Comprei um Xbox…360 – Por Greg Vendramini | (Xbox 360)
No momento de publicação deste texto acaba de começar o ano de 2023, e poucos meses atrás, eu comprei um Xbox 360.
Não porque a ocasião apareceu, e não porque eu não tinha meios para comprar outro videogame mais recente.
Eu comprei o Xbox 360 porque eu queria, e enquanto voltava andando para casa com a sacola embaixo do braço e uma preocupação danada com a chuva, comecei a refletir.
Há quem diga que foi saudosismo, mas eu garanto que não nutro simpatia nenhuma pelo
console da Microsoft.
No período do 360 (2005-2016) eu tive um Wii, portáteis, e amigos com os quais eu ocasionalmente jogava outros consoles.
Mas então, o que leva uma pessoa, mais de 10 anos depois do auge de um videogame, ir atrás dele?
Para responder essa pergunta, primeiro temos que nos perguntar quando um jogo começa a ser considerado “retro”.
Qual a diferença entre um jogo “velho”, e um jogo retro?
É só uma palavra charmosa para botar um requinte no que é antigo?
Para alguns é um jeito carinhoso de se referir ao que veio primeiro, “aos clássicos”, como você já deve ter ouvido.
Mas quando eles se separam?
Um jogo de 5 anos atrás, se da anterior geração? É retro? E um jogo de 10 anos atrás? É quando o suporte é finalizado?
O Tibia foi lançado em 1997 -o que claramente o colocaria na faixa de jogo antigo- mas tem suporte até hoje.
E aí? É retro ou não é?
Como toda discussão desse tipo, é claro que não há uma resposta absoluta.
Normalmente, o principal elemento que faz um jogo ser considerado retro é que ele seja
antigo.
Não “antigo do ano passado”, nem “do começo dessa geração”. Antigo tipo “Eu não tenho como botar isso no meu videogame atual”.
Geralmente isso quer dizer que o jogo é de uma ou duas gerações passadas, e quanto mais antigo, mais complicado será jogar.
Os consoles não são como antes, aparelhos antigos são difíceis de encontrar em bom estado, faltam peças, os conectores da TV são diferentes…
E começamos a nos perguntar se vale a pena ter que comprar um adaptador que sirva para colocar os famosos “garfinhos” dos 16 bits em uma TV com entrada DisplayPort.
Afinal, para que essa trabalheira toda, se com 5 clicks eu tenho aqui o novo God Of War Ragnarok, na palma da minha mão e em glorioso 4k?
O que nos faz ir atrás de jogos de 15 ou 20 anos atrás, se objetivamente os de hoje são melhores, não é apenas a nostalgia, mas sim o sentido “clássico”.
Da mesma forma que lemos livros do século passado e escutamos música de 300 anos atrás para entender o que está sendo escrito e tocado hoje, quem vivencia Tartarugas Ninja Turtles in Time vai entender muito mais sobre todo o excelente produto final que foi o Shredder’s Revenge lançado no verão de 2022 (e sobre o qual o nosso querido Bigode dedicou lindas palavras aqui).
Claro que não é necessário que uma pessoa tenha que viver toda a história dos videogames para ser considerado membro do clube, e inclusive, quem defende essa atitude está ajudando a matar o hobby.
Quem nasceu em 2005 e não viveu a infância com 16 bits é tão gamer quanto eu e você, que somos velhos a ponto de temer o bug do milênio de 1999.
Quem nasceu em 2005 e não viveu a infância com 16 bits é tão gamer quanto eu e você, que somos velhos a ponto de temer o bug do milênio de 1999.
Como eu disse antes, não é saudosismo também: Gostamos de videogames antigos que nem sequer sabíamos que existiam às vezes.
Uma pessoa que nunca teve um PlayStation nos anos 90 pode escutar tantas coisas boas sobre o Final Fantasy VII que, anos depois, a levam a ir pesquisar sobre o jogo e finalmente jogá-lo, seja no console original ou um dos muitos ports e versões disponíveis.
Talvez você esteja se perguntando o que eu fui fazer atrás de um 360 em 2022, nesse ponto do artigo.
Vivemos hoje um momento crítico da indústria, onde muitos jogadores estão insatisfeitos com o panorama atual.
