9 Ingredientes Para Criar Um Beat ‘Em Up Perfeito

Será que existe uma fórmula mágica para a criação de um beat ‘em up épico?
Após pensar bastante sobre isso, formulei a lista que trago a seguir.


Numa época em que até mesmo eu ainda era muito novo, os beat ‘em ups tomaram conta dos fliperamas.

Todo mundo queria colocar seus personagens num jogo desses!

Assim permaneceu, ao menos até que os jogos de luta tomassem conta de tudo.

O gênero acabou sofrendo uma espécie de saturação, sendo deixado de lado por muito tempo.

Foi quase esquecido no início da era dos jogos em 3D!

Felizmente, entre altos e baixos, ele nunca sumiu de vez.

A paixão e a união dos fãs manteve acesa aquela faísca, que ficou ali esperando para se tornar novamente uma fogueira.

Foi somente em 2020, com a chegada de Streets of Rage 4, que os beat ‘em ups deram sinais de um ressurgimento.

Screenshot de Streets of Rage 4, o beat 'em up que iniciou uma nova era.

Claro, houveram bons jogos antes dele.

Mas foi a primeira vez em muito tempo que um estúdio investiu pesado num jogo do gênero.

Ainda assim, numa geração onde muita gente sequer conhece o bom e velho multiplayer local, poucas são as empresas que fazem uma aposta dessas.

Felizmente ainda temos os desenvolvedores independentes, criando excelentes jogos e abraçando esta demanda.

E os incríveis modders, claro!

A nós, simples mortais, só resta torcer para que um dia o gênero retorne ao topo.

Num dia desses, após umas partidas de Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, todas essas coisas se misturaram em minha mente.

E comecei a pensar sobre o que faz um beat ‘em up ser realmente bom.

Quais elementos são indispensáveis?

Existe algum tipo de fórmula que deveria ser usada em qualquer jogo do gênero?

Depois de muito pensar em todos os jogos que joguei, tive a ousadia de listar quais são estes elementos indispensáveis.

O que me faz não conseguir largar um beat ‘em up?

O que torna atemporal um jogo deste gênero?

E aqui estamos nós com uma lista, o resultado desta reflexão.

Quem sabe ela se torne uma espécie de checklist para alguém que queira desenvolver um jogo do gênero.

Ou mesmo para o “eu do futuro”, se um dia vier a desenvolver meu próprio jogo.

A lista está em ordem de importância, começando por tudo aquilo que considero indispensável.


Definição de Beat ‘Em Up:

Jogo de ação onde o personagem que controlamos caminha por uma fase dividida em seções, enfrentando um grande número de inimigos em combates corpo a corpo.


Criando O Beat ‘Em Up Perfeito

1- Mecânicas de Combate

A espinha dorsal de qualquer beat ‘em up.

Aqui me refiro especificamente às mecânicas de jogo, não aos controles.

Parto do princípio que ter controles responsivos e bem ajustados seja um pré-requisito para qualquer jogo.

Que movimentos os personagens terão?

Será um jogo rápido ou cadenciado?

Haverão armas e itens arremessáveis?

Tudo isso precisa ser bem planejado e bem feito, levando em consideração variáveis como o tamanho dos cenários, por exemplo.

Streets of Rage 4 e Shredder’s Revenge modernizaram um pouco as coisas, trazendo mecânicas que flertam com aquilo que faz sucesso nos jogos de luta atuais.

É perfeitamente possível vencer usando somente golpes comuns, mas por baixo dos movimentos básicos existe uma outra camada de complexidade.

Algo que resulta em muitos combos, ou pelo menos em maior liberdade para improviso e controle de multidões.

Temos movimentos especiais, golpes que jogam os inimigos para o alto, outros que fazem o infeliz quicar como uma bola e assim por diante.

Seja no estilo clássico ou moderno, um conjunto sólido e refinado de mecânicas é a base de tudo.

1.2- Hitbox
Aqui vale criar um subitem para destacar a importância das hitboxes num jogo desse tipo.

Para quem não conhece o termo, hitbox é aquela “área imaginária” que delimita onde ocorre a colisão, a detecção do impacto de um golpe.

Disse que é uma área imaginária porque ela não é visível para o jogador, mas a máquina precisa ter isso muito bem definido para que o jogo funcione bem.

Como o ângulo de visão dos beat ‘em ups costuma ser um pouco diferente, este ponto exige atenção redobrada.

Já vi jogos promissores fracassarem por causa de hitboxes imprecisas.

Não vou conseguir explicar em detalhes sobre hitboxes aqui, mas se você não conhece e tem curiosidade de entender como funcionam, sugiro que procure no modo treino dos jogos de luta mais recentes.

Muitos deles estão vindo com uma opção para tornar a hitbox visível.


