Surgeon Simulator 2 | Análise

Confira esta análise cirúrgica de Surgeon Simulator 2, a sequência de um dos jogos mais malucos que a humanidade já viu.


Após a excelente repercussão de Surgeon Simulator, seu primeiro grande sucesso, o estúdio Bossa praticamente inaugurou uma onda de “simuladores” divertidos e sem noção.

Este primeiro jogo colocava o jogador no controle de um cirurgião, que fazia uma quantidade de procedimentos utilizando uma mão só, proporcionando cenas hilárias e absurdas.

A base de tudo era a combinação entre o sistema de física que regia todos os desafios e a mecânica de controle da mão do cirurgião.

Isto porque o jogo basicamente nasceu desta mecânica, onde os desenvolvedores criaram um sistema que nos permitia controlar uma mão de maneira detalhada dentro do jogo, utilizando somente mouse e teclado.

Ainda que este esquema de controles fizesse total sentido e fosse intuitivo, controlar aquela mão nos complicados procedimentos não era tão fácil quanto parecia.

O jogador podia girar o pulso, ajustar a altura e até mesmo controlar cada dedo da mão individualmente, com uma tecla dedicada a cada um deles.

Surgeon Simulator foi um grande sucesso, chegando inclusive a ganhar destaque em muitos eventos especiais e promoções da plataforma Steam.

O estúdio Bossa continuou criando com qualidade desde então, trazendo excelentes jogos como o simples e criativo Deep Dungeons of Doom, ou o igualmente inusitado e sem noção I Am Bread, jogo onde controlamos uma fatia de pão atravessando cenários em busca de uma torradeira.

Eis que depois de muito tempo, pegando muita gente de surpresa, surgiu a continuação do jogo que colocou o estúdio no mapa.

Surgeon Simulator 2 foi lançado primeiramente na Epic Games Store, sob exclusividade temporária, mas depois de pouco mais de um ano, finalmente chegou à Steam.

Temos então a oportunidade ideal para falarmos mais sobre esta agradável surpresa.


Steam Versus Epic Games

Antes de mais nada precisamos falar sobre o elefante na sala.

Quem joga no PC provavelmente já deve saber que a plataforma Epic Games entrou em uma disputa ferrenha, com o objetivo de tomar o lugar da Steam no topo das plataformas de distribuição de jogos digitais.

A Epic constantemente tem buscado conquistar a simpatia dos jogadores do mundo todo, inclusive oferecendo semanalmente jogos gratuitos, indo dos mais simples até os grandes jogos triple A.

No entanto, algumas das estratégias adotadas pela Epic Games nesta disputa são polêmicas. Dentre estas, a que mais gera discussões é sem dúvidas a compra da exclusividade de lançamentos.

Alguns jogos de PC são lançados na Epic Games com uma exclusividade temporária, sendo liberados para depois saírem em outras plataformas ao término deste prazo. Alguns outros simplesmente ficam por lá para sempre mesmo.

É algo polêmico e questionável, mas nossa intenção aqui não é opinar ou debater sobre isso, apenas informar.

Acontece que quando Surgeon Simulator 2 foi anunciado como exclusivo da Epic, muitas pessoas ficaram extremamente decepcionadas e até irritadas, considerando como uma espécie de traição.

Sendo assim, fica aqui o aviso que boa parte das reclamações são puramente de fãs esbravejando contra o Bossa Studios. Alguns somente xingando, outros carregando mágoas.

Novamente, não estamos entrando no debate sobre isso é certo ou errado, estamos apenas informando que esta situação existe.

E que direta ou indiretamente afetou a recepção de Surgeon Simulator 2.


Uma Sequência Diferente

O primeiro Surgeon Simulator possuía um escopo realmente pequeno e bem definido.

A proposta de controlar a mão utilizando mouse e teclado foi muito bem explorada, desenvolvida ao máximo.

Será que fazer uma sequência em cima desta mesma ideia justificaria o lançamento de um novo título?

Parece ter sido isso o que o pessoal da Bossa pensou.

O resultado é que ainda que pegue o nome e algumas ideias do primeiro jogo, Surgeon Simulator 2 é bem diferente de seu antecessor.

A mudança mais radical e imediatamente perceptível em relação à fórmula original, é que no primeiro jogo movimentávamos apenas a mão do nosso personagem.

Já neste segundo jogo podemos andar livremente pelos cenários, enxergando o braço todo do nosso personagem, pulando e até agachando, como é padrão nos jogos em primeira pessoa.

Sim, ainda controlamos apenas uma das mãos e aprender e dominar esta mecânica ainda é um grande desafio.

O controle da mão foi simplificado, o posicionamento e a rotação de pulso ainda funcionam de maneira similar ao primeiro jogo, mas desta vez não precisamos mais controlar cada um dos dedos com uma tecla, basta segurar o botão do mouse para que a mão do cirurgião abra, ou soltá-lo para que ela se feche.

