Garbage Pail Kids: Mad Mike and the Quest for Stale Gum | Análise / Review

Um jogo que chegou para corrigir uma importante ausência na linha do tempo dos videogames.
Antes tarde do que nunca!


Garbage Pail Kids?!

Quem viveu nas décadas de 80 e 90 sabe que colecionar figurinhas era muito mais comum do que atualmente.

E dentre tantas coleções, um dos maiores sucessos foi sem dúvidas o álbum da Gang do Lixo, localizado pela Multi Editora.

Com ilustrações de altíssima qualidade, as figurinhas mostravam personagens “fofinhos” fazendo todo o tipo de nojeiras.

Mas a nojeira não era gratuita, o grande charme era a criatividade no conceito de cada um desses personagens.

Cada um deles trazia um nome bem peculiar, que era um trocadilho ou estava relacionado com a situação representada na figurinha.

Essa combinação era tão original, que as pessoas que colecionaram esse álbum na época com certeza se lembram de pelo menos alguns nomes.

Algo que eu jamais poderia suspeitar na época é que a Gang do Lixo originalmente se chamava Garbage Pail Kids.

Uma coleção de cards lançada pela empresa Topps, dos Estados Unidos.

Os personagens de Garbage Pail Kids eram na realidade uma espécie de paródia das bonecas Cabbage Patch Kids, conhecidas como Bebês Repolho.

Enquanto as bonecas eram fofinhas, as Garbage Pail Kids eram uma espécie de versão distorcida delas, feitas para esculachar com tudo.

Depois do sucesso desse álbum, infelizmente nunca mais vimos aqueles personagens, ao menos não aqui no Brasil.

Lá nos Estados Unidos, esses personagens continuaram aparecendo e ganharam até um filme.

Curiosamente, mesmo sendo tão queridos, eles nunca haviam aparecido nos videogames.

Na época de seu auge, o Nintendinho era o videogame do momento.

Então foram mais de 30 anos, mas finalmente temos aqui um jogo que chegou para corrigir esta ausência na linha do tempo.

Um jogo novo, ao estilo 8 bits.

E quem sabe represente um novo começo para estes queridos personagens.


Mad Mike and the Quest for Stale Gum

Bom, sabendo de toda a história que contei acima, fica mais fácil entender o motivo de terem optado pela criação de um jogo com DNA 8 bits.

Eles sabem onde estão os verdadeiros fãs de Garbage Pail Kids, e foi uma ótima sacada para trazer essa propriedade de volta.

Na história do jogo, o bárbaro Mad Mike, que por aqui era conhecido como “Antunes Capelar”, sai em busca de chiclete envelhecido, uma iguaria que aprecia muito.

Ao chegar na fábrica, descobre que lá somente chicletes novos e fresquinhos são produzidos, mas o cientista por trás desse processo de produção (Brainy Janie / Amaral Cerebral) propõe uma solução.

De acordo com ele, será possível produzir um chiclete envelhecido.

Mas para isso, Mad Mike terá de encontrar 6 ingredientes bem peculiares.

Estes ingredientes nojentos estão espalhados por diversos locais na linha do tempo.

Para que Mad Mike consiga recuperá-los, o cientista desenvolve uma privada capaz de transportar nossos heróis através do tempo.

Nessa busca ele terá a ajuda de Boneca Meleca (Leaky Lindsay), Carlinhos Careta (Patty Putty) e Luke Puke (não constava em nosso álbum).

Bem como outros personagens que o ajudarão indiretamente.

Dessa forma temos 6 fases, com um chefe e um ingrediente em cada uma delas.

Uma história absurda, que com certeza deixará os fãs desses personagens absolutamente satisfeitos.

A qualidade dos diálogos é excelente, e ver esses personagens ganhando vida é uma alegria indescritível!


Jogando Garbage Pail Kids

O jogo possui a clássica fórmula de plataforma, mas também traz algumas mecânicas muito interessantes.

A primeira delas é que controlamos apenas um personagem por vez, como em qualquer jogo de plataforma, mas podemos alternar entre os demais personagens a qualquer momento.

Não há um botão dedicado para que troquemos diretamente para o personagem desejado, é necessário ir apertando o botão de troca até encontrarmos aquele que queremos.

Outro ponto importantíssimo é que cada um deles tem habilidades próprias, algo que cria alternativas no desenrolar das fases.

