Você viu homem vestido como palhaço?
Ainda me lembro quando num final de semana comum, enquanto passava em minha loja de games favorita, encontrei um jogo chamado Broken Sword.
Ele estava na seção de “preços imperdíveis”.
Todos sabíamos que na verdade aquele era o local onde ficavam os jogos menos procurados.
De qualquer forma meu Playstation 1 tinha apenas alguns meses, ainda tinha poucos jogos, e o preço de fato estava bom demais para deixar passar.
Quando cheguei em casa fui testar o jogo, e logo na cena de introdução fiquei muito surpreso com a qualidade.
Apesar de o maior atrativo do Playstation serem os jogos em 3D, Broken Sword trazia belos gráficos em 2D.
Porém não era isso que o tornava menos procurado a ponto de estar em liquidação.
O verdadeiro motivo para isso é que por ser um “point and click”, a barreira do idioma impossibilitava muitas pessoas de desfrutarem dele.
Eu mesmo sabia apenas o básico do idioma Inglês, mas não deixaria isso me intimidar.
Como o ritmo dos jogos “point and click” é tranquilo, acabou sendo a oportunidade de jogar com um dicionário ao meu lado.
E tudo isso valeu muito a pena.
Porque além de ter sido uma oportunidade para praticar o idioma Inglês, havia encontrado uma verdadeira pérola, por um preço incrível.
Broken Sword acabou sendo um dos jogos que mais me marcaram na geração 32 bits.
Restaurando Um Clássico
Logo de cara digo que os desenvolvedores foram felizes na escolha do subtítulo “Reforged”.
Você já assistiu um daqueles vídeos em que a pessoa pega uma peça antiga, avariada, e reforma ela inteira a ponto de parecer que saiu da loja?
Foi isso que fizeram nesta versão, um trabalho que foi além de uma simples remasterização.
Portanto dizer que o jogo foi reforjado é uma definição muito elegante e adequada.
Ainda que o respeito pela versão original claramente tenha sido a prioridade por aqui, trazer de volta um jogo como Broken Sword com certeza não foi tarefa fácil.
Não só pela extrema qualidade em todos os aspectos técnicos do original, mas também pela paixão envolvida.
Broken Sword tem fãs verdadeiramente apaixonados.
Sendo assim, sempre vem um misto de alegria e preocupação, a cada vez que o retorno de um clássico deste porte é anunciado.
O que será removido dessa vez? O que será que encontraram de “ofensivo” e deverá ser retirado?
Por isso é uma alegria dizer logo no início que Broken Sword não foi vítima dessa “revisão” e voltou inteiro!
Outro ponto importante é que a versão original foi tomada como base.
Então nem mesmo as grandes alterações realizadas na versão Director’s Cut estão presentes aqui.
Algo que também é um alívio para muitos fãs.
A prioridade claramente foi manter o jogo original e sua essência.
Este objetivo foi atingido, e só isso já faria esta versão valer a pena.
A História De Broken Sword
Uma boa história é a base para qualquer jogo de “apontar e clicar”.
E se Broken Sword pode ser chamado de clássico, certamente não decepciona neste sentido.
Tudo começa quando um rapaz americano chamado George, que está curtindo suas férias no Outono de Paris.
Num dia que até então parecia normal, nosso herói está feliz da vida.
Contudo, enquanto está sentado na parte externa de um café (ou bistrô para os mais franceses), ele presencia uma sequência incomum de eventos.
A simpática garçonete lhe serve a bebida, enquanto um homem trajando sobretudo cinza segue a caminho da entrada do estabelecimento.
Antes que consiga passar pela porta, ele tromba com a moça.
Cordialmente a cumprimenta e ambos entram no estabelecimento.
Logo após tudo isso se desenrolar, um palhaço surge ao lado do nosso herói.
Sim, um palhaço! Com nariz vermelho, balões coloridos e tocando acordeon.
Este indivíduo passa por nós e também entra no café.