Caso você não queira segurar o botão do mouse para manter a mão fechada, existe uma opção para que um clique no botão esquerdo do mouse seja o suficiente para abrir ou fechar a mão.

Tendo agora o funcionamento de um jogo em primeira pessoa, também ficou muito mais fácil controlar a altura e a direção, uma vez que agora basta mover o mouse, sem a necessidade de segurar o botão direito do mouse.

As cirurgias também foram simplificadas.

Ainda temos que quebrar carinhosamente a caixa torácica do nosso paciente para que possamos fazer um transplante de coração ou de intestinos, por exemplo.

Mas fora isso, tudo se resume a transplantar membros ou a própria cabeça do nosso paciente.

Até mesmo o próprio transplante de órgãos internos ficou mais simples, onde não precisamos mais fazer incisões precisas, bastando agora segurar e puxar o órgão ou espetá-lo com o bisturi.

Não podemos mais fazer um transplante de cérebro, por exemplo.

É praticamente certo que não é algo que será mudado ou acrescentado futuramente, através de pacotes de DLC.

Isto porque todas as simplificações têm a ver com o novo escopo do jogo, que é a resolução de quebra-cabeças por meio de física, bem como a possibilidade de jogar em até quatro pessoas, ao estilo PVE no modo campanha.

Como você pode imaginar, esta mudança também dividiu opiniões e decepcionou a quem esperava por uma sequência parecida com o primeiro jogo.

No final das contas esta decisão foi bastante positiva, trazendo novo fôlego e novas possibilidades.


Surgeon Simulator 2: A União dos Cirurgiões

Conforme destacado anteriormente, houve uma mudança radical no escopo do jogo.

Outra adição muito interessante é que agora o modo principal do jogo realmente possui uma história, muito bem desenvolvida ao longo das fases.

Screenshot de Surgeon Simulator 2

Nesta história estamos em uma espécie de complexo “científico” onde temos à nossa disposição Bob, nosso paciente que é utilizado em todos os experimentos cirúrgicos.

Mas como você deve imaginar, nem tudo é tão simples quanto parece. Teremos algumas surpresas enquanto conhecemos melhor estas instalações.

A ambientação e o modo como a história é contada me lembraram muito a série Portal, o clássico da Valve que até hoje serve como referência para jogos de quebra-cabeças com física.

Nestas fases principais ainda temos que realizar uma cirurgia em Bob, mas desta vez não teremos tudo à disposição. Por exemplo, você precisa transplantar um braço, mas o novo braço talvez esteja em uma sala separada, que você terá que descobrir como acessar.

As fases principais resumem-se basicamente a isso. Constantemente temos que encontrar componentes para a nossa cirurgia em áreas mais complexas, algo que é utilizado para aumentar o desafio gradativamente, servindo ao mesmo tempo para conduzir o desenrolar da história.

Sendo assim, as cirurgias são mais simples, mas agora os desafios adicionais ficam a cargo dos quebra-cabeças e do tempo.

Não que exista uma contagem regressiva para terminarmos a fase, mas somos desafiados a terminar tudo o mais rápido possível. O tempo é um indicador de desempenho, e tirar a nota máxima desbloqueará itens cosméticos para equipar seu personagem.

Como tudo foi pensado para ser jogado também em multiplayer, bater estes tempos jogando sozinho poderá se tornar complicadíssimo.

Por outro lado, jogar no modo multiplayer poderá ser muito divertido, mostrando o melhor que este jogo tem a oferecer.


Gráficos e Parte Técnica

Os gráficos são bem bonitos e tomam uma direção ainda mais leve e puxada para o cômico, com aspecto de desenho animado.

As cirurgias se parecem muito mais com uma aula de ciências do que com uma cirurgia real. Como se o paciente fosse um daqueles bonecos onde os órgãos são peças encaixáveis.

Um dos objetivos desta mudança com certeza foi manter o jogo mais leve e acessível para praticamente todas as idades.

Outro ponto que merece destaque é o design dos quatro personagens selecionáveis. Existe uma mistura de seriedade com maluquice na medida certa em cada um deles, combinando perfeitamente com a atmosfera do jogo.

A parte sonora também ficou ótima, com bons efeitos sonoros e músicas que casam com a proposta geral.

Os controles também são ótimos. Considerando que a dificuldade de controlar a mão é proposital, tudo funciona como deveria.

O único ponto que realmente não agradou foi a performance, Surgeon Simulator 2 passa a impressão de ser mais pesado do que deveria.

Não importa se você tente configurar tudo para rodar na capacidade mínima ou na capacidade máxima, parece que o jogo nunca atinge um bom nível de fluidez.

Fica a impressão de que existe algo desnecessário rodando em segundo plano, pesando e atrapalhando o jogo em si.

A princípio cheguei a pensar que fosse implicância de minha parte, mas logo comecei a sentir enjoos, tendo que dosar minhas sessões dentro do jogo.

Isto é algo que raramente acontece comigo, mesmo nos jogos em primeira pessoa, mas em Surgeon Simulator 2 me atingiu em cheio.

Uma rápida pesquisa na comunidade do jogo, também foi suficiente para confirmar que a inconsistência na taxa de quadros foi observada por várias outras pessoas.

Foram testadas diversas configurações gráficas até encontrar uma que me ajudasse com este problema, mas ainda assim o problema foi apenas amenizado e não solucionado.

Considerando que o jogo já tem mais de um ano de vida, dificilmente é um ponto que será corrigido.

Importante destacar que o computador utilizado tem capacidade de sobra para rodar bem o jogo. Também realizei testes travando a taxa de quadros, ativando sincronização vertical e todas as alterações que são um padrão neste tipo de situação.

Os gráficos são bonitos, temos muitos objetos interativos pelos cenários, mas ainda assim é estranho que mesmo com alterações drásticas nas configurações, tudo pareça tão pesado e nada resulte em um desempenho significativamente melhor.


Fator Replay

Surgeon Simulator 2 traz uma boa quantidade de fases e um modo história bem interessante.

Após concluirmos a campanha principal, uma boa razão para jogarmos novamente as fases é tentar bater o recorde de tempo para desbloquear os itens cosméticos, que utilizaremos para equipar em nossos personagens.

Ou mesmo jogar estas fases com diferentes pessoas, brincando com a física do jogo ou buscando meios diferentes de cumprir os desafios.

Existe ainda uma progressão paralela onde desbloqueamos itens cosméticos cumprindo tarefas e missões diárias, por exemplo.

Mas os desenvolvedores foram muito espertos e incluíram também um excelente modo de criação.

O modo de criação serve para extrapolar todas as ideias do jogo, brincando com suas mecânicas e física.

Temos fases malucas e surpreendentes, muitas delas fugindo totalmente do conceito das fases da campanha principal.

A inclusão deste modo foi uma jogada de mestre e tem potencial para expandir a diversão em muitas horas, sobretudo para quem estiver jogando em multiplayer.

Pessoalmente comparo sempre o preço do jogo com a quantidade ou qualidade do conteúdo que o mesmo oferece.

Desta forma, dá para dizer que para um jogo que atualmente custa R$37,99 entrega ótima quantidade e qualidade, tendo um ótimo valor final.


Conclusão

Surgeon Simulator 2 mostra mais uma vez que o estúdio Bossa é uma fábrica de ideias malucas e divertidas.

É notável que este é o projeto mais ambicioso do estúdio até o momento, sendo muito maior e mais complexo que outros títulos lançados anteriormente.

O conceito do primeiro jogo já havia sido muito bem aproveitado e explorado, com direito até a uma versão para realidade virtual. Tomar um outro rumo nesta sequência decepcionou algumas pessoas, mas comprovou ter sido uma ótima e corajosa decisão.

A princípio o potencial da física e da estrutura do jogo pareceu subaproveitado, mas ao longo da campanha o jogo cresce, eliminado esta sensação.

Existe ainda o modo de criação de fases para garantir que tudo seja bem aproveitado.

Infelizmente só o que me impediu e continua impedindo de curtir ainda mais o jogo é a questão da falta de fluidez, que causa enjoos e me obriga a reduzir as sessões. Talvez seja algo que não afetará a maioria das pessoas, mas é algo importante a ser destacado.

Surgeon Simulator 2 é um ótimo jogo, com um ótimo conceito, excelentes ideias e de um modo geral a execução foi muito boa.

É realmente uma pena que a polêmica da exclusividade temporária com a Epic Games tenha ofuscado o brilho do lançamento, talvez até prejudicando a recepção de maneira irreversível.

Fica difícil saber se os desenvolvedores continuarão lançando novidades para o jogo, como fizeram com o primeiro título, mas de qualquer forma o que temos aqui já pode ser considerado como suficiente.

Temos aqui um título ambicioso e diferenciado, que pode ser o que você procura quando sente vontade de jogar algo diferente. Ou mesmo ser exatamente o que você precisa para jogar com alguém no fim de semana.

Surgeon Simulator 2 mantém o bom humor e o carisma que impulsionaram o sucesso de seu antecessor e ainda que tropece no quesito performance, deixa a impressão que atualmente possui menos destaque do que deveria.


NOTA FINAL

79/100

Positivo

+ Gráficos e áudio;

+ Humor;

+ Nova abordagem.

Info Box

– Problemas de performance

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