Mafia 2 – O Jogo Que Não Era GTA

As comparações com Grand Theft Auto não favoreceram Mafia 2 na época de seu lançamento.
Mas o tempo fez justiça a uma das mais subestimadas obras de arte do mundo dos games.


É difícil contestar que Grand Theft Auto definiu o que é um jogo de mundo aberto.

Shenmue abriu o caminho, Driver deu sua colaboração (como já escrevi por aqui anteriormente), mas GTA juntou tudo e definiu o conceito de mundo aberto como conhecemos até hoje.

A Rockstar estabeleceu um padrão difícil de ser alcançado.

Naturalmente, qualquer jogo em terceira pessoa em que o personagem pudesse pegar veículos era automaticamente comparado com GTA.

O que francamente não era nenhum absurdo.

Não era exagero partir do princípio de que os jogos se inspiravam em GTA, ou literalmente queriam ser como ele.

Entretanto, Mafia 2 foi o primeiro jogo que oferecia um mundo aberto e ao mesmo tempo não me pareceu se preocupar em copiar o clássico da Rockstar.

Claro, ele não reinventava a roda, mas criava seu próprio mundo e tinha sua própria personalidade.

Nem por isso os críticos e os jogadores deixaram esta comparação de lado.

Apesar de tudo, não acho que tenha havido algum tipo de maldade nisso.

Além do mais, o primeiro Mafia já havia sido rotulado como “GTA da Máfia”, então era natural que sua sequência fosse comparada com o expoente do gênero.

O resultado foi que, mesmo sendo bastante elogiado na maioria das análises, em algum ponto mencionavam que o mundo de Mafia 2 era parado demais.

De fato não havia a mesma vida existente no mundo de GTA, ou a mesma quantidade de tarefas a serem realizadas.

Mas será que isso era mesmo um problema? Ou será que os desenvolvedores estavam preocupados com outros aspectos?

Jamais levei as análises de jogos como verdade absoluta, sempre as encarei como opiniões que me ajudariam a tomar minha decisão de jogar ou não algum jogo.

E quando lia análises de Mafia 2 me perguntava quanto daquilo era verdade, e o quanto era exagero.

Levei um tempo para ter acesso ao jogo, mas quando finalmente coloquei minhas mãos nele, pensei: “Ainda bem que não acreditei em tudo o que os críticos diziam”.


O Mundo de Mafia 2

A primeira coisa que me encantou sem dúvidas foi a introdução, que de fato parecia um filme.

Então após uma sequência inicial jogável, daquelas que servem mais como o clássico tutorial, finalmente pude entrar no mundo “vazio” de Mafia 2.

E quando isso aconteceu, ironicamente tive a certeza de que estava diante de um dos melhores jogos da minha vida.

Captura de tela de Mafia 2

Não demorou muito para que eu pudesse perceber que o mundo de Mafia 2 era aberto por elegância, quase que por “educação”.

Um tipo de mundo que não fica colocando paredes invisíveis na cara do jogador, mas ao mesmo tempo não o instiga a ficar andando por aí, a não ser que queira apreciar a paisagem.

Tudo funciona em nome da ambientação, da criação do cenário perfeito, inclusive este próprio mundo aberto.

Diferente de GTA, em que o mundo era nosso parque de diversões e haviam coisas escondidas em praticamente todos os lugares.

Fora do percurso normal da história e das missões, o mundo realmente não tinha a mesma vida.

Mas quando estávamos seguindo a linha pela qual o jogo nos conduzia, meu amigo, Mafia 2 criava uma ambientação impressionante!

A versão clássica do jogo (não a remasterizada que saiu em 2020) trazia um artbook que mostrava artes conceituais, evidenciando o quão profundo mergulharam para criar o mundo de Mafia 2.

Personagens, carros, armas, placas, propagandas e até mesmo as Pin-Ups, que davam o tom mais adulto ao jogo.

E por falar em tom adulto, entre os colecionáveis estavam capas reais da revista masculina Playboy, que ficavam espalhadas pelo mapa.

Tudo era milimetricamente posicionado para que o jogador realmente se sentisse na época em que todos aqueles eventos aconteciam.


História

A História de Mafia 2 não era nada tão diferente do que já vimos em livros e filmes.

Retratava dificuldades dos imigrantes Italianos no período de guerra, além da clássica busca por dinheiro e “respeito” através do caminho mais curto e perigoso.

Mas era principalmente sobre laços familiares, amizade e lealdade.