Jogos que saem pela metade, conteúdo básico reservado para DLCs caríssimos, baixo controle de qualidade, condições de trabalho questionáveis para os desenvolvedores, e um largo etc.
Isso nunca significa que tudo que está sendo lançado é ruim, nem que tudo que já foi lançado é bom.
Se alguma vez você acha que os jogos de antes eram melhores, abra uma lista de todos os jogos lançados para o SNES e comece a passar raiva, porque por cada Super Mario World, são 20 jogos
terríveis que você jamais ouviu falar.
E por um bom motivo (e é o que me leva ao 360, dessa vez de verdade): Existe uma extensa curadoria.
O motivo pelo qual você lembra do Super Mario World e não dos 350 clones genéricos dele, é que ao longo dessas quase 4 décadas que se passaram, nós, como jogadores, vamos lembrando do que é bom e escondendo o que é ruim.
Não é que “antigamente é que era bom”, é que você está vendo o que era bom de antigamente.
Some isso à nostalgia que sentimos da época sem tantas responsabilidades e é claro que o nosso cérebro fica com vontade de voltar para 1997. Ou para 2007.
Ou até para 2017, para alguns de vocês. De nós. Eu. Eu que quero voltar para 2017.
Quando eu vejo um console como o 360 hoje, eu não vejo o famoso problema dos anéis vermelhos que acabava com os videogames, nem as tóxicas salas de chat do Call Of Duty, nem as centenas de jogos terríveis que inundam as estantes de lojas de jogos usados.
Eu vejo as franquias já consagradas e apreciadas, prontinhas para serem jogadas sem longos patches de 20gb, eu vejo um console em que eu posso sentar e começar a jogar em alguns minutos sem uma atualização nova que dure 15 minutos.
Quando eu vejo o meu 360, eu tenho o conhecimento de que posso começar e terminar a saga Dead Space, sem a preocupação de “será que o próximo sai para esse console ainda?”.
Eu vejo um mercado que, se bem continua bem caro, é infinitamente mais acessível do que o mercado de jogos atuais.
Antes de comprar o console, separei o dinheiro equivalente a dois jogos de lançamento, e com esse valor, fui capaz de comprar quase 30 jogos para o 360.
A maioria excelentes, por sinal.
Tudo graças a aquela curadoria que mencionei antes, que evita que eu pense “Ai ai, será que esse Rambo The Game é bom? Vou pedir de Natal.”
Nunca esqueça que vivemos em uma sociedade que tenta todos os dias marcar o ritmo ao qual devemos ir.
As propagandas e a constante comparação com os amigos pelas redes sociais fazem com que nos sintamos mal se não temos o último console, estamos jogando os últimos jogos, e participando do que está rolando naquele momento.
Quando isso acontecer, lembre-se de que o importante é se divertir com o jogo e não ficar se justificando aos outros.
Pode ser que ninguém fique sabendo que você zerou Advance Wars 2, mas eu te garanto que você vai se divertir muito no processo.
Se você tem a chance, vai atrás de algum console um pouquinho mais antigo, e tente descolar uns jogos da época também.
Você vai se surpreender com o quanto vai se divertir assim que botar o celular em silêncio e não comparar o seu progresso com o dos outros na internet, porque se o jogo é bom, ele diverte hoje, ontem, e sempre.
Porque sabe como é, né? Antigamente é que era bom.
Créditos:
Texto e revisão por Greg Vendramini
Siga o Greg no Twitter: @Greg_Vendramini
Um agradecimento especial do Bigode ao Greg, por compartilhar este ótimo texto aqui na Bigode Games. É uma verdadeira honra!
A paixão por videogames surgiu à primeira vista, em algum lugar entre as gerações 8 e 16 bits
Falar sobre games sempre foi uma parte da diversão, eu e meus amigos passávamos muito tempo jogando e conversando sobre nossos jogos, na antiga locadora do Bigode, em casa e na escola.
Mesmo num mundo cada vez mais digital, encontrar pessoas apaixonadas por videogames e falar sobre nossos jogos continua sendo importante.
Decidi então fundar a iniciativa Bigode Games, um lugar onde falamos sobre o melhor que os videogames podem nos proporcionar.
Gostei desse rapaz, espero que ele apareça por aqui algumas vezes mais! 😀
Eu também!
Escrita afiada, feita com talento.
Esse texto claramente saiu do coração!