Os personagens são:

Mad Mike (Antunes Capelar) – Tem mais força que os outros personagens, possui somente ataques de curto alcance.

Leaky Lindsay (Boneca Meleca) – Possui um “projétil” de meleca de longo alcance, que sai em linha reta.

Patty Putty (Carlinhos Careta) – Tem uma espécie de efeito elástico, que permite pulos mais altos e longos. Ao segurar o botão de pulo ele fica quicando.

Luke Puke (não constava no álbum) – Tem o poder do vômito tóxico, que é lançado para a frente e vai caindo na diagonal.

O tempo que seguramos o botão de ataque define a distância que o monte de vômito será lançado.

É o mais interessante dos poderes, porque quando o vômito é lançado numa plataforma superior, ele vai escorrendo pelas plataformas até chegar no chão, atingindo quem estiver no caminho.

Quando chega no chão, ali permanece. Dessa forma, se algum inimigo encostar nele, já era.

Não me lembro de ter visto um ataque parecido em qualquer outro jogo, é realmente muito divertido ficar acertando os inimigos dessa maneira.

Certamente o tipo de detalhe capaz de tornar um jogo inesquecível.

Captura de tela de Garbage Pail Kids com personagem Luke Puke

Pela descrição dos poderes de cada personagem, já dá pra imaginar que isso traz uma profundidade surpreendente ao jogo.

Enquanto temos os quatro personagens sob nosso controle, fica muito mais simples passar pelas fases.

Por exemplo, um personagem voador tende a ser muito mais fácil de atingir com Leaky Lindsay ou Luke Puke.

É aqui que entra ainda outra camada de complexidade.

Porque se por acaso morrermos com um personagem ficaremos sem ele até o fim da fase, algo que limita nossas estratégias, aumentando o desafio.

Só perdemos um crédito quando todos os quatro personagens morrem.

Por fim, temos ainda 4 Power Cards.

Estes cards permitem que invoquemos outros personagens por um breve período de tempo.

Por exemplo, o card de Mad Max (Manolo Miolo) ressuscita um de nossos personagens, enquanto Adam Bomb (Rambo Bomba) causa dano a todos os inimigos da tela e assim por diante.

Além dos power cards, existe uma boa quantidade de cards comuns, que funcionam como colecionáveis.

Encontramos esses cards em latas de lixo que estão escondidas em locais menos acessíveis das fases, e aqui temos mais um detalhe muito divertido.

Porque ao longo das 6 fases do jogo, encontramos outros velhos conhecidos com os quais poderemos trocar cards repetidos, numa mecânica de negociação bem bolada.

Os diálogos com esses personagens são impagáveis!

Ainda no departamento de colecionáveis, temos dois minigames surpresa, escondidos em lugares ainda mais difíceis de encontrar.

Em resumo, por baixo de sua aparente simplicidade de jogo 8 bits, há uma profundidade surpreendente.

É evidente que o carinho foi colocado em cada parte, nada está ali por acaso.

A jogabilidade também é excelente e bem ajustada, em nenhum momento senti que perdi alguma vida por causa dos controles.

Temos ainda recursos pensados para fazer o público mais casual se sentir em casa.

Além do recurso de save e do botão de “rewind”, que permite ao jogador voltar no tempo e corrigir alguma jogada errada, existe o modo “watch”, que nos permite assistir ao computador jogando.

Dessa forma, caso você queira aprender a passar de alguma fase, poderá simplesmente assistir direto do seu jogo.

E o mais interessante: poderá assumir o controle do jogo assim que desejar, o que em resumo poderá ser usado para que a CPU passe alguma parte difícil para você.

O recurso “watch” funciona de um modo que não me lembro de ter visto em nenhum outro jogo.

Apesar de ser um jogo com estilo clássico, claramente se beneficia de diversas melhorias e conceitos modernos do design de jogos.

E isso torna Garbage Pail Kids um jogo ainda mais raro.


Gráficos e Sons

Se você gosta de gráficos nesse estilo, com certeza não irá se decepcionar.

Os sprites são incríveis, transmitindo personalidade e apresentando animações excelentes.

As cores vivas também dão um toque especial ao jogo.

Explorando o roteiro de viagem no tempo, cada uma das 6 fases possui um tema completamente distinto, com visuais muito bem desenvolvidos.

Captura de tela de Garbage Pail Kids com a personagem Leaky Lindsay.

