog este desafio foi superado com maestria.
As animações são bonitas, fluidas e ajudam a dar vida a cada um dos personagens e elementos da tela.

Os departamento de áudio também é excelente, trazendo efeitos sonoros interessantes e músicas incríveis, com aquela pegada que lembra os anos 90.

As faixas são bem distintas entre si e combinam muito bem com cada cenário, em toda a viagem pelo universo de Grapple Dog.

Destaque para uma das faixas que nos lembrou o estilo da trilha sonora do clássico Toejam & Earl.

A qualidade é incrível, mas infelizmente não existe uma grande quantidade de faixas, algo que pode fazer com que algumas pessoas acabem enjoando delas.

Isso porque o mapa do jogo é dividido em 6 mundos, tendo em média cinco fases cada, sem contar as fases bônus com desafios.

E existe somente uma faixa musical para cada um desses mundos.
Sendo assim, a mesma música é tocada repetidamente em todas as fases de um mesmo mundo.

Particularmente não diríamos que chega a ser um ponto negativo, mas é algo digno de nota, pois pode ter uma importância maior para algumas pessoas.

Também é algo perfeitamente compreensível para um jogo independente, sobretudo porque a qualidade foi colocada acima da quantidade: existe uma quantidade reduzida de faixas musicais, mas nenhuma delas é ruim ou genérica, todas são caprichadas.

Na pior das hipóteses, é possível desligar a música pelo menu do jogo, simplesmente deixando que os efeitos sonoros deem conta de tudo.


O Universo de Grapple Dog

Em cada uma destas fases existentes em cada um dos mundos, somos desafiados a coletar cristais roxos, que servem para desbloquear os chefões, que quando derrotados desbloqueiam os próximos mundos.

Cada fase possui um determinado número de frutas (laranjas) e cinco cristais ocultos.

Algumas delas possuem ainda uma moeda com a letra B, que normalmente fica muito bem escondida e serve para desbloquear uma fase de desafio bônus.
Concluindo uma fase bônus, você também ganha três cristais.

Não precisamos coletar todas as frutas da fase, mas existe uma meta mínima.
Esta meta é dividida em 50% e 100% e sempre que atingimos um destes valores também ganhamos um cristal.

Sendo assim, para completar totalmente uma fase temos que coletar cinco cristais escondidos, dois cristais obtidos por meio das frutas e a moeda de fase bônus, nas fases onde a mesma se faz presente.

Um detalhe muito simpático é que ao coletar todos os cristais da fase, na tela de conclusão aparece um botão de interação para fazermos carinho em Pablo.
Assim como você passa a mão na cabeça do seu cachorro de estimação, dizendo que ele é um bom garoto.

Após a conclusão de uma fase, ainda que não coletemos nenhum dos cristais, é desbloqueado o modo time attack (corrida contra o tempo) da mesma, onde existem os tempos de bronze, prata e ouro a serem batidos.

O modo time attack não é necessário para a conclusão da história, acaba fazendo o papel de desafio extra para quem quiser testar suas habilidades e prolongar o tempo de jogo.

O level design é incrivelmente bom, valoriza muito as mecânicas do jogo e torna a exploração uma das partes mais divertidas do jogo.

Destaque também para a representação dos diferentes biomas em cada um dos mundos, são realmente muito bonitos.

Todos estes itens coletáveis ficam muito bem espalhados e escondidos, e mesmo que você prefira somente progredir pelo caminho principal de cada fase, eventualmente precisará dedicar um tempo à exploração e coleta de alguns cristais.

Isso porque pode acontecer de você passar por todas as fases, mas não ter conseguido coletar cristais suficientes para desbloquear o chefão daquele mundo.

Caso isso aconteça, você deverá retornar para as fases previamente desbloqueadas, explorando um pouco melhor até atingir a quantidade determinada.

O número de cristais exigidos não é nenhum absurdo e com um mínimo de exploração pode ser facilmente alcançado.
Estes valores só se tornam mais significativos após o quinto mundo.

Mas como dito anteriormente, a exploração das fases é uma das partes mais divertidas do jogo, então passar direto por elas acaba sendo até mesmo um desperdício.

Os chefões também merecem destaque.
Fazia tempo que não víamos um jogo de plataforma com chefes tão criativos e bem desenvolvidos.

Eles cumprirão muito bem o papel de recapitular as habilidades que aprendemos naquele determinado mundo, desafiando nossas habilidades e incentivando nosso domínio sobre as mecânicas centrais.

Um toque muito legal é que a navegação pelo mapa geral do jogo se dá através de um barco, que podemos controlar livremente, transitando entre os mundos e acessando informações sobre os itens coletados ao chegar perto de cada fase.

Ao toque de um botão, podemos entrar no barco, andando por cada quarto, interagindo com objetos e com nossos companheiros de viagem.

Conforme progredimos, novos diálogos aparecem, o que acaba sendo uma motivação extra para revisitarmos este barco eventualmente.

Quem sabe ao explorar o barco você também encontre alguns segredos.
Podemos afirmar que existe pelo menos um, que é muito divertido e pode te fazer passar mais um bom tempo por ali.


