Uma História Sobre a Copa do Mundo de 1994

Em clima de Copa trago hoje um relato pessoal.
Uma memória nostálgica que envolve a primeira Copa do Mundo que acompanhei, meu Mega Drive e Golden Axe 2.


A Copa do Mundo de 1994 foi a primeira que pude acompanhar de perto, e posso dizer que fui muito pé quente.

Naquela edição o Brasil não apenas ficou campeão, como também fez jogos mágicos, performances que entraram para a história.

Foi um torneio de altíssimo nível e ao mesmo tempo bastante equilibrado, tendo craques em praticamente todos os times.

Também foi marcada por alguns eventos tristes como a suspensão de Maradona a tragédia envolvendo a querida Colômbia, que tinha ali a melhor seleção de sua história.

Do nosso lado houve o banimento do lateral Leonardo, num jogo dificílimo contra os Estados Unidos e sua defesa muito bem armada.

Numa jogada comum, ali na lateral esquerda, Leonardo foi infantil e deu uma cotovelada no adversário.

Foi um golpe tão violento que causou fratura em nosso adversário e fez o nosso lateral ser expulso não apenas daquele jogo, como também da própria Copa!

Mesmo com um jogador a menos, vencemos e passamos para as quartas de final.

Nosso próximo adversário seria a perigosíssima Holanda, com sua seleção repleta de craques.

No lugar de Leonardo, o experiente Branco assumiria a lateral esquerda.

E foi naquele momento que a sorte de campeão abraçou o Brasil para não mais soltá-lo.

Até mesmo o revés do banimento de Leonardo se transformou em algo positivo, porque Branco foi decisivo, especialmente contra a Holanda.

É especificamente sobre esse jogo que falarei hoje, que continua na minha memória e me traz nostalgia.

Foi sem dúvidas um dos jogos mais intensos que já vi na vida.

E que me lembro ter acontecido numa bela manhã de sábado.


Um Grande Dia

Sempre fui de acordar cedo e como naquele dia não tinha lição de casa, tive tempo para tirar umas partidas de Golden Axe 2.

Screenshot de Golden Axe 2
O começo de Golden Axe 2

Não me lembro o que eu fiz de tão legal para merecer aquilo, mas um pouco antes de a Copa começar meus pais me deram um cartucho de Golden Axe 2 e um álbum da Copa, para colecionar junto com meu irmão.

Quem é dessa geração sabe muito bem quão raro era o evento de ganhar um cartucho para chamar de seu.

Nosso álbum também ia muito bem e estava cada vez mais cheio, entre trocas de figurinhas e disputas de “bafo”, progredimos bastante.

Me lembro que as figurinhas não eram tão caras quanto hoje, mas também não eram autocolantes, precisávamos recorrer à boa e velha cola escolar.

Ainda antes do jogo, houve tempo para dar uma volta com a família.

Passamos em frente à locadora do Bigode, mas naquele fim de semana não haveria necessidade de parar, Golden Axe 2 me traria diversão por um bom tempo.

Mas para minha alegria, uma das paradas do passeio foi a banca de jornais favorita do bairro.

Como a Copa do Mundo já havia passado da metade, a editora do álbum começou a vender um pacotão com um álbum e uma quantidade imensa de pacotes de figurinhas.

Aquela montanha de figurinhas supostamente seria suficiente para completar o novo álbum, ou pelo menos chegar perto disso.

Como já tinha o álbum em casa, aquele pacotão promocional seria um ótimo negócio, sairia muito mais em conta do que continuar comprando figurinhas.

Minha família não era rica e eu meio que entendia que não seria legal ficar pedindo as coisas.

Talvez minha mãe tenha feito as contas, talvez eu realmente estivesse merecendo ou talvez ela tenha apenas flagrado meu olhar para aquele pacote que parecia brilhar na prateleira.

Porque sem que eu pedisse, ela me presenteou com aquele pacotão de alegria.

Poucas coisas deixariam um moleque tão feliz naquela época quanto assistir ao jogo da Copa abrindo e colando figurinhas.

