O causo de hoje não fala sobre nenhum segredo de algum game famoso, nem sobre acontecimentos nos fliperamas, mas sim sobre amizade e mutantes.
Um momento possibilitado pelos videogames e por Wolverine, nosso herói improvável.
Rumo ao Final de Semana
Era uma tarde de sexta-feira, eu havia tido uma boa semana na escola e a lição de casa estava em dia.
O Bigode estava fazendo uma promoção na locadora, onde a devolução de qualquer jogo de Mega Drive ou Super Nintendo poderia ser feita na segunda-feira e não no sábado, como era de costume.
Minha mãe foi me encontrar na saída da escola naquele dia e falei sobre esta promoção, perguntando se poderia passar pela locadora procurar algum jogo, para curtir no fim de semana.
Pois é meus amigos, quando somos crianças e não temos como ganhar nosso próprio dinheiro, temos que fazer por merecer e ainda sermos persuasivos.
Para minha sorte neste dia ela autorizou e fui todo feliz, pensando em quais jogos eu mais gostaria de jogar naquele fim e semana, e torcendo para que ainda houvessem boas opções nas prateleiras.
Chegando lá, para a minha sorte haviam muitos jogos ainda disponíveis, inclusive alguns dos mais disputados.
Mesmo surpreso não poderia perder tempo, a qualquer momento poderia aparecer outra pessoa, para pegar aquele game que eu ainda nem tinha visto que estava ali.
Sabendo disso, comecei a olhar todas as prateleiras, fazendo um escaneamento de tudo o que havia ali, ao melhor estilo Exterminador do Futuro.
Eu tinha um Mega Drive, então poderia me concentrar em reduzir a busca pela metade, já que o acervo do Bigode parecia ser caprichosamente dividido pela metade entre Mega Drive e Super Nintendo.
Curioso como onde morava também parecia haver uma divisão quase exata, onde metade da garotada tinha um Mega Drive e a outra metade um Super Nintendo, algo que tempos depois me fez pensar se o Bigode estava sabendo de alguma coisa que nós não sabíamos.
Quase no final de minha busca, um funcionário do Bigode apareceu, trazendo em suas mãos uma caixa com aquela faixa vermelha ao lado. Quando olhei a capa, reconheci imediatamente a ilustração no mesmo estilo dos quadrinhos que eu adorava.
Era nada mais, nada menos que o jogo mais desejado do momento, Wolverine: Adamantium Rage.
Wolverine estava em um momento muito legal nos quadrinhos, com vilões sinistros e histórias que me deixavam grudado na leitura. Ao lado do Homem-Aranha era meu super-herói favorito. E o favorito de muitos outros colegas também.
Devo ter levado meio segundo para reconhecer o jogo e mais meio segundo para tomar o impulso e falar: – Pode deixar, moço, vou levar esse!
Fiquei ali admirando aquela capa, imaginando que eu estava a poucos minutos de mais do que ler uma das minhas histórias em quadrinhos favoritas, poder controlar e interagir com uma delas.
Eu e Wolverine Tínhamos uma Missão
Passada a empolgação, virei em direção ao balcão onde minha mãe me aguardava, mas notei que durante todo meu caminho um outro garoto me olhava, ele estava posicionado ao lado da mesma prateleira em que eu estava a pouco. Era visível sua expressão de tristeza e decepção ao olhar o jogo em minhas mãos.
Era lógico que ele não estava triste por causa da minha felicidade. Eu era criança, mas juntando dois mais dois percebi que ele também era fã do Wolverine e veio voando até a locadora, procurar aquele mesmo game.
Foi uma das primeiras vezes que me lembro de ter ficado comovido, porque do alto de minha alegria fiquei imaginando como eu estaria decepcionado se eu estivesse no lugar dele, e a situação fosse oposta.
Enquanto o Bigode fazia o recibo de retirada, fiquei observando o garoto que parecia ter se conformado e conseguiu encontrar Streets of Rage 2, outro dos jogos mais concorridos da locadora.
Eu o havia reconhecido, ele estudava na mesma escola que eu. Em outra sala, mas na mesma série. Não fazia parte da minha turma, mas provavelmente morava na vizinhança.
Parte de mim pensava: ele vai ficar bem, Streets of Rage 2 é legal demais, um jogo que se eu pudesse jogaria todos os dias.
A outra parte, no entanto, me dizia que eu deveria fazer algo sobre aquilo. Anos depois vim a saber que esta outra parte também era conhecida como consciência, e que prestar a atenção no que ela diz é algo muito valioso.
