Turbo Kid – Análise | Review

Apenas um garoto e sua bicicleta, nessa terra devastada.


A qualquer momento pode surgir um jogo que ficará marcado para sempre em nossas memórias.

Ele virá de qualquer direção, a qualquer momento.

Esta é uma das coisas que tornam o mundo dos games tão apaixonante.

De vez em quando encontramos este jogo olhando para o passado, enquanto testamos títulos aos quais não tivemos acesso na época.

Contudo, também é possível que algum lançamento nos surpreenda e roube nossos corações.

Foi o que aconteceu comigo, ao descobrir Turbo Kid.

De vez em quando fico vasculhando as plataformas digitais em busca de jogos que façam meu tipo, e sobre os quais possa falar aqui na Bigode Games.

E lá estava ele, brilhando em meio a uma montanha de lançamentos.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi o visual.

Aquela pixel art estilosa casou muito bem com as animações muito bem feitas.

Em seguida li a sinopse, e por fim tomei conhecimento que era um metroidvania em que nosso personagem podia usar uma bicicleta.

Isso foi o bastante para despertar o desejo de testar este jogo, e no fundo sabia que não iria me decepcionar.

Trago hoje minha análise de Turbo Kid, um título inédito que me divertiu como há tempos um lançamento não fazia.


Turbo Kid – O Filme

Turbo Kid é o tipo de obra que não costumamos ver por aqui.

Nunca tinha visto o personagem, mas o jogo me levou a descobrir que havia um filme dele, lançado em 2015!

Por não ser mainstream, tornou-se pouco conhecido por esses lados.

Já havia começado a testar o jogo, mas é claro que após saber disso precisei fazer uma pausa para conferir o filme.

Tudo acontece num mundo pós-apocalíptico, uma versão alternativa do ano de 1997.

Um jovem rapaz vaga por um mundo devastado e extremamente violento, coletando sucatas para sobreviver.

Ele é apaixonado pelas histórias em quadrinhos do Turbo Rider, um super-herói.

Evitarei falar demais para não estragar as surpresas de quem quiser curtir o filme e o jogo.

Mas algo acontece e este garoto toma o lugar do próprio Turbo Rider.

E aqui ocorre aquela divisão que faz alguém amar ou odiar esse tipo de obra.

Se a pessoa embarcar na fantasia e entender que aquilo faz sentido dentro daquele universo, irá se divertir.

Caso contrário, se insistir em usar “os óculos do realismo”, provavelmente irá se desconectar e perder de vez o interesse.

É um filme claramente executado com um orçamento mais modesto, porém cheio de personalidade e coração.

Carregado de referências a obras dos anos 80/90, combina vários elementos familiares para criar algo único.

A trilha sonora dá o toque final para a criação de uma atmosfera nostálgica.

Importante observar que apesar de ter a magia e o estilo das histórias em quadrinhos, ele tem altas doses de violência e gore.

Numa intensidade que em alguns momentos chega a fazer inveja a Mortal Kombat.

Desta forma, não é algo indicado para crianças.

Dito tudo isso, talvez você esteja perguntando se existe a necessidade de assistir o filme antes de jogar.

Minha indicação é que fique tranquilo.

Os eventos do jogo se passam depois da história do filme, o que fará no máximo você levar pequenos spoilers que não estragarão nem o jogo e nem o filme.

Também não fará você se divertir menos.

Por outro lado, ver o filme enriquecerá a experiência.

É algo que recomendo para aqueles que quiserem pular de cabeça neste universo.


Turbo Kid – O Jogo

Conforme dito anteriormente, a história do jogo é uma espécie de continuação do filme.

É bom destacar bem isso, pois muitas pessoas podem pensar que se trata de uma adaptação direta do longa.

Além de continuar a história de maneira muito competente, o videogame ainda possibilitou a expansão deste universo.

Relações complexas entre robôs e humanos, por exemplo, ainda ocorrem e são aprofundadas.

Encontraremos novos lugares, e os personagens em sua esmagadora maioria serão novos.

Sempre com diálogos muito bem escritos!

Apesar disso, quem não tiver interesse neles poderá ignorá-los na maior parte do tempo, basta sair andando e deixar o interlocutor falando sozinho.