Era a felicidade encontrada nas coisas simples, momentos que ficavam marcados na memória pelo resto da vida.


O Jogo Entre Brasil e Holanda

Brasil e Holanda começaram então a disputa.

O primeiro tempo teve alguns momentos, mas o respeito e a cautela ditaram o ritmo.

Entre um e outro lance, voltava a atenção ao álbum de figurinhas, abrindo aqueles pacotes que pareciam infinitos.

E assim seguiu, até que a primeira etapa terminasse num empate sem gols, dando pinta que seria um jogo tão duro e sofrido quanto o anterior, contra os Estados Unidos.

Mas de algum modo a magia do futebol parece ter sido invocada, tudo o que não aconteceu no primeiro tempo acabou por acontecer no segundo.

Quando as equipes voltaram para o segundo tempo, um dos capítulos mais memoráveis da história da Copa foi escrito diante de nossos olhos.

Arte com uma bola pegando fogo

Acha que estou exagerando? Que a nostalgia está falando alto demais?

Então trarei aqui alguns eventos, todos ocorridos no segundo tempo:

1- Após um cruzamento de Bebeto, Romário fez um lindo gol num toque de primeira, com muita categoria. Não houve tempo nem de o goleiro pular na bola.
Continua sendo um dos gols mais lembrados e mostrados quando o assunto é a Copa de 94, pela soma da beleza do lance e da importância do gol.

O Brasil tomou conta do jogo, continuou pressionando.

2- Bebeto estava inspirado e fez o segundo gol, também belíssimo, com direito a drible no goleiro.

Muita gente ainda lembra desse gol porque foi o da comemoração “embala o neném”.
Essa comemoração pegou e foi copiada por muito tempo, naturalmente por jogadores que estavam prestes a se tornarem pais.

Tudo parecia sob controle, com alegria e um certo alívio voltei a alternar a atenção entre o jogo e o álbum de figurinhas.

Mas estávamos enfrentando a Holanda, não era qualquer time.

3- Numa jogada rápida, o camisa 10 Bergkamp marcou o primeiro gol da Holanda.
Que pena, mas até aí tudo bem, era só segurar o resultado, não é mesmo?

4- A Holanda seguiu pressionando e numa cobrança de escanteio empatou o jogo.
Um detalhe irônico é que o lance que originou o escanteio deste gol foi um polêmico “bola na mão” do zagueiro Brasileiro.

O juiz não marcou pênalti, mas o gol saiu no lance seguinte.

A essa altura já nem lembrava mais do álbum.

5- O jogo seguiu tenso, até que por volta de 80 minutos Branco sofreu uma falta.

Lembra dele? O jogador experiente que teve oportunidade de atuar porque Leonardo foi banido.

A falta seria cobrada por ele mesmo, e apesar de estar a uma distância considerável tentaria chutar direto para o gol.

Branco deu um chute cheio de efeito, Romário conseguiu desviar da bola (por muito pouco) e ela entrou no cantinho do goleiro Holandês.

Foi um daqueles momentos que parecem acontecer em câmera lenta, como num filme.

Foi um daqueles momentos que parecem acontecer em câmera lenta, como num filme.

Sem dúvidas um dos mais bonitos e importantes gols da nossa seleção.

Estava resolvido, seguimos em frente e dali a pouco tempo chegamos ao Tetracampeonato.

Claro que entre todos esses eventos houveram outros lances importantes e emocionantes, mas estes foram os cinco momentos históricos daquela partida igualmente histórica.

Depois de tanta emoção, pude terminar de colar as figurinhas no álbum.

Houve tempo até para voltar às partidas no Mega Drive, tentando terminar Golden Axe 2 e Sonic 1.

E assim foi até que aquele dia terminou, sem que eu desconfiasse que ficaria guardado para sempre em minha memória.


A Copa do Mundo de 1994 e o Tetracampeonato

Acredito que a década de 90 seja lembrada com tanto carinho até hoje porque realmente foi um período onde muitas coisas aconteceram.

E o ano de 1994 é um ótimo exemplo disso.

Havia um misto de alegria e tristeza naquele tetracampeonato.

O alívio da vitória conquistada na disputa de pênaltis contra a Itália se transformou em alegria.

E a alegria se misturou com a tristeza que ainda havia em nossos corações, porque havíamos perdido Ayrton Senna a pouco mais de dois meses.

Assim como Ayrton, nossa seleção novamente colocou nossa bandeira no lugar mais alto.

Aquela Copa sem dúvidas também foi para ele, numa justa homenagem e quase como se fosse para amenizar nossa tristeza.

E deu certo, houve muita alegria, aquele momento era nosso.

Sempre me lembrarei com carinho desse período e dessa mistura de sentimentos.

Não só pelos acontecimentos, mas porque foi um período em que as pessoas eram mais unidas.

Era “só” esporte, mas naqueles instantes estivemos todos conectados em torno de um objetivo em comum.

Nada disso mudava a dura realidade do nosso país, o entretenimento não deve nos fazer esquecer da vida real.

Mas cada coisa tem sua devida importância, inclusive o entretenimento.

É por isso que acredito que o futebol pode sim ser algo mais.

É por isso que esses eventos marcaram minha vida e de tantas outras pessoas.


Obrigado Por Ler Até Aqui

Essa é apenas uma de minhas memórias daquela Copa do Mundo de 1994 e de tantas outras que acompanhei desde então.

Mas com certeza é uma das favoritas, por todo o contexto. Por isso escolhi dividi-la com você que está lendo.

Basta parar um pouco, me concentrar, e consigo lembrar de diversos outros acontecimentos daquele período:

– Se não me falha a memória, 1994 foi o último ano do auge de Mega Drive e Super Nintendo.

– Lançado em 1993, Fifa Soccer 1994 começava a cair no gosto dos fãs, mas aqui na cidade ainda não havia feito sucesso.

– Foi o primeiro jogo da Electronic Arts licenciado pela FIFA, numa parceria que viria a durar até o ano de 2022.

– Na Copa seguinte, em 1998, a Holanda travou mais um duelo de gigantes com o Brasil.

– Nessa época já reinava o Playstation.

Mas tudo isso talvez seja assunto para uma outra hora.

Muito obrigado se leu até aqui!
Infelizmente não poderei incluir fotos dos eventos aqui no post, mas nas redes sociais farei uma publicação especial sobre eles.
Abraços e até a próxima!

2 comentários em “Uma História Sobre a Copa do Mundo de 1994”

  1. Excelente texto, Barry, de verdade. Poxa, sinto até uma certa inveja de você. São poucas as memórias dessa época que eu tenho tão frescas e vívidas assim. De vez em quando gosto de escrever algumas quando tenho ocasião, para evitar que elas se percam mais ainda.

    Deixando de lado o fato de que existia de fato uma locadora chamada Bigode Games (um abraço para o Bigode original, onde quer que ele esteja!), lembro desses pacotes de figurinhas muito bem. Na minha época já era comum que a figurinha fosse auto-adesiva, mas eu lembro nítidamente de um “pacotão” desses com sabe-se lá quantas figurinhas, e horas e horas tentando completar o álbum. Recentemente comprei um álbum também, e pude finalmente terminar o mesmo. Isso sim, tendo que entrar no site do editorial e comprar as figurinhas que estavam faltando ainda!

    Gostaria de saber as opiniões dos outros leitores, mas por mim, esse tipo de artigo deveria aparecer mais. São memórias tão bonitas e que nos transportam tão bem à um outro tempo, que eles tem muito valor.

    1. Muito obrigado, Greg!

      Além de gostar de compartilhar essas memórias com o pessoal, outro bom motivo para que eu escreva é justamente não deixar que essas memórias se percam no tempo.

      Tentei caprichar porque também gosto muito quando encontro um relato desse tipo.
      É como se ao dividir aquela memória, ela também se torne nossa, a gente acaba “vivendo” aquilo que está escrito.

      Com certeza quero trazer outras desse tipo!
      Fico feliz que tenha gostado.

      Obrigado pelo comentário!
      Abraço

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