Ritmo e Progressão de Jogo Exemplares

O ritmo do jogo é exemplar, em nenhum momento deixa o jogador cair no tédio.

Constantemente são apresentados novos desafios, novos inimigos e obstáculos, fazendo também um excelente trabalho ao combinar cada um destes elementos e suas respectivas variações.

Não se iluda, apesar de ser bonito, Grapple Dog é bastante desafiador e até o fim do jogo suas habilidades serão testadas ao máximo.

Mas devido à esta maneira como os desafios são introduzidos, elevando gradativamente a exigência de nossas habilidades, ao final você terá se tornado um verdadeiro ninja de forma natural, sem nem mesmo perceber.

Ainda neste aspecto de progressão, não existe nenhum elemento de evolução de personagem, que os jogos modernos insistem em incluir.

Pablo começa sua jornada com todos os movimentos e recursos que o acompanharão até o final.

O que é uma ótima notícia para os amantes de jogos clássicos; podemos dizer que Grapple Dog é um “plataforma raiz”.


Mecânicas, Controles e Principais Recursos

Essa aposta numa fórmula mais clássica e pura se sustenta muito bem graças a um conjunto sólido de mecânicas.

É muito legal quando um desenvolvedor pega uma fórmula clássica e faz um jogo sobre ela, polindo tudo e entregando uma experiência excelente.

Algo ainda mais legal é quando um desenvolvedor entrega uma ótima experiência, mas ao invés de se limitar a replicar a fórmula clássica, ainda tenta acrescentar algo novo.

Este é um dos maiores méritos de Grapple Dog.

Existem os movimentos comuns de andar e pular, naturalmente boa parte do jogo se baseia nisso.

Mas o principal diferencial fica por conta da mecânica da corda e do botão de “pisão”, que faz nosso personagem interromper um salto e cair rapidamente.

Screenshot de Grapple Dog balançando em sua corda.

A mecânica de corda é simples e eficiente: o jogador pode atirar a corda apenas para cima, para as diagonais ou qualquer outra posição que fique entre as diagonais esquerda e direita.

O gancho não se prende em qualquer tipo de superfície, os locais onde ele pode ser utilizado normalmente são representados pela cor azul, com poucas exceções como por exemplo alguns mecanismos na cor vermelha.

Uma vez que ela esteja presa a uma destas superfícies, podemos balançar o personagem de um lado para o outro, pegando velocidade.

A corda também serve para atacar inimigos que estejam acima de nossa cabeça.
Para atingir um inimigo, também é possível pular sobre sua cabeça ou usar o botão de pisão, especialmente útil quando você sentir que vai passar do ponto num salto.

Existe uma seta sobre a cabeça de Pablo, um indicador visual.
Com ajuda desta, podemos visualizar com maior precisão para que direção o gancho será lançado naquele momento, bem como entender melhor o direcionamento do personagem durante os saltos.

Outro ponto peculiar é a movimentação do jogo.
O primeiro detalhe que chama a atenção é que Pablo começa andando, ele só começa a correr após pegar embalo.

Existe um indicador abaixo do medidor de energia do personagem que é uma espécie de “medidor de fluidez”, mostrando se Pablo está em velocidade acelerada.

Mantendo o medidor cheio através de uma movimentação contínua, conseguimos progredir em alta velocidade, algo especialmente útil em alguns trechos do jogo.

Na prática não é nada tão complicado quanto parece, mas certamente é um detalhe muito interessante, que torna a movimentação ainda mais peculiar.

Os controles são precisos e bem ajustados, mas de um modo geral Pablo se movimenta de uma maneira sensivelmente mais lenta do que estamos acostumados a ver em jogos de plataforma, sobretudo durante os pulos e manobras aéreas.

A princípio pode gerar um estranhamento e exigir um tempo para que possamos nos acostumar.

Mas logo percebermos que a movimentação levemente mais lenta e flutuante trata-se de uma solução muito inteligente para conferir um maior tempo de resposta por parte do jogador, possibilitando assim mais naturalidade e fluidez.

Este pequeno ajuste é suficiente para que ganhemos mais confiança no encadeamento manobras, ao invés de irmos pulando pausadamente, parando em cada trecho.

Isto é algo que fica ainda mais perceptível e impressionante nas fases mais avançadas e cheias de obstáculos desafiadores, onde temos apenas uma fração de segundo para decidir se lançaremos o gancho, terminaremos o salto, utilizaremos o botão de pisão para interromper a queda, atacaremos o próximo inimigo e assim por diante.

Acertar uma sequência de comandos, vencendo um trecho complicado é altamente gratificante e recompensador.
Além de ser algo muito bonito de se ver.

De um modo geral, Grapple Dog consegue encontrar um ponto de equilíbrio, sendo desafiador sem se tornar frustrante.

O medidor de vida de nosso personagem é uma pata de cachorro, onde cada um dos quatro dedos representa um ponto de saúde.

Os checkpoints são bem posicionados e caso o jogador perca todos os pontos de saúde, retornará ao checkpoint mais recente.