O que realmente a diferenciava era o modo como a contaram, como progredia, de um jeito que só é possível nos videogames.

Realmente nos sentíamos na pele do protagonista em cada etapa.

Todos os personagens eram muito bem escritos e bem interpretados, colaborando muito para o clima cinematográfico.

Também foi a primeira vez que vi a trilha sonora ser usada para ajudar a contar uma história num jogo de videogame.


Trilha Sonora

A trilha sonora era um show à parte, sendo dividida em nada menos que três partes!

Havia a trilha instrumental, somente com faixas originais, executadas por orquestra.

E a trilha sonora com músicas licenciadas que tocavam nas rádios, estas sim ao melhor estilo GTA.

Eram faixas escolhidas à dedo, clássicos que ilustravam a época.

E aqui morava um dos detalhes mais impressionantes da trilha: ela era dividida em duas épocas.

Para criar a ambientação perfeita num “salto” de período que acontece em meio à história do jogo.

Aqui estou escolhendo as palavras com muito cuidado para evitar spoilers fortes.

Mas é como se ao longo do jogo você passasse por duas épocas distintas.

Imagine, por exemplo, que você está nos anos 70, onde a rádio tocas as músicas que eram sucesso naquela época e mundo todo condiz àquela época.

Então (ainda seguindo este exemplo), num determinado momento você vai parar nos anos 90 e tudo muda, condizendo com esta outra época.

É uma coisa tão fascinante que fica até difícil descrever o impacto que me causou.

Em resumo, além de ser uma das melhores trilhas sonoras já vistas num jogo de videogame, também cumpre funções práticas.


Minhas Memórias Com Mafia 2

Mafia 2 me marcou tanto que desde que o joguei não senti vontade de voltar a jogá-lo.

Óbvio que adorei e me diverti muito com ele.

Mas eu simplesmente queria que aquelas memórias ficassem ali guardadas por um bom tempo, cristalizadas.

Foi um jogo que me fez sentir como se estivesse lendo um livro, ouvindo música, vendo um filme, jogando, tudo ao mesmo tempo.

Foi um jogo que me fez sentir como se estivesse lendo um livro, ouvindo música, vendo um filme, jogando, tudo ao mesmo tempo.

Realmente mergulhei naquela história, naquele mundo.

Mafia 2 tem ainda uma de minhas cenas favoritas do mundo dos games, também ligado à sua excelente trilha sonora.

Uma cena que acontece de surpresa, em que num determinado do momento os personagens cantam Return to Me de Dean Martin.

Esta cena simbolizou até onde os desenvolvedores foram para criar uma experiência autêntica.

É definitivamente aquele momento em que gráficos, sons, ambientação e narrativa se fundem, proporcionando algo que só é possível nos videogames.

Como se pudéssemos interagir com uma cena épica de algum filme.

Ali definitivamente me dei conta de que o mundo aberto não precisa ser uma “caixa de areia”, desde que trabalhe a favor da história.


Jogue Mafia 2

De lá para cá vimos diversos jogos de mundo aberto surgindo, e o próprio conceito de mundo aberto parece ter encontrado seus limites.

O mundo extremamente bem feito de Mafia 2 não precisou utilizar nenhum artifício para prolongar artificialmente a duração do jogo.

Não foi preciso colocar milhares de colecionáveis, missões secundárias rasas, torres que revelam partes do mapa (olhando para a Ubisoft).

Mafia 2 é uma pérola, um dos jogos mais subestimados de todos os tempos.

O tempo fez justiça e hoje é muito mais fácil perceber que ele não precisava e nem deveria querer ser um GTA.

Assim como outros excelentes jogos que sofreram pela mesma comparação.

Sempre que posso recomendo Mafia 2 para quem busca uma experiência diferente nos videogames, ou para quem está querendo jogar algo cinematográfico.

Claro, os efeitos gráficos não impressionam mais como antes (apesar de fazerem bonito), mas pode apostar que todo o resto continua ali, esperando por você.

Ele recebeu uma versão remasterizada, com gráficos atualizados.

Isso com certeza ajudará bastante em muitos aspectos.

Inclusive a 2K games fez a gentileza de entregar sem custos adicionais a versão remasterizada a todos que tinham a versão original.

Talvez você já até tenha este jogo em sua biblioteca.

Se vou jogar Mafia 2 de novo?

Ainda não criei coragem, mas é certo que um dia vou querer fazer isso.

Caso você já tenha jogado ou venha a jogá-lo, não esqueça de me dizer se estou exagerando quando digo que é um jogo imperdível.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *