Final Vendetta Ainda Vale a Pena em 2023?

Final Vendetta passou abaixo do radar de muitos fãs de beat ‘em ups.
Mas será que é tarde demais para embarcar neste jogo?


Quem é fã de beat ‘em ups sabe que estamos vivendo uma das melhores fases dentro do gênero.

O “irmão mais velho” dos jogos de luta fazia a alegria de muita gente nos fliperamas, e posteriormente nos consoles caseiros.

Eram jogos que traziam aquela proposta mais direta dos arcades, onde qualquer pessoa seria capaz de jogar e se divertir, mesmo apanhando e perdendo vidas.

Os videogames foram se tornando cada vez mais sofisticados, a onda dos jogos em 3D chegou e a febre dos beat ‘em ups passou.

O gênero foi praticamente marginalizado, e os fãs atravessaram um período de enorme seca.

Mas sem dúvidas a paixão destes mesmos fãs foi o que garantiu sua sobrevivência.

Tivemos sim excelentes jogos como o épico The Warriors, da Rockstar Games, provando que o gênero tinha potencial para o universo 3D.

Porém nada parecia ser suficiente, as grandes desenvolvedoras não se interessavam mais em fazer jogos desse tipo.

Entre grandes fracassos e discretos sucessos, a única constante foi a paixão dos fãs.

Aqueles que nunca deixaram de jogar os clássicos, os que dedicaram parte de suas vidas ao desenvolvimento de versões modificadas dos mesmos.

E aqueles que se tornaram desenvolvedores independentes, criando jogos novos e alimentando nossas esperanças.

Somente em 2020, pelas mãos da DotEmu, Guard Crush e Lizardcube, o retorno de Streets of Rage provou a todos que o gênero está mais vivo do que nunca!

Streets of Rage 4 estabeleceu um novo padrão de qualidade, trouxe novas soluções e modernizou conceitos.

Não sabemos até quando os bons ventos trazidos por Streets of Rage 4 irão soprar.

Mas são jogos como Final Vendetta que nos fazem perceber como o amor dos fãs pelo gênero está longe de acabar.


O Que É Final Vendetta?

Antes de mais nada, é interessante observar a proposta de Final Vendetta.

De modo direto e reto, podemos dizer que ele é um jogo realmente ao estilo dos fliperamas antigos, para o bem e para o mal.

Ou seja, significa que temos aqui um jogo centralizado na qualidade de suas mecânicas de combate.

Aquele mesmo estilo em que qualquer pessoa é capaz de jogar e se divertir, por mais difícil que seja dominá-lo.

Por outro lado, significa que ele pode ser considerado bem mais curto e difícil que a maioria dos jogos modernos.

Final Vendetta trouxe uma quantidade apenas razoável de conteúdo, que foi levemente incrementado após seu lançamento.

Os personagens são bem diferentes entre si, e você poderá se divertir explorando as possibilidades com cada um deles.

Mas terá apenas 6 fases para fazer isso!

Aqui digo 6 fases apenas por educação, pois na verdade são 5, já que uma delas é um breve estágio de bônus.

Screenshot de Final Vendetta

Isso não tem a ver com preguiça, e sim com o fato de o game ter sido desenvolvido com recursos mais limitados, o que naturalmente implica na redução de escopo.

O nome do jogo também dá pistas sobre o alvo para o qual os desenvolvedores estavam mirando.

É uma combinação de Final Fight com Vendetta, que no Japão se chamava Crime Fighters.

Desde o começo, é perceptível que Final Vendetta não tinha nenhuma pretensão de revolucionar o gênero.

Ao invés disso, a impressão é de que seus desenvolvedores pretendiam literalmente trazer uma versão atualizada de Final Fight.

Quase um jogo tributo, que pega ingredientes dos melhores títulos do gênero.

Isso não é nenhum demérito, afinal foi essa mesma paixão que manteve o gênero vivo no período em que as maiores franquias estavam ausentes.

De qualquer forma, antes de pular de cabeça em Final Vendetta, é importante que você tenha em mente que encontrará algo mais próximo do primeiro Final Fight.

