Um beat ‘em up com ciborgues: esta informação bastava para que qualquer moleque quisesse levar o jogo para casa.
Falaremos hoje sobre Cyborg Justice, um dos maiores sucessos de todos os tempos na antiga locadora do Bigode.
Uma Pérola dos Anos 90
Dominação do espaço, guerras espaciais, ameaça robótica, fim do mundo, ninjas, dinossauros, viagens no tempo, destruição da humanidade pela própria humanidade.
Estes eram alguns dos principais temas que habitavam o imaginário das pessoas nos anos 80 e 90.
De vez em quando surgiam obras que misturavam brilhantemente alguns desses conceitos, resultando em algo único.
O Exterminador do Futuro, Robocop, Jurassic Park, Alien e Predador.
São apenas alguns exemplos de obras que fizeram muito sucesso e conquistaram seu espaço na cultura mundial, influenciando gerações.
O cenário dos videogames era bem diferente, os lançamentos não eram tão numerosos como atualmente, mas criatividade era algo que não faltava.
Diversos foram os jogos que beberam das mesmas fontes destes filmes e também marcaram época.
Alguns continuam populares, outros são lembrados por menos pessoas e por algum motivo nunca mais receberam a devida atenção.
É o caso de Cyborg Justice, um jogo que trazia excelentes ideias, mecânicas extremamente divertidas e fazia a alegria de pessoas de todas as idades.
A sensação de jogar este título na época, era a de que finalmente havíamos encontrado um filme de ficção que poderíamos controlar, ao invés de apenas assistir.
A História
Durante o que parecia ser uma ronda intergaláctica de rotina, a nave tripulada por nosso protagonista apresenta mal funcionamento, caindo num planeta misterioso.
A queda seria fatal, nosso protagonista sofreu danos irreversíveis.
Seria, mas antes da fatalidade alguém que desconhecemos o resgatou.
Seu corpo estava condenado, mas ainda havia atividade cerebral.
Aproveitando este pouco tempo que restava, a consciência do nosso personagem foi transplantada para um corpo robótico, ao melhor estilo Robocop.
A cirurgia foi um sucesso, nosso personagem já estava conectado ao seu novo corpo.
Restava apenas o último passo, que seria apagar todas as memórias daquele novo ser, mas este procedimento falhou.
Quem nos salvou? Qual a razão para que as memórias fossem apagadas?
Não sabemos, mas logo descobrimos que neste planeta haviam muitos outros robôs como nós.
E desta mesma forma percebemos que eles foram imediatamente programados para caçar e exterminar nosso protagonista, a “unidade defeituosa”.
Tomando o controle do nosso novo corpo, temos então que sobreviver aos ataques destes outros robôs, enquanto andamos pelo planeta em busca de respostas e do verdadeiro responsável por isso tudo.
A história é simples, os videogames ainda não possuíam recursos para histórias cinematográficas e tudo isso é contado de forma criativa em poucas cenas.
O legal é que estas cenas muito bem pensadas e davam uma boa ideia sobre o que estava acontecendo, mesmo para quem não entendia Inglês.
Era mais do que o suficiente para aguçar nossa curiosidade e fazer com que este fosse um dos jogos mais difíceis de encontrar nas prateleiras da locadora do Bigode.
E sendo bem honesto: a maioria de nós nem ligava tanto assim para saber sobre a história, o simples fato de ver robôs se quebrando na pancada já era a resposta para todas as perguntas.
Customização à Frente de Seu Tempo
Logo de cara somos apresentados ao impressionante modo de criação do nosso robô.
Temos três partes a escolher: Torso, Pernas e Arma, que fica no lugar de um dos braços.
O torso tem apenas função estética, mas as pernas e o braço de arma possuem funções diferenciadas.
Podemos optar por uma perna mais pesada por exemplo, que deixa nosso robô menos ágil, porém nos dá estabilidade para levantar nossos inimigos por mais tempo antes de um arremesso.
Já no setor das armas temos algumas opções muito interessantes como por exemplo uma serra que ajuda a cortar partes de nossos inimigos ou mesmo um canhão de tiro carregado, estilo Mega Man.
A criação de nosso robô se dá pela combinação destas três peças, onde existem sim as combinações “oficiais”, que deixam o nosso robô todo da mesma cor, com um visual mais harmonioso.
Mas a diversão mesmo está em fazer um robô mais remendado, usando as peças que mais combinam com nosso estilo de jogo.
Nossos inimigos também são combinações destes mesmos conjuntos de peças.
Controles Divertidos e Mecânicas Únicas
Na prática o jogo funciona como um clássico beat ‘em up, onde vamos andando por fases com diferentes temas e detonando ondas de robôs inimigos.
Mas a jogabilidade é um pouco mais cadenciada e com possibilidades impressionantes para um jogo desta época.
Isso porque o sistema de combinação de peças também faz a diferença por aqui.
Podemos arremessar nossos inimigos, dar socos, voadoras, mas uma das maiores diversões está em utilizar a arma que selecionamos para nosso robô.
É muito legal serrar o braço de um inimigo e vê-lo caindo ao chão, tendo movimentos involuntários.
Ou mesmo arrancar o braço após nos pendurarmos em nosso inimigo, algo que exige mais treino e resulta num “PLOC”, um efeito sonoro muito característico e que traz uma satisfação enorme.
Após arrancarmos o braço de um inimigo, ainda podemos separá-lo ao meio com as próprias mãos.
É um efeito muito legal, realmente parecia um fatality de Mortal Kombat.
Transformou o inimigo em uma pilha de sucata, mas ficou aquela sensação de que ele ainda não sofreu o bastante?
Sem problemas, você poderá montá-lo novamente, só pelo prazer de acabar com ele duas vezes.
Mas é claro que da mesma forma estaremos sujeitos a sofrer estes golpes e ver nosso robô perder partes, algo que reduz nossas alternativas de combate e nos deixa ainda mais vulneráveis.
O mais legal de tudo é que quando tiramos partes de nossos inimigos, podemos optar por jogá-las fora ou instalarmos em nosso próprio robô!
Enjoou de sua arma e viu um inimigo com uma peça legal?
Sem problemas, é só arrancar dele e pegar para você.
O mesmo vale para as pernas e somente o torso não pode ser trocado, o que faz total sentido.
Em outras palavras, a customização de nosso personagem não é algo definitivo, o que dá uma liberdade muito boa e torna as partidas bastantes variadas.
Como se tudo isso já não fosse impressionante, ainda temos o modo multiplayer.
Então multiplique todas essas possibilidades, algo que resultará em situações ainda mais divertidas como atingir seu amigo sem querer, ou ajudá-lo tirando o braço de um inimigo e entregando a ele.
Era realmente incrível descobrir novas possibilidades e movimentos após horas de jogo, quando pensávamos que tudo já estava dominado.
O Modo Duelo
Além da campanha principal, existe o modo duelo.
Aqui os combates são levados para arenas, onde enfrentamos uma sequência específica de inimigos, que nos oferecem diferentes níveis de desafios.
Este modo também pode ser jogado em multiplayer.
O modo duelo também rende muito tempo de diversão, principalmente para quem estiver cansado das armadilhas espalhadas pelas fases e quiser focar apenas nos combates.
É também um ótimo espaço de treinamento.
Ninguém Mais Utilizou A Fórmula de Cyborg Justice
O fato é que além de ser um jogo extremamente divertido até hoje, sua fórmula também continua sendo única e algumas de suas mecânicas jamais foram replicadas.
Quem nunca jogou talvez encontre um pouco mais de dificuldade, uma vez que será necessário dedicar um tempo para aprender as nuances das mecânicas.
Mas sem dúvidas é algo muito recompensador.
É difícil saber se o jogo foi um sucesso comercial, mas sem dúvidas Cyborg Justice está no topo da nossa lista de desejos, quando o assunto são jogos que gostaríamos de ver recebendo uma continuação.
A desenvolvedora Appaloosa Interactive (Novotrade) encerrou suas atividades, mas é impressionante como até hoje ninguém sequer tentou usar a fórmula de Cyborg Justice.
Ou mesmo que ninguém tenha tentado obter os direitos sobre a propriedade intelectual.
Por diversas vezes conversamos entre amigos sobre as possibilidades que a tecnologia atual traria para um Cyborg Justice 2.
Sem dúvidas foi um dos jogos mais importantes de minha vida e de muitos dos meus colegas.
As partidas de Cyborg Justice se alternavam com as de jogos como Toejam & Earl e Streets of Rage pelos finais de semana.
Ao menos quando alguém da turma tinha a sorte de conseguir encontrar um destes jogos nas prateleiras da locadora do Bigode, numa disputa que já rendeu histórias como esta.
Inclusive uma das memórias mais felizes que tenho com este jogo, foi quando tive a sorte de encontrá-lo na locadora em pleno início do feriadão de carnaval.
E você, já conhecia Cyborg Justice?
Já conseguiu encontrar algum jogo que seja ao menos parecido?
Caso nunca tenha jogado, fica a forte recomendação para que ao menos experimente Cyborg Justice.
Se possível com um amigo no multiplayer.
Antes de encerrar a matéria de hoje, deixamos aqui uma dica para que visitem o site Sega-Brasil, que além de trazer ótimas matérias, também faz um excelente trabalho de preservação da memória dos jogos clássicos da SEGA.
Como nesta seção, por exemplo, onde podemos visualizar capas, manuais e até mesmo imagens dos cartuchos.
Fica ainda o convite para que nos ajude a manter a memória deste jogo viva, compartilhando a matéria em suas redes sociais e jogando o game se possível.
Quem sabe um dia algum estúdio decida finalmente realizar o nosso sonho de trazer uma sequência.
Um abraço e até a próxima!
Barry
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.