Enquanto eu estava ali no balcão, o garoto já estava vindo para também fazer a retirada. Fiquei distraído, mas percebi que minha mãe estava conversando com outra pessoa logo ao lado, que talvez por coincidência era exatamente a mãe deste garoto.
Enquanto nossas mães conversavam sobre aqueles assuntos que mães conversam, criei coragem e me aproximei do garoto, falando:
– Ei, você também curte o Wolverine?
O garoto meio surpreso me respondeu:
– Eu adoro, leio todas as histórias que consigo!
Confirmando que o que eu havia visto não foi apenas uma impressão minha, falei:
– Eu peguei o jogo novo dele! Nunca está aqui na locadora, mas consegui encontrar! Não quer ir lá em casa no fim de semana para jogar comigo?
O garoto, que chamarei de Luiz, ficou visivelmente empolgado com o convite e antes mesmo de termos alguma certeza que morávamos perto, conversamos com nossas mães, pedindo autorização para o evento.
O Bigode terminou de fazer as retiradas e então fomos embora todos juntos, nossas mães conversando e nós dois também conversando sobre o Wolverine, sobre Streets of Rage e tudo o que jogávamos, líamos nos quadrinhos.
Ficou combinado então que Luiz apareceria no sábado de manhã.
Ainda naquela sexta-feira comecei a jogar, precisava aproveitar cada momento possível com aquele cartucho.
Fiquei maravilhado com o jogo, desde o começo quando liguei o console e tocou uma música pesadona, com o logotipo da SEGA aparecendo em seguida.
Lembrando que quando este jogo do Wolverine chegou, o Mega Drive já tinha atingido a maturidade, então já encontrávamos jogos com gráficos impressionantes para a época.
De qualquer forma já era noite e não houve tempo suficiente para que eu progredisse muito no jogo.
Streets of Adamantium Rage
No Sábado de manhã, conforme combinado, Luiz chegou em minha casa trazendo um controle e Streets of Rage 2.
Foi muito legal ver que quando o jogo iniciou, a cara que ele fez deve ter sido a mesma que eu havia feito no dia anterior. Aquele jogo era realmente algo feito para impressionar os fãs do Wolverine.
Nos divertimos muito naquele dia, tentando descobrir o que fazer em cada local, progredindo no jogo enquanto revezávamos o controle.
Luiz voltou no Domingo e nestes dois dias alternamos também entre partidas de Streets of Rage 2.
Outros amigos passaram em casa no fim de semana, participando das nossas jogatinas, mas eu e Luiz permanecemos lá, determinados a aproveitar aqueles jogos ao máximo.
Não tínhamos a liberdade de ficar o dia todo em frente ao videogame, mas até mesmo entre um intervalo e outro, um lanche e uma partida de chute a gol, estávamos sempre conversando sobre como passar de determinadas partes dos jogos.
O fim de semana acabou, os jogos foram devolvidos ao Bigode, mas eu e Luiz permanecemos amigos desde então. Nos falávamos na escola, jogamos muitas outras partidas de diversos jogos e o pessoal da minha turma também achou ele um cara bem legal. Passou então a fazer parte da nossa turma, todos ganhamos um novo integrante.
O mais legal de tudo foi que nossas mães também permaneceram grandes amigas desde então.
Este jogo do Wolverine é um dos meus favoritos até hoje! Pode não ter se tornado tão conhecido, mas representa uma fase muito legal de um dos super-heróis favoritos da minha infância e adolescência.
Pouco tempo depois tivemos também X-Men Clone Wars, que trouxe Wolverine e os X-Men em grande fase, em um dos jogos mais bonitos que já vi no Mega Drive. Este ainda podia ser jogado em dupla.
Conclusão
Impressionante como algo tão simples e pequeno quanto um monte de pontos luminosos em uma TV de tubo tem a capacidade de gerar memórias e momentos tão marcantes.
Esta foi uma das memórias mais legais de minha infância. Com certeza teria me divertido mesmo sozinho, mas dividir isso com um amigo que era tão fã daquele jogo quanto eu, com certeza multiplicou toda a diversão que pude extrair daquele jogo, naquele espaço de tempo.
Então é isso pessoal, por hoje é só!
Caso gostem do nosso conteúdo, participem, divulguem ou até mesmo escrevam suas próprias histórias aí nos comentários.
Abraços e até a próxima!
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.