2- Impacto Das Pancadas

Sabe quando você acerta o adversário e parece que ao pressionar o comando você acertou um soco ou chute de verdade?

Aquela combinação entre o feedback visual e o sonoro, proporcional ao tipo e a força de cada golpe.

Algo parecido com o que ocorre num jogo de tiro por exemplo, onde cada arma transmite uma sensação diferente e atingir cada parte do inimigo causa uma reação distinta.

Aqui nos beat ‘em ups isso é igualmente importante.

O que fará o jogador continuar passando pelas mesmas fases sem enjoar, é a combinação entre as mecânicas do item 1, com a satisfação proporcionada pelo impacto de cada golpe.

É algo que foi melhorando com o tempo, tendo a implementação facilitada pela evolução da tecnologia.

Observe Streets of Rage 2 por exemplo, como cada golpe causa uma reação, cada efeito sonoro é atribuído para causar satisfação.

A ausência deste elemento não impede um jogo de ser bom, mas dificulta que se torne memorável.


3- Variedade de Cenários e Inimigos

Podemos começar pela variedade na parte visual dos cenários.

Fases diurnas, noturnas, em ambientes abertos ou fechados, e assim por diante.

Mas a variedade também é importante no formato das arenas, ou mesmo nos perigos que elas apresentarão.

Sair do padrão em que apenas caminhamos da esquerda para a direita.

Muitas vezes uma descida em diagonal já é o suficiente para diferenciar uma fase.

Particularmente gosto muito de cenários cheios de ameaças.

Aquela armadilha ou objeto que pode atingir nosso personagem ou os inimigos, como carros passando numa rua, por exemplo.

Ou mesmo o bom e velho buraco no cenário, que pode custar uma vida para quem der bobeira e cair nele.

Tem algo mais satisfatório que jogar aquele inimigo chato num buraco?

E por falar em inimigos, é importante caprichar na variedade deles.

Principalmente no que diz respeito aos padrões de ataque e comportamento.

Um inimigo mais rápido, outro que ataca de longe, um que seja simples e tenha função de te vencer pela quantidade e assim por diante.

Não precisa necessariamente ser uma variedade visual.

Se o orçamento for limitado e não der para criar muitos inimigos, é preferível que você apele para criar paletas de cores diferentes para um mesmo capanga.

O visual será o mesmo, mas quando ele estiver de roupa azul terá um padrão de ataque, quando estiver de roupa vermelha terá outro, de roupa verde virá com uma arma, etc.

Uma boa variedade de padrões de inimigos é importante para criar situações de jogo diferentes.

E evitará que você precise recorrer a recursos baratos como o “inimigo chiclete”.

Aquele infeliz que fica te seguindo sem nenhum amor próprio, sem nenhum recurso, só para aumentar artificialmente a dificuldade.

Como os beat ‘em ups não costumam ter muitas fases, é importante que exista uma boa variedade de cenários e situações de combate.


4- Personagens Bem Desenvolvidos

A qualidade dos personagens é fundamental para a criação do vínculo entre jogo e jogador.

Nem é preciso que o personagem tenha uma história profunda, um livro contando sua vida.

Se não for possível aprofundar o personagem, uma ficha de informações já basta.

O mais importante é que sejam carismáticos e apresentem diferenças consideráveis entre si.

Pode até ser um design viajado, desde que confira personalidade.

O mesmo vale para os inimigos e chefões!

Um herói é tão bom quanto os vilões permitem que ele seja.

O que teria sido do Batman sem o Coringa?

Do Homem-Aranha sem o Doutor Octopus, Venom e outros?

Invista nos vilões o mesmo nível de esforço que investiu nos heróis.

Capricha aí, cria uns caras bem macabros, e se possível crie fichas com informações para eles também.


5- Ambientação

Um tema bem definido favorece muito a criação de uma ambientação memorável.

Mas a ambientação vai muito além de um tema futurista ou nostálgico, por exemplo.

Novamente é fundamental que o espetáculo visual trabalhe em conjunto com o departamento sonoro.

Uma boa ambientação faz com que você sinta vontade de morar dentro de um jogo.

Tipo aquele discreto som de chuva que casa com a trilha sonora, enquanto você ouve os sons dos socos e chutes.

Ou aquela apresentação visual que faz com que você quase possa sentir o cheiro do local.

Meu exemplo favorito no quesito ambientação é Streets of Rage 2, um jogo de 1992 que continua tendo mais alma que muitos jogos modernos.


6- Trilha Sonora

O mínimo que se espera da trilha sonora de um beat ‘em up é que ela não seja enjoativa.

Mas se ela for bem feita de verdade, pode praticamente se tornar um personagem do jogo!

Já destaquei a importância dos efeitos sonoros nos itens anteriores, mas aqui enfatizo o quanto uma boa trilha é importante num jogo do gênero.


7- Conteúdo

Você desenvolveu ótimas mecânicas, pensou em todos os detalhes e deu aquele polimento impecável, mas a versão final tem apenas três fases!

Por mais que o jogo deixe aquele gosto de quero mais, é preciso que ele tenha duração suficiente para que o jogador leve as mecânicas ao limite.

Modos de jogo diferentes podem ajudar neste sentido, mas nada como um conjunto bem planejado de fases.


8- Multiplayer

Não há como ignorar o modo multiplayer num beat ‘em up.

Nem precisa ser multiplayer online, um cooperativo local está de bom tamanho.

Mesmo que você prefira jogar sozinho a maior parte do tempo, um dia vai se divertir brigando com o amigo que roubou seu frango assado.


9- Respeito Aos Clássicos

Se o jogo for uma sequência, ou fortemente inspirado num clássico, é importante que ele respeite a obra original.

Nada de distorcer personagens e tirar sarro de clássicos do passado.

Mudar demais o estilo visual também é arriscado, ainda que seja possível se safar, caso o novo visual seja muito bem feito.

Na minha opinião esta é uma dica que vale para jogos de todos os gêneros, mas é especialmente verdade no mundo dos beat ‘em ups.

Não por saudosismo, nem porque os jogadores clássicos se sentem “donos” da propriedade intelectual, mas porque a familiaridade é importante em todos os sentidos por aqui.

Talvez porque o gênero em si seja clássico, seja de nicho.

Se o jogo for original, ou trouxer uma abordagem nova dentro do gênero, não há mal nenhum em liberar a criatividade, distorcer e arriscar.

Mas se ele tiver algum vínculo com os clássicos, ignorar o passado certamente é má ideia.

O jogo dos Battletoads (lançado em 2020) é um bom exemplo de que isso deve ser levado a sério.

Em resumo, se vai fazer algo novo com uma franquia clássica, respeite os clássicos.

Se vai fazer algo novo com personagens novos, viaje à vontade.


Temos Uma Fórmula Mágica?

Não há como garantir o sucesso de um jogo no mainstream, mas arrisco dizer que se um beat ‘em up focar em todos estes pontos, ele se tornará um clássico dentro do gênero.

É interessante observar que embora exija bastante de aspectos ligados à jogabilidade, podemos dizer que um beat ‘em up é menos exigente no departamento gráfico.

Outra coisa muito interessante: este é um dos nichos mais bem definidos do mundo dos games.

Pode acreditar, se você produzir um bom jogo do gênero, o próprio público cuidará de encontrá-lo.

Sem que você precise gastar uma fortuna em divulgação.

Se eu fosse criar um jogo do gênero, apostaria num sistema de rotas alternativas.

Pelo menos duas rotas, sendo uma com fases mais “tradicionais” e outra com cenários mais perigosos.

Também incluiria opções como a de ligar e desligar as armadilhas dos cenários.

Quem nunca sonhou em criar seus próprios jogos, não é mesmo?

Mas me diga, o que achou dessa lista?

Concorda com tudo o que escrevi? Acrescentaria algo?

Lembrando que ela reflete apenas uma percepção pessoal, baseada em minha experiência como jogador.

Abraços e até a próxima!

2 comentários em “9 Ingredientes Para Criar Um Beat ‘Em Up Perfeito”

  1. Excelente lista, Barry!

    Quero reforçar o ponto 4, que fala sobre dar profundidade aos personagens. Lá nos anos 90, quando eu era criança e joguei o Streets Of Rage 1, uma das coisas que mais me fascinava era aquela ficha técnica do começo do jogo, que falava os hobbies e estilos marciais de cada um. Eram umas poucas linhas de diálogo, mas só o fato de saber que o Axel gostava de videogames e o Adam de bonsai já transformava eles em personagens bem mais amigáveis, logo de cara. O mesmo pode ser dito das fichas dos jogos da série King Of Fighters, se bem que, se não me engano, as fichas deles eram publicadas em livros oficiais, tipo artbooks e afins.

    E por sinal, que fichas! Vinha tudo, desde altura e peso até comida favorita e lugar de nascimento. Para quem curte essas informações, um prato cheio.

    1. Obrigado pelo comentário, Greg!

      É verdade, por maiores que fossem as limitações técnicas da época de Streets of Rage 1 (levando em conta os dias atuais), uma ficha já foi suficiente para dar camadas extras aos personagens.

      Uma coisa tão legal que continua funcionando mesmo hoje em dia, que temos espaço e recursos muito maiores.
      Simples, direto e cumpre sua função.

      Ainda mais num beat ‘em up, onde a história é um pano de fundo e a prioridade é sentar o braço em todo mundo.

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