Pablo possui vidas infinitas, podemos sofrer várias derrotas ao longo do jogo sem nenhum risco de tomar uma tela de game over na cara.

A única punição é que todos os itens coletados entre o checkpoint e a derrota serão perdidos.

Desta forma, caso você tenha coletado algumas frutas ou cristais no meio do caminho, terá que coletar de novo e o progresso só estará realmente em segurança quando chegarmos ao próximo checkpoint ou ao final da fase.

Outra decisão de design que também nos pareceu casar muito bem com o estilo do jogo.


Um Show de Acessibilidade

Para fechar com chave de ouro, existe um submenu dedicado a opções de acessibilidade.

Neste submenu podemos ativar um modo onde não precisamos nos preocupar com pontos de saúde e um modo com pulos infinitos.

Existe ainda uma opção para manter o cenário de fundo estático, sem o efeito de paralax, algo muito útil especialmente para quem enfrenta eventos mais severos de cinetose.

Alguns jogadores mais hardcore costumam torcer o nariz quando veem opções como estas num jogo deste estilo, ainda mais que aqui em Grapple Dog a ativação destas opções não interfere no desbloqueio das conquistas.

Mas na verdade isso é algo louvável e fundamental para que mais pessoas desfrutem do jogo, desde aquelas com algum tipo de deficiência ou dificuldade motora, até crianças e pessoas que não estão acostumadas a jogar videogames.

Ou simplesmente se algum dia você mesmo estiver afim de curtir o jogo de uma maneira mais relaxada.
É muito legal ter a opção de apreciar um mesmo jogo de diferentes maneiras.


Duração Do Jogo e Motivos Para Jogar Novamente

Após confirmarmos que o jogo era realmente bom, uma de nossas maiores preocupações passou a ser a duração do mesmo.

Será que ele é curto? Será que ficaremos com a sensação de que as excelentes mecânicas não foram totalmente aproveitadas?

Felizmente podemos dizer que Graple Dog não nos deixou na mão.

O game traz uma boa quantidade de fases, todas muito bem concebidas e igualmente divertidas de serem exploradas, fases bônus e ainda o modo time attack para quem quiser testar seus próprios limites.

Pode ter certeza que cada uma das excelentes mecânicas foram muito bem aproveitadas, todos os inimigos e obstáculos apresentam uma boa quantidade de variações e são muito bem combinados para que exploremos ao máximo os recursos do jogo.

Novamente não entraremos em detalhes sobre todos os obstáculos e variações pois correríamos o risco de estragar alguma surpresa, é muito mais legal irmos descobrindo o que cada fase nos reserva.

Para terminar Grapple Dog você precisará dominar tudo o que aprendeu durante o jogo todo.
É como fazer uma prova de um professor que é bonzinho, mas ao mesmo tempo bem exigente.

Sendo assim, certamente encontraremos uma boa quantidade de horas de diversão por aqui, que podem ser significativamente ampliadas caso você goste do modo time attack.


Conclusão

Temos aqui um jogo conciso, que sabe muito bem o que quer ser e onde quer chegar.

A maneira como o desenvolvedor escolheu se manter fiel à fórmula clássica dos jogos de plataforma, sem deixar de acrescentar suas próprias ideias, faz com que este jogo seja único.

Grapple Dog cumpre muito bem tudo aquilo que se propõe a fazer, atingindo seus objetivos com uma maturidade impressionante.

Do começo ao fim do jogo, fica evidente que Grapple Dog foi fruto de muito trabalho duro.
Um trabalho claramente feito com muito amor.

O jogo é muito bem polido, leve e bem acabado: mesmo na versão de pré-lançamento não encontramos nenhum bug comprometedor.
Algo ainda mais impressionante para um jogo independente.

É uma alegria imensa poder jogar a versão final de Grapple Dog, após uma versão demo tão impressionante.
Definitivamente correspondeu e até superou todas nossas expectativas.

Além de ser simples e viciante, do jeito que um bom jogo de plataforma tradicional deve ser.

Temos aqui uma recomendação fácil, principalmente se observarmos que a relação entre o preço do jogo e o que ele tem a oferecer é excelente.

Além de tudo isso, Grapple Dog está legendado em Português do Brasil, um toque a mais de carinho e mais uma razão para prestigiarmos este título e seu desenvolvedor.

Também é um jogo que combina muito bem com o Nintendo Switch, sendo bom tanto para longas sessões de jogatina quanto para aquelas partidas rápidas na sala de espera ou no horário de almoço

Um prato cheio para os fãs de jogos clássicos e/ou jogos de plataforma, bem como para todos que valorizam a preservação dos videogames em sua essência.

Mal podemos esperar para conhecer os próximos projetos de Joseph Gribbin.


NOTA FINAL

93/100


Grapple Dog foi lançado em 10 de Fevereiro de 2022, para Windows e Nintendo Switch.
Versão avaliada: Windows, através da plataforma Steam

Em nome da transparência, informamos que a chave foi gentilmente cedida pelo desenvolvedor, para que pudéssemos fazer esta análise.
Reforçamos que este fato não influenciou nossa análise de maneira nenhuma.


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