Se você vier esperando um jogo com a mesma variedade de Streets Of Rage 4, fatalmente irá se decepcionar.

Por fim, seguindo a linha dos clássicos, a história é simples, servindo apenas como pano de fundo.

A velha história do “sequestraram uma pessoa, precisamos resgatá-la por conta própria”.

Isso também não chega a ser um ponto negativo num beat ‘em up.

Pelo contrário, é algo que colabora com a sensação de familiaridade.

Novamente, dentro das limitações do desenvolvimento, foi sábio terem escolhido o caminho mais seguro.


Jogabilidade

Felizmente a jogabilidade é a parte mais suculenta de Final Vendetta, como é de se esperar nos melhores jogos do gênero.

É também um dos únicos pontos onde ocorreram modernizações significativas, em relação aos clássicos.

Fiquei surpreso ao constatar que a jogabilidade de Final vendetta é uma das melhores que já vi num beat ‘em up!

Uma bela combinação entre movimentação ágil, controles precisos e camadas de complexidade no arsenal de golpes.

Pode acreditar, mesmo se um jogador novato usar apenas socos e chutes, ele irá se divertir.

Existe aquele peso em cada golpe, a satisfação em acertar os inimigos.

É surpreendente a profundidade que o sistema possui!

Você passará um bom tempo descobrindo golpes e até mesmo testando combos.

E aqui multiplicamos isso por três, uma vez que cada personagem tem seus movimentos exclusivos e estilos de jogo diferentes, de acordo com seus atributos de força e agilidade.

Se tivesse que resumir de maneira prática, diria que é uma espécie de jogabilidade do Streets of Rage 3 turbinada.

Com movimentação mais ágil e maior variedade de golpes, o personagem fica realmente em suas mãos.

A jogabilidade é tão boa que me deixou a sensação de ter sido subaproveitada.

Parte desta sensação veio do fato de que o jogo tem poucas fases, com pouca variação entre si.

Mas também vem de decisões no design, onde aumentaram o tamanho dos sprites dos personagens, reduzindo o espaço onde ocorre a ação.

É como se um artista tivesse um palco pequeno demais para seu tipo de espetáculo.

É como se um artista tivesse um palco pequeno demais para seu tipo de espetáculo.

Esta decisão provavelmente também veio da intenção de produzir algo mais próximo a Final Fight.

Entretanto, diante de uma jogabilidade tão afiada, passa uma sensação de incompatibilidade entre cenários e mecânicas.

Algo que na maioria das vezes irá privilegiar a decoreba de movimentos e conjuntos de inimigos, ao invés de incentivar o improviso.

O survival mode, que chegou após o lançamento, dá conta de prolongar a diversão do combate.

Mas em alguns momentos torna ainda mais forte a sensação de que estas mecânicas mereciam palcos mais elaborados.

Outra característica que atrapalha, é o fato de que o botão para pegar itens ser o mesmo que utilizamos para atacar, algo que em momentos críticos pode limitar ainda mais nossa zona de atuação.

Utilizar um botão diferente para coletar itens foi uma mudança simples trazida por Streets of Rage 4.

Algo que tem se mostrado fundamental, especialmente em jogos com movimentação rápida.

Por fim, a variedade de inimigos é suficiente, considerando a duração do jogo.

Os chefes são interessantes, alguns mais do que outros, mas nenhum chega a ser ruim.

Se você procura um beat ‘em up que se sustente principalmente por sua jogabilidade, não sairá daqui decepcionado.

O combate foi o que me fez continuar voltando.

É viciante, como deve ser.


Gráficos, Músicas e Efeitos Sonoros

Outro ponto alto de Final Vendetta é sua parte gráfica, com uma pixel art belíssima e ótima qualidade de animação.

Trazer os personagens para perto não favoreceu muito a jogabilidade, mas para o espetáculo visual foi algo que fez muito bem.

A qualidade geral está acima da média!

Apesar de não esconder suas inspirações, o design dos personagens passa longe de ser uma simples cópia.

Heróis e vilões surgem cheios de personalidade.

Os golpes também esbanjam estilo!

O Spine Breaker, do grandalhão Miller, é simplesmente um dos golpes mais badass dos últimos tempos.

A ambientação fica em algum lugar entre as décadas de 80 e 90, o que também é excelente!

Os cenários são interessantes, mas a qualidade oscila bastante entre eles.

Alguns são muito mais bonitos que outros, mas não há nenhum que chegue a ser realmente feio.

O departamento sonoro não decepciona.

Os efeitos sonoros são ótimos, mas o grande destaque vai para a trilha sonora.

As músicas casam perfeitamente com o clima do jogo, trazendo excelentes faixas e cumprindo com tranquilidade o importante papel que a trilha sonora possui nesse tipo de jogo.


Vale a Pena?

Por ironia do destino, o lançamento de Final Vendetta foi ofuscado pelo lançamento de outro jogo do gênero.

Algo que não via acontecer desde a geração 16 bits!

O maravilhoso Teenage Mutant Ninja Trutles: Shredder’s Revenge chegou um dia antes, afetando a divulgação (e certamente as vendas) de Final Vendetta.

Por este motivo, infelizmente muita gente nem tomou conhecimento de seu lançamento.

Mas apesar de ter escopo limitado e mirar num público mais hardcore, Final Vendetta passou longe de ser um fiasco.

É importante destacar que em seu lançamento o jogo foi duramente criticado por não oferecer seleção de níveis dificuldade, e por trazer somente o modo de jogo arcade.

Então muitas análises feitas já em seu lançamento ficaram desatualizadas.

Estas questões foram resolvidas em atualizações que adicionaram níveis de dificuldade, e os modos boss rush, sobrevivência e treinamento.

Isso valorizou o produto, dando mais razões e possibilidades para que o jogador aproveite o excelente sistema de combate.

Outro ponto importante é que o jogo recebeu tradução para diversos idiomas, inclusive o Português.

Não há como ignorar que comparado aos jogos atuais, Final Vendetta ainda tem uma duração bem modesta.

Mas a sensação de ser um jogo curto também vem do fato de seu sistema de combate ser muito bom, a ponto de deixar o jogador querendo mais.

Fica a torcida para que os desenvolvedores aproveitem a base sólida que existe aqui, e lancem uma continuação num futuro próximo.

Foi correta a decisão de entregar algo simples, porém bem feito.

Não restam dúvidas que este é o melhor jogo que estes desenvolvedores poderiam entregar, com os recursos que tinham em mãos.

O carinho com o produto fica evidente, claramente algo que foi feito de fãs, para fãs.

Outra coisa importante, mas que nem todo mundo considera como ponto negativo, é a ausência do multiplayer online.

Por aqui existe somente o bom e velho multiplayer local, cada vez mais raro nos dias atuais.

Finalmente, não há como ignorar que o preço é algo a ser colocado na balança.

Até mesmo porque há uma diferença considerável entre os preços praticados em cada plataforma.

Na Steam e no Nintendo Switch, por exemplo, o jogo está por R$47,49.

Um preço justo, que pode ficar ainda melhor em períodos promocionais.

Já no Xbox e Playstation o preço cheio é de R$124,50 e R$94,95, respectivamente.

Em outras palavras, na Steam e no Switch vale até pelo preço cheio, já no Playstation e Xbox somente com boas promoções.

O fato é que mesmo nesta atual boa fase dos beat ‘em ups, não existem jogos como Final Vendetta dando em árvores.

Se você é fã do gênero não deve ignorar seus defeitos, mas com certeza deve considerar ter este título em sua biblioteca.

A recomendação é ainda mais certeira se você é um jogador da época dos fliperamas, ou que joga Final Fight e Streets of Rage até hoje.

Uma característica comum dos beat ‘em ups é que uma vez que sejam bem feitos, continuarão sendo divertidos para sempre.

NOTA FINAL

78/100

4 comentários em “Final Vendetta Ainda Vale a Pena em 2023?”

  1. Gosto muito do gênero, e QUASE comprei a versão deluxe do Final Vendetta. Ia dar um voto de confiança a ponto de comprar a edição de colecionador, que tinha vários brindes incluindo um pendrive com forma de barril. Na véspera de fazer a compra, li duas reviews devastadoras do jogo que, somadas ao TMNT sair no dia siguinte, me fizeram abandonar a ideia.
    Ainda não o joguei, mas se a diversão é garantida a pesar da curta duração, ele merece uma chance.

    Por sinal, usar o mesmo botão de golpe básico para pegar objetos é uma coisa que acontecia no Streets of Rage, desde o 1. Será que, na inspiração, eles não acabaram repetindo uma escolha ruim de design? Na época era limitação do console, mas hoje em dia, usar botões diferentes é muito mais simples.

    1. Por mais que as propostas sejam diferentes, fica meio difícil escolher Final Vendetta ao invés de Tartarugas Ninja.

      É como disse na análise, ele é extremamente competente e bem resolvido, mas não dá pra fechar os olhos para as consequências que essa opção de design trouxe.
      Se você gosta do gênero e conseguir o jogo pelo preço certo, com certeza vai se divertir.

      Sobre a questão de usar botões diferentes, me parece ter sido uma decisão consciente de design.

      O botão “separado” foi uma mudança sutil, mas que depois de Streets of Rage 4 eu gostaria muito que virasse um padrão.
      Mesmo assim, nem sempre é algo que atrapalha.

      Como nos Streets of Rage clássicos, não chegava a incomodar porque o tamanho das arenas e o ritmo de jogo eram adequados.

      O próprio jogo das Tartarugas Ninja é outro bom exemplo.
      Nós pegamos os itens apenas encostando neles, nem precisamos pressionar botões.
      Mas como as arenas são mais espaçosas e o ritmo bem adequado, acaba não incomodando.
      Mesmo nas partidas mais tumultuadas, com 6 jogadores.

      Aqui em Final Vendetta incomoda pelo conjunto.
      É um jogo de movimentação rápida, em arenas bem mais limitadas e tumultuadas.
      Não tenho dúvidas que separar o botão de item teria sido uma escolha mais favorável.

      1. Salve, Barry!

        Então. No Shredder’s Revenge, teve algumas situações em que eu evitava ir para uma parte da tela para não comer sem querer uma pizza (como se eu comesse pizza “sem querer”, mas vamos lá).

        É uma coisa que não vai arruinar a sua experiência, mas provavelmente incomodou alguém. Usar um botão separado teria incomodado 0 pessoas, mas usar um botão “repetido” ou pegar o item passando por cima, incomoda algumas pessoas, sabe? Não é algo crítico, mas é uma coisa que ao meu ver, teria sido melhor do outro jeito. Se realmente foi decisão de design deles, de forma coisciente e pelo motivo que for, não há nada a ser dito.

        Por sinal, falando em botões com várias funções, os amigos que jogam Dead By Daylight sofrem com isso. O mesmo botão (LB, ou R1) serve para VÁRIAS ações, algumas delas contrárias. Assim, em um jogo em que é essencial evitar chamar a atenção dos assassinos, usamos o mesmo botão para curar um amigo ferido, para consertar os geradores do mapa, ou para derrubar uma madeira próxima no oponente. Tudo funciona bem até que você tem 2 ou mais desses elementos próximos entre si, em cujo caso o personagem fará ALGUM deles. Se você estava na surdina querendo curar o seu amigo, talvez acabe derrubando umas madeiras e avisando o mapa todo de onde você está. Se está sendo perseguido e pretende derrubar aquele pallet para atordoar o assassino, talvez pare no meio da corrida para curar um aliado ferido. É uma coisa que ambas partes reclamam muito, já que também os assassinos usam esse mesmo botão para pegar um oponente ferido, ou pular uma janela próxima.

    2. Obrigado pelos comentários, Greg!

      Como expliquei na análise, Final Vendetta melhorou muito em relação ao seu lançamento.
      Foram adicionados modos de jogo, seleção de nível de dificuldade e outros detalhes.

      Provavelmente tudo isso tenha sido implementado justamente pelas reclamações do público.
      Então as análises de lançamento são sobre o estado do jogo naquele momento.

      Acredito que esta minha análise feita um ano depois possa ser útil neste sentido, de comparar a “versão inicial” e a “final”.

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