O fiel diário de Turbo Kid marca presença por aqui, cumprindo duas importantes funções.

A primeira delas é aprofundar a história e os personagens, enquanto acrescenta entradas sobre locais, situações e pessoas.

A segunda é servir como um índice de missões e localidades.

Já entrando no assunto da interface do jogo, temos ainda o menu de personagem, onde encontraremos todos os nossos upgrades, equipamentos e cartuchos.

Não se preocupe, o jogo explicará cada uma dessas coisas.

Neste mesmo menu temos ainda alguns extras, como o toca fitas.

As fitas são itens coletáveis que ficam escondidos pelo mapa.

Uma vez coletadas, poderão ser usadas durante toda a aventura.

Um detalhe muito legal é que ao tocarmos a fita, a música não para ao fecharmos o menu.

Ela continuará tocando, no lugar da música padrão que tocaria no ambiente em que estivermos.

Por fim, temos ali também o mapa, que funciona muito bem.

O mapa é muito menos “automático” do que estamos acostumados nos jogos atuais, que entregam quase tudo de mão beijada.

Porém, existe a opção de colocarmos manualmente nossos próprios marcadores, o que pode trazer uma satisfação extra aos que gostam de exploração.

E falando em não entregar tudo fácil, Turbo Kid não é o tipo de jogo que pegará em sua mão.

Algo que pessoalmente acho muito positivo num metroidvania.

Caso não preste atenção no que está fazendo, existem boas chances de que fique enroscado em algum momento.

Claro que prestar atenção em alguns diálogos e aprender a usar o menu são coisas que facilitarão muito sua vida.

Aqui brilha a localização em Português do Brasil!

O ritmo como tudo progride é ótimo, e há uma grande satisfação ao concluir missões principais e secundárias.

Screenshot de Turbo Kid

Por tudo o que falei até aqui você já deve ter imaginado que Turbo Kid é um jogo desafiador.

De fato não dá pra dizer que é um jogo fácil.

Porém consegue um bom equilíbrio, não sendo tão punitivo.

Ao ser derrotado o jogador não perde dinheiro (que no caso é sucata), também não há um contador de vidas para uma tela de game over.

A punição por ser derrotado é somente a perda do progresso feito desde o último save point.

Algo que não chega a ser desesperador, já que existe uma boa quantidade de save points espalhados pelo mapa.

Então em determinados momentos fica nas mãos do jogador assumir riscos e avançar para a próxima área, ou voltar para salvar o jogo.

Em outras palavras Turbo Kid consegue desafiar sem frustrar, algo que torna até mesmo a exploração ainda mais agradável.

Mesmo o reaparecimento dos inimigos é feito de maneira bem pensada.

Parece haver um medidor de distância, que faz com que os inimigos só reapareçam ao nos afastarmos de um determinado local.

Isso faz com que não reapareçam demais a ponto de encher a paciência, mas também mantenham a exploração interessante, sem permitir que os mapas fiquem desertos.

Por fim, é importante dizer que aqui no jogo temos o mesmo “clima” presente no filme.

Ou seja, desde a ambientação pós-apocalíptica, as referências aos clássicos, o estilo das HQs e até o alto nível de violência.

Você poderá explodir seus inimigos, que espalharão tripas pelo cenário e ocasionalmente derrubarão suas cabeças, que poderão ser arremessadas em outros inimigos.

Com direito a alguns efeitos de física.

Claro que aqui no jogo o estilo gráfico ameniza bastante as coisas, mas é algo digno de nota.

De modo geral temos uma história interessante, ótimos personagens e inimigos marcantes.

Além de uma boa interface, sistemas bem pensados e executados.


Controlando Turbo Kid

Nada disso adiantaria muita coisa sem uma jogabilidade sólida sustentando, não é mesmo?

Felizmente Turbo Kid não decepciona!

As mecânicas são ótimas, os controles bem ajustados, e ao longo do jogo as coisas só melhoram.

O personagem estará em nossas mãos, e teremos plenas condições de nos defendermos neste local inóspito.

Os combates exigem agilidade, reflexo, mas tudo só dependerá de nós.

Em nenhum momento senti que perdi de maneira injusta.

Nosso canhão é extremamente parecido com o do clássico Metroid.

Não detalharei todos os movimentos pois isso estragaria a surpresa, mas preciso apenas falar sobre o ataque com facão, um dos primeiros movimentos que adquirimos.

Com ele podemos desferir golpes a curta distância, além de aparar alguns projéteis atirados por inimigos.

Sendo assim, dá pra dizer que o combate é de fato uma combinação de Metroid e Castlevania, porém com ainda mais alternativas.

E aqui cabe observar que todos os movimentos que ganhamos realmente fazem a diferença, tornando o jogo ainda mais divertido.

A ponto de fazer o jogador pensar como pôde ter jogado até aquele momento sem o movimento que acabou de conquistar.

Este é um dos pontos que considero mais importantes num metroidvania.

Nada está ali por acaso ou para prolongar o jogo artificialmente, tudo é muito bem pensado e coerente.

São basicamente três categorias de upgrades que interferem em nosso conjunto de movimentos.

Primeiramente as câmaras, que adicionam novos movimentos ao nosso personagem assim que entramos nelas.

Temos também novos tipos de tiros para nosso canhão.

E temos ainda os cartuchos, que trazem melhorias e vantagens para nosso personagem, ou aprimoram algum movimento especifico.

Para manter as surpresas também não entrarei em detalhes sobre como conseguir cada um destes, nem sobre suas respectivas utilidades ao longo da aventura.


Andando De Bicicleta, Sem Rodinhas

Aqui temos aquele que considero o maior diferencial deste jogo!

A bicicleta, também conhecida como o meio de transporte número um de um mundo pós-apocalíptico.

Uma boa notícia é que ela tem um papel muito mais importante do que simplesmente tornar a locomoção mais rápida.

Ela será fundamental para o desenrolar do jogo!

Screenshot principal de Turbo Kid

Outra boa notícia é que este sistema é muito bem pensado, simples e direto.

A bicicleta se materializa com o toque de um botão.

Para descer dela basta pressionar o mesmo botão, e um pequeno contador será iniciado na parte superior esquerda da tela.

Quando este contador sumir, algo que demora coisa de dois segundos, poderemos materializar a bicicleta novamente.

Simples assim, sem precisar se preocupar em lembrar onde a deixou “estacionada”.

Para os mais detalhistas, essa capacidade de materialização da bicicleta é justificada dentro da história do jogo.

Foi uma grande sacada, porque se tivessem pensado em algo realista toda a dinâmica seria alterada.

E provavelmente a bicicleta teria se tornado um verdadeiro incômodo.

O sistema de controles dela também é simples e funciona muito bem.

Contudo, a considero o maior diferencial deste jogo porque sua existência interfere na maneira como os mapas foram planejados.

Os mapas são bem amplos, espaçados, intercalam corredores e trechos mais “apertados”.

Ou seja, podemos andar de bicicleta a qualquer momento, mas não convém fazer isso em todos os locais do mapa.

E a magia acontece quando você começa a conhecer o mapa, e a entender quando é melhor alternar entre andar a pé ou de bicicleta.

Neste momento o jogo prova que é verdadeiramente único.

Por diversas vezes levei alguns minutos para me dar conta de que estava simplesmente andando pelo mapa, brincando com a bicicleta.

É uma mecânica bem divertida!


Considerações Finais

Turbo Kid é um jogo completo.

Tudo aqui é muito consistente.

Gráficos, trilha e efeitos sonoros, mecânicas, história, personagens, progressão.

A maneira como ele reúne elementos e referências aos clássicos, para criar uma obra nova e ao mesmo tempo nostálgica, me lembra o seriado Stranger Things.

E digo isso somente para tentar te ajudar a fazer uma ideia da atmosfera deste universo.

Inclusive porque o filme de Turbo Kid veio antes de Stranger Things.

O resultado é um metroidvania que me divertiu como poucos dentro deste subgênero.

Um jogo viciante, que me fez curtir cada momento.

Foi gratificante acompanhar essa história, fazer parte deste universo e superar seus desafios.

A duração é ótima!

Não é curto demais, e ao mesmo tempo não usa truques para prolongar o jogo artificialmente.