Tudo muito consistente, em nenhum momento percebi nenhuma queda no padrão de qualidade.

As músicas não ficam atrás e com certeza algumas delas ficarão grudadas em sua mente, sem se tornarem enjoativas.


Extras

Algo que agrega ainda mais valor a esse jogo é a quantidade (e qualidade) dos extras.

Temos dois vídeos muito interessantes, que não contarei para não estragar nenhuma surpresa.

Um rádio onde podemos escutar cada uma das músicas presentes no jogo.

E uma excelente galeria de imagens.

Nessa galeria temos o manual em versão digital, artes conceituais, desenhos técnicos com os esquemas das fases e arquivos de personagens.

Essa galeria de personagens é minha parte favorita.

Isso porque traz as ilustrações originais dos cards/figurinhas em versão digital e alta resolução, inclusive com função de zoom.

Sem dúvidas um toque extra de nostalgia, nos dando a possibilidade de observar em detalhes as mesmas ilustrações que estavam no antigo álbum.


Garbage Pail Kids: The Game

Durante minhas pesquisas, após encontrar Garbage Pail Kids: Mad Mike and the Quest for Stale Gum, fui surpreendido mais uma vez!

Isso porque descobri que já havia sido lançado outro jogo de Garbage Pail Kids, em 2020!

Este é um jogo de cartas, feito para mobile.

Também é muito divertido e traz até mesmo personagens que não estavam em nossos álbuns, portanto são inéditos para nosso público.

De qualquer forma fica aqui o aviso para que não confunda a versão mobile com este jogo, são totalmente diferentes.

Como mencionei no início, o fato de poucas pessoas saberem que o nome original da Gang do Lixo é Garbage Pail Kids, fez com que tivéssemos dificuldades em tomar conhecimento de outras obras com estes personagens.

Mesmo com a facilidade de acesso a informações que temos atualmente.


O Lançamento Para NES

Se você duvida que este é um legítimo jogo de 8 bits, ficará surpreso ao saber que ele será realmente lançado para o Nintendinho.

Até o momento de publicação desta análise, ainda está rolando a pré-venda de uma edição linda e limitadíssima de Garbage Pail Kids: Mad Mike and the Quest for Stale Gum, no site da distribuidora iam8bit.

A edição traz manual de instruções, cards exclusivos e um cartucho de NES que funciona de verdade.

Um jogo inédito, saindo para Nintendinho em 2023!


Conclusão

Fiquei muito feliz quando descobri este jogo de Garbage Pail Kids.

Ver esses personagens que marcaram a minha infância (e a de muitas outras pessoas) ganhando vida foi uma das melhores surpresas que tive nos últimos tempos.

Mesmo depois de tanto tempo, nunca mais me esqueci deles, ao mesmo tempo em que não tinha mais esperança nenhuma em vê-los novamente.

Foi realmente uma alegria indescritível!

Na época eu gostava tanto do álbum que ele me inspirou a fazer desenhos, criando meus próprios personagens.

Quando comecei a jogar Garbage Pail Kids esperava encontrar uma experiência clássica legítima, com esses personagens que tanto amo. E não me decepcionei.

Coerente com sua proposta, polido e com um preço totalmente honesto, Garbage Pail Kids entregou muito mais do que eu esperava.

Espero sinceramente que este seja apenas o começo de um retorno triunfal, e que Garbage Pail Kids possa voltar em outros jogos, inclusive em estilo moderno.

São personagens que causaram polêmica, mesmo numa época em que a fiscalização do politicamente correto não era tão presente quanto atualmente.

Mas apesar das nojeiras, o humor não chega a pender pro lado ofensivo e o carisma sempre fala mais alto.

Outro grande mérito de Garbage Pail Kids é que ele não é um produto feito simplesmente para tirar proveito da nostalgia.

Os desenvolvedores levaram os fãs à sério.

Talvez não por coincidência, a história tenha a ver com viagem no tempo.

Este é sem dúvidas um jogo obrigatório para fãs da Gang do Lixo e de jogos 8 bits.

E para jogadores mais novos, que desejam ter a experiência de um legítimo jogo retrô sem abrir mão de recursos modernos.


NOTA FINAL

92/100


Em nome da transparência, informo que a chave do jogo foi gentilmente cedida pelo desenvolvedor, possibilitando a realização desta análise.
Este fato não influenciou o conteúdo de forma alguma.

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