Temos visto nos games e no cinema aquilo que parece ser uma nova onda: a de envelhecimento de nossos personagens favoritos.
Será que assim como nós, personagens como Ryu e Ken também não irão durar para sempre?
O envelhecimento de personagens parece estar mais na moda do que jamais esteve.
Sinceramente, acho até que estejamos vivenciando algo inédito.
Não me lembro de ter visto isso acontecendo antes, nem mesmo no cinema.
No mundo dos filmes foi um movimento que começou a acontecer naturalmente, conforme os atores mais consagrados envelheciam no mundo real.
O mundo dos games, por sua vez, é bem mais recente que o dos filmes.
Além disso, os personagens não “precisam” envelhecer porque não dependem de um mesmo ator cuidando de sua interpretação.
A maior semelhança entre filmes e games é que o público, independentemente de consumir filmes ou jogos, também sofreu os efeitos do tempo.
Isso tudo nos leva a pensar: será que o envelhecimento do público é a única coisa por trás dessa onda de envelhecimento de personagens?
Será que estamos mesmo no fim de uma era?
O Envelhecimento de Personagens nos Filmes
Quem nasceu principalmente nos anos 80 ou 90, presenciou o surgimento de muitos atores, personagens e franquias que são amados até os dias atuais.
Não que nas décadas anteriores não tenham existido outras franquias lendárias, mas estamos falando aqui de atores que continuam em atividade.
Foi também uma época em que assistir filmes em casa tornou-se algo possível para grande parte da população mundial, e os filmes passaram a ocupar uma porção ainda maior de nossas vidas.
Alguns atores são tão populares que possuem dubladores oficiais, sendo que estes também se tornaram partes integrantes de suas imagens.
Porém muitos deles já estão sentindo o peso do tempo, ensaiando a despedida de alguns de seus personagens mais consagrados.
Isso porque na prática estes personagens estão praticamente vinculados aos atores originais.
Alguém aqui consegue imaginar Maverick sendo interpretado por outro ator que não seja Tom Cruise?
Rambo e exterminador por outros que não sejam Sylvester e Arnold?
Ainda que seja possível definir novos atores para estes personagens, causaria uma sensação estranha para as pessoas que literalmente cresceram acostumadas com eles.
O caso que mais gosto é o de Rocky Balboa, aquele que parece ser o personagem da vida de Stallone.
Ao longo dos filmes da franquia presenciamos o surgimento do personagem e várias etapas da vida dele, com tudo apresentado de uma maneira totalmente crível.
A época em que cada filme foi gravado e o envelhecimento do próprio ator, tornam o autor e seu personagem praticamente uma coisa só.
Pelo menos nos filmes parece seguro assumir que o envelhecimento dos personagens é muito mais natural.
O Envelhecimento de Personagens nos Games
Nos videogames os personagens “vivem” no mundo digital, onde não há o temido envelhecimento natural.
No entanto estamos presenciando um momento onde grandes franquias estão completando décadas de existência.
Além disso, como dito anteriormente, ainda que seus personagens não precisem envelhecer, seus fãs estão envelhecendo.
Depois de inúmeros jogos de uma mesma franquia, os roteiristas parecem sentir grandes dificuldades na criação de novas histórias dentro daqueles mesmos universos.
Algumas dessas franquias já utilizaram até mesmo recursos característicos dessa dificuldade, como viagens no tempo e prequelas, algumas vezes combinando mais de um destes recursos.
Aparentemente o próximo passo será envelhecer os personagens e seguir com a cronologia, como se fosse o “mundo real”.
Em outras palavras, seguir o curso “natural” da história, depois de segurar ao máximo a linha do tempo daquele universo.
De uns tempos para cá, começamos então a ver lutadores de franquias como Street Fighter, Mortal Kombat e Tekken envelhecendo.
Mas é interessante lembrar que não é algo exclusivo dos jogos de luta, podemos ver a mesma coisa acontecendo em outras franquias clássicas como Resident Evil.
Mas e depois disso, o que virá?
O Envelhecimento de Personagens Como Recurso Narrativo
Ao meu ver, temos três pontos importantes a serem considerados quando o assunto é o envelhecimento de personagens:
1- A já mencionada dificuldade em contar novas histórias.
Algumas franquias possuem histórias extremamente emaranhadas.
Fica difícil usar a criatividade e mexer nesses universos sem criar furos nos roteiros ou algo sem graça.
Sem dizer na possibilidade de irritar os fãs mais radicais.
Sendo assim, jogar a história para o futuro abre novas possibilidades.
É curioso observar que o recurso “multiverso” também parece ter sido trazido de volta como alternativa para roteiristas desesperados.
2- A curiosidade de saber como os personagens ficariam quando velhos.
Em Street Fighter Zero por exemplo, foi legal ver como os personagens eram antes de suas primeiras aparições.
Da mesma forma, é interessante pensar como seriam os personagens que gostamos quando estivessem mais velhos.
3- O fortalecimento da identificação por parte do público, que envelheceu junto com eles.
Nem todo mundo liga pra isso, mas algumas pessoas sentem algo positivo quando observam que seus personagens também envelheceram.
Outra coisa legal é que quando um personagem é bem desenvolvido, seu comportamento também muda e ele amadurece, assim como acontece com nós mesmos na vida real.
Isso gera uma identificação ainda maior.
Na prática, para alguém que tem lá seus 30 ou 40 anos, provavelmente se identifique mais naturalmente com o Ken de Street Fighter 5 que o de Street Fighter 2.
Tornar aquele personagem crível, como se ele tivesse envelhecido no mundo real também é um grande desafio.
Como mencionado anteriormente, nos filmes o próprio Rocky Balboa meu exemplo favorito disso.
Nos games, meu exemplo favorito é o próprio Street Fighter.
O Envelhecimento de Personagens Como Mecânica de Jogo
Um caso que me chamou a atenção recentemente foi o do jogo Sifu.
Nele somos apresentados a um personagem que beira o genérico e que sob efeito de magia, envelhece a cada vez que perdemos uma vida no jogo.
Cada vez que ganha mais idade, seus atributos vão mudando, algo que representa a queda de vitalidade ao mesmo tempo em que ocorrem o ganho de experiência e o aprimoramento técnico.
Pessoalmente achei essa mecânica uma das mais interessantes que vi nos últimos tempos, ainda que ela acabe tornando o jogo ainda mais desafiador.
Será muito legal se um dia algum jogo combinar esta mecânica de envelhecimento com a de morte permanente, mas isso é assunto para outra ocasião.
Comentei sobre este jogo porque ele é ótimo para ilustrar como dentro dos games existem diversas formas de abordar o envelhecimento dos personagens.
No mundo dos games, envelhecer é literalmente opcional.
O Que Virá Depois do Envelhecimento dos Personagens?
Será que estamos caminhando para uma despedida de alguns de nossos personagens queridos, da mesma forma que está acontecendo nos filmes?
Não sabemos que solução os roteiristas encontrarão, ou se simplesmente irão aposentar personagens antigos, enquanto tentam criar personagens novos e mais identificados com uma nova geração de jogadores.
Teasers de Street Fighter 6 já trouxeram prévias de divertidas interações de combate entre um Ryu mais maduro, com um jovem (e insolente) Luke, dando indícios de uma movimentação neste sentido.
Parece pouco provável que um dia a Capcom lance um Street Fighter sem Ryu, mas nunca se sabe.
O fato é que seria muito triste termos que nos despedir de personagens que tanto gostamos nos games, dificultando que as próximas gerações os conheçam.
Reboots, viagens no tempo, que façam qualquer coisa para manter nossas franquias a personagens vivos.
Em minha humilde opinião, o mundo dos games não precisa tomar essa tristeza do mundo real para si.
Grande parte de sua força reside justamente no fato de não ter de ficar preso à realidade.
A criação de universos e personagens é um enorme desafio, especialmente num mundo onde tudo já parece ter sido criado, mas o desafio de encontrar alternativas que ajudem a manter personagens clássicos em alta, parece ser tão grande quanto.
Felizmente, de um modo geral, ainda parece improvável que vejamos nossos personagens favoritos do mundo dos games chegando à aposentadoria num futuro próximo.
E quem sabe um dia a tecnologia permita que até mesmo no mundo dos filmes, atores clássicos sejam trazidos virtualmente de volta à vida.
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.