Neste momento a cena vai para o interior do estabelecimento, onde o palhaço rouba a maleta daquele homem de sobretudo e deixa seu acordeon no lugar.
Então sai em disparada, indo embora para longe do café.
Em seguida ocorre uma enorme explosão, que destrói aquele local.
Esta cena inicial é impactante, e foi ela quem me conquistou logo de cara quando joguei pela primeira vez lá no Playstation 1.
Felizmente George sobrevive sem ferimentos, mas está determinado a descobrir quem é o palhaço por trás deste crime.
Tem início então uma trama repleta de conspiração, que mistura elementos históricos de forma intrigante.
A maneira que tudo se desenrola faz com que fiquemos genuinamente curiosos sobre o que irá acontecer em seguida, onde tudo aquilo vai parar.
Broken Sword frequentemente é lembrado por seu início, mas esta cena é literalmente só o começo de uma das histórias mais legais que já vi num jogo de videogame.
A qualidade da trama, a presença de personagens cativantes e bem escritos, a ambientação única…
Tudo isso nos envolve, e em pouco tempo faz com que comecemos a nos sentir verdadeiros detetives.
O Que Mudou?
A qualidade técnica de Broken Sword sempre foi excelente.
Com belos gráficos, uma trilha sonora incrível e textos muito bem interpretados.
Ele continua sendo divertido e acessível nas plataformas atuais, mas é difícil negar que merecia ser atualizado com a tecnologia vigente.
Afinal um trabalho de atualização bem feito poderá assegurar que o jogo permaneça “vivo” por mais algumas décadas.
Temos um período de 28 anos desde o lançamento da primeira versão, que ocorreu lá no distante ano de 1996!
Naquela época utilizávamos TVs de tubo com definições muito menores em relação às que temos hoje em dia.
Então se você entende o trabalho que é fazer um jogo em 2D, poderá imaginar a dificuldade dessa tarefa.
Gráficos
Para fazer com que os belos gráficos em 2D de Broken Sword ficassem bonitos até mesmo em monitores 4K só havia um caminho: redesenhar tudo.
E o resultado final ficou incrível!
Porque tudo foi feito com extrema fidelidade.
Caso tenha jogado o original, você se sentirá totalmente em casa.
Como agora os gráficos possuem uma definição muito maior, os desenvolvedores aproveitaram para acrescentar alguns detalhes nos cenários.
Por exemplo, logo no começo do jogo podemos ver que o balcão do bar está todo quebrado.
Na versão original tudo havia sido detonado, porém o balcão continuava intacto.
Todo esse trabalho foi feito com extrema sensibilidade, respeitando o jogo original, e por isso tudo foi mantido em perfeita harmonia.
A principal diferença fica por conta das cores, que estão bem mais vivas.
Em geral isso ajudou a deixar tudo ainda mais bonito.
Contudo, devido à representação mais detalhada da iluminação, algumas telas específicas transmitem sensações um pouco diferentes.
O museu é um bom exemplo.
No original tudo parecia bem mais escuro, o lugar era meio sinistro e dava quase para sentir o cheiro de mofo.
Neste novo tudo está mais claro e nítido, como se estivéssemos visitando aquele mesmo local num dia diferente e bem ensolarado.
Não é algo que chega a prejudicar a ambientação do jogo como um todo, mas foi um dos poucos momentos em que algo me pareceu diferente do que recordava.
De modo geral o trabalho ficou excepcional, e cada nova tela traz aquele misto de nostalgia e novidade na medida certa.
Som e Dublagem
Aqui no departamento sonoro tudo segue bem.
As músicas foram remasterizadas, mas continuam belíssimas e surgem nos mesmos momentos de sempre.
Também mantiveram a dublagem original, o que na minha opinião foi uma excelente escolha!
A qualidade parece ter sido melhorada, porém nada foi alterado.
Ouvir os personagens com as mesmas vozes e reconhecer até mesmo a entonação de algumas frases específicas ajudou muito na explosão de nostalgia que aconteceu em minha mente.
Descobri que durante todos estes anos algumas falas permaneciam gravadas em meu cérebro.
A sensação de ouvi-las novamente é indescritível, foi como se pudesse sentir uma “camada de poeira” sendo removida daquela memória.
O excelente trabalho de dublagem é responsável por grande parte do carisma de cada personagem em Broken Sword.
Se por um lado o departamento gráfico precisava de grandes ajustes, o sonoro necessitou apenas de retoques.
Interface de Usuário E Qualidade De Vida
O trabalho realizado na interface também ficou ótimo.
Temos menus simples, sem muitos enfeites, porém bem organizados e eficientes.
Mover o cursor também está muito mais suave e confortável, seja com teclado e mouse ou com um controle.
Existe inclusive uma parte do menu dedicada somente à interface, onde encontramos opções como por exemplo a “saída rápida” em algumas telas.
Saída rápida é quando ao invés de esperarmos o personagem fazer todo o percurso até a próxima tela, podemos pular direto através de um duplo clique.
Existem também melhorias de qualidade de vida, como o salvamento automático que pode ajudar os mais esquecidos.
Ou um sistema de dicas muito interessante, que acontece através de um sutil efeito gráfico em pontos de interação.
A frequência dessas dicas também pode ser configurada, ou simplesmente desligada.
Por fim, temos ainda a opção de alternar entre os visuais novos e os clássicos com o toque de um botão.
Este efeito tem se tornado obrigatório em remasterizações.
Contudo, devido à diferença na definição, o visual clássico acaba sendo esticado e ficando um pouco esquisito na maior parte do tempo.
Ainda assim é muito legal ter esta possibilidade, para que possamos fazer uma comparação imediata entre o antigo e o novo.
Conclusão
O anúncio de “Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged” foi uma excelente surpresa.
Para melhorar, veio acompanhado do trailer de “Broken Sword Parzival’s Stone”, título inédito da franquia com data de lançamento a ser anunciada.
Claro que no início houve um misto de alegria e preocupação.
Mas assim que comecei a jogar, vi o respeito e o carinho que tiveram pela versão clássica.
Então só restou alegria!
É muito bom poder dizer que o primeiro Broken Sword está preservado, permanecerá acessível por muito mais tempo.
Não detectei nada que tenha sido retirado em relação à versão original.
Ao mesmo tempo pouco foi acrescentado, o que neste caso é muito bom.
O fato de continuar tão bom mesmo mantendo toda sua base comprova o quanto este jogo é bom.
A única parte triste é que o idioma seguirá sendo uma barreira para muitas pessoas, e a chance de se tornar mais conhecido aqui no Brasil continuará sendo baixa.
Infelizmente ainda não foi desta vez que tivemos uma localização para Português do Brasil.
Ainda assim para quem gosta de uma boa história e/ou de um bom jogo point and click, Broken Sword é imperdível.
Sem dúvidas um dos maiores clássicos do gênero.
Veredito
Os jogos de apontar e clicar costumam ser alguns dos mais exigentes.
É preciso dedicar atenção e usar o cérebro, num ritmo normalmente mais lento e detalhista.
A recompensa por isso?
Normalmente uma boa história, com personagens que jamais esqueceremos.
Aqui em Broken Sword o jogador certamente será recompensado com isso e muito mais.
É um daqueles jogos capazes de fazer o jogador ficar pensando na trama enquanto estiver longe dele.
O que acontecerá em seguida? Quem será a pessoa por trás disso?
Este novo visual faz com que ele pareça novo em folha, mas basta começar a jogar para sentirmos aquela ambientação que nos transporta para a época do lançamento original.
Algo que não quer dizer que deixará de encantar novos jogadores.
Faltou apenas a localização em Português do Brasil para que a alegria fosse completa.
Mas nem mesmo isso é diminui o valor deste clássico absoluto!
Em nome da transparência, informo que esta análise foi possível porque a chave do jogo foi gentilmente cedida pelos desenvolvedores.
Este fato não influenciou o conteúdo de maneira alguma.
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.