Até mesmo as missões secundárias são bem feitas e nos motivam a passar mais tempo naquele mundo.

Cada área é muito bem planejada e tem seu próprio estilo, e há uma ótima variedade de inimigos em cada um dos locais.

Sempre que chegava numa nova área sabia que seria difícil desligar o jogo antes de conhecê-la melhor.

Os chefões também são excelentes!

São ótimos personagens, capazes de testar os limites de nossas habilidades.

Ao menos nesta versão inicial não temos diferentes modos de jogo, new game+ ou nada do tipo.

Mas quem quiser explorar todo o jogo e concluir todos os desafios extras terá muito o que fazer por aqui.

Temos um mapa de tamanho considerável, repleto de segredos.

Existe uma personagem alternativa, que pode ser selecionada logo de primeira, antes de iniciarmos o jogo.

Mas a aventura permanece a mesma, não é algo que traz mudanças drásticas.

É basicamente algo que resulta em diálogos adaptados, e que aquece o coração dos fãs do filme.

Ainda assim é um detalhe digno de nota.

Talvez você ainda encontre uma surpresa ou outra, mas aqui nesta análise falei o máximo que podia sem correr o risco de estragar surpresas.


Veredito

Sinal Verde

Mergulhei de cabeça no universo de Turbo Kid enquanto fazia esta análise, e sinto que tudo valeu a pena.

É uma recomendação fácil para os fãs de jogos clássicos, bem como para as pessoas que gostam do tema ou desta combinação de elementos.

Este é o tipo de análise difícil de escrever, porque as ideias são tão bem executadas que fica difícil encontrar pontos negativos.

Por exemplo, a organização visual do diário parece confusa no começo.

O sistema de respostas aos diálogos poderia melhorar.

Gostaria muito de uma opção de reinício rápido em alguns desafios.

Porém são todas coisas relacionadas à chamada “qualidade de vida”, com as quais consegui me acostumar e não chegaram a afetar minha experiência negativamente.

A única coisa que vale a pena repetir é que o jogo não segura a mão de ninguém.

Então se você estiver acostumado com jogos que colocam uma seta indicando cada passo, a aventura tende a levar um pouco mais de tempo para pegar embalo.

Isso é algo que pode ser considerado desfavorável por algumas pessoas, porém será visto como um ponto positivo para outras.

É o meu caso, pois curti muito aprender como me virar naquele mundo.

Outra coisa que costumo colocar na balança e conta muito a favor de Turbo Kid é seu preço.

A versão PC sai por R$59,99 na Steam.

Ao meu ver é um preço extremamente justo para um jogo que entrega quantidade e qualidade, além da localização em Português.

Por enquanto está disponível somente no PC, mas existe previsão de lançamento para Nintendo Switch.

Turbo Kid acertou meu gosto pessoal em cheio, tornando-se um dos melhores títulos que joguei este ano.

Além de um dos melhores metroidvanias que já tive o prazer de jogar em toda a minha vida.


O Que É Metroidvania?

A fusão dos nomes Metroid e Castlevania.

Uma palavra criada para definir um subgênero dos jogos de ação e plataforma.

Um estilo onde a progressão não ocorre através de fases fechadas, mas sim da setorização de um mapa aberto, onde normalmente cada área tem um chefão mandando nela.

O foco em exploração leva o jogador a desbravar este mapa, descobrindo os próximos passos por conta própria, e adquirindo novos itens ou habilidades.

Estes itens ou habilidades dão acesso a novas partes do mapa.

E assim sucessivamente, até que todos os desafios principais tenham sido concluídos.

A origem do termo vem do fato que Metroid criou esse estilo de progressão.

Posteriormente, Castlevania Symphony Of The Night utilizou esta base e incrementou a fórmula, com pitadas de RPG.

Podem ocorrer variações ou evoluções, mas de modo bem simplificado isto é Metroidvania.

Vez ou outra surgem algumas derivações do termo, mas via de regra são apenas tentativas de destacar alguma característica específica de algum jogo, ou de aumentar a projeção do mesmo.


Em nome da transparência, informo que a chave do jogo foi gentilmente cedida pelo pessoal da Outerminds, possibilitando a realização desta análise.
Este fato não influenciou o conteúdo de